São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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MISSÃO NO CARIBE

General abre inquérito sobre o caso

Policial haitiano acusa soldados brasileiros de espancamento

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Internado num hospital de Porto Príncipe, o policial haitiano Jean Macion acusa soldados brasileiros de o terem espancado anteontem à tarde, durante um ponto de bloqueio montado na região central da capital. O general Américo Salvador de Oliveira, comandante da força militar brasileira, determinou a abertura de um inquérito para apurar o incidente.
"Ordenei a abertura de um inquérito para esclarecer as condições nas quais o fato ocorreu e espero que isso não venha a perturbar o trabalho que a Brigada [brasileira] e a Polícia Nacional Haitiana estão realizando para melhorar a segurança de Porto Príncipe", diz a nota, dirigida ao chefe da polícia haitiana, Léon Charles.
Ainda de acordo com a nota do general brasileiro, "a deterioração das relações entre as duas instituições não interessa senão às pessoas ou entidades que se beneficiam da crescimento da criminalidade na capital haitiana".
Segundo relato do policial a uma organização de direitos humanos obtido pela Folha, ele estava dirigindo seu carro para sua casa anteontem à tarde, quando foi parado por soldados brasileiros num ponto de bloqueio.
Sempre de acordo com esse relato, ele mostrou sua identificação policial, mas foi retirado do carro e espancado. Ele teria se machucado no braço, na pernas e no rosto, mas sem gravidade.
Já o serviço de comunicação social da Brigada Haiti deu uma versão diferente. Segundo uma nota de esclarecimento, o motorista tentou ultrapassar a barreira montada, mas "foi bloqueado por dois soldados que se colocaram à frente do carro".
Macion teria se negado a se identificar e a sair do carro, "tendo sido, então, usada força moderada por parte dos militares". Quando a sua arma foi encontrada dentro do carro, ele se identificou como policial. Em seguida, os militares suspenderam a revista, ainda de acordo com a nota.
A missão brasileira afirma ainda que todas as regras de engajamento previstas pela ONU foram respeitadas.
Segundo a representação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no país, uma ambulância da Cruz Vermelha haitiana recolheu o policial às 15h35. Nas primeiras informações colhidas no local, ele apresentava traumatismos nas costas.
Logo depois do incidente, houve um pequeno protesto contra os soldados brasileiros. De acordo com o coronel Luiz Felipe Carbonell, responsável pela comunicação social da missão brasileira, a manifestação foi incentivada por cerca de 20 policiais que chegaram ao local depois do incidente.
"Não é possível dizer se foi uma armação", disse Carbonell à Folha, por telefone.
Segundo ele, por causa dos protestos, a missão brasileira decidiu desmontar o ponto de bloqueio e se retirar do local.
Desde anteontem à noite, o incidente passou a ser amplamente divulgado pelas rádios locais de Porto Príncipe, muitas vezes em tom crítico contra a Minustah (Missão da ONU de Estabilização no Haiti).
Ontem à tarde, cerca de 50 pessoas voltaram a protestar no local do incidente, gritando "abaixo a Minustah" ao avistarem um carro da missão da ONU.
O incidente prejudica a imagem da Minustah, que vem sendo criticada por não impedir a onda de violência na capital haitiana, que já deixou dezenas de mortas desde o final de setembro. Nesse período, a missão brasileira já se envolveu em vários tiroteios -um soldado foi ferido de leve.
A Folha tentou localizar um porta-voz da polícia haitiana, mas ninguém foi encontrado para comentar o assunto.


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