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MISSÃO NO CARIBE
General abre inquérito sobre o caso
Policial haitiano acusa soldados brasileiros de espancamento
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Internado num hospital de Porto Príncipe, o policial haitiano
Jean Macion acusa soldados brasileiros de o terem espancado anteontem à tarde, durante um ponto de bloqueio montado na região
central da capital. O general Américo Salvador de Oliveira, comandante da força militar brasileira,
determinou a abertura de um inquérito para apurar o incidente.
"Ordenei a abertura de um inquérito para esclarecer as condições nas quais o fato ocorreu e espero que isso não venha a perturbar o trabalho que a Brigada [brasileira] e a Polícia Nacional Haitiana estão realizando para melhorar a segurança de Porto Príncipe", diz a nota, dirigida ao chefe
da polícia haitiana, Léon Charles.
Ainda de acordo com a nota do
general brasileiro, "a deterioração
das relações entre as duas instituições não interessa senão às pessoas ou entidades que se beneficiam da crescimento da criminalidade na capital haitiana".
Segundo relato do policial a
uma organização de direitos humanos obtido pela Folha, ele estava dirigindo seu carro para sua casa anteontem à tarde, quando foi
parado por soldados brasileiros
num ponto de bloqueio.
Sempre de acordo com esse relato, ele mostrou sua identificação
policial, mas foi retirado do carro
e espancado. Ele teria se machucado no braço, na pernas e no rosto, mas sem gravidade.
Já o serviço de comunicação social da Brigada Haiti deu uma versão diferente. Segundo uma nota
de esclarecimento, o motorista
tentou ultrapassar a barreira
montada, mas "foi bloqueado por
dois soldados que se colocaram à
frente do carro".
Macion teria se negado a se
identificar e a sair do carro, "tendo sido, então, usada força moderada por parte dos militares".
Quando a sua arma foi encontrada dentro do carro, ele se identificou como policial. Em seguida, os
militares suspenderam a revista,
ainda de acordo com a nota.
A missão brasileira afirma ainda
que todas as regras de engajamento previstas pela ONU foram
respeitadas.
Segundo a representação do
Comitê Internacional da Cruz
Vermelha (CICV) no país, uma
ambulância da Cruz Vermelha
haitiana recolheu o policial às
15h35. Nas primeiras informações colhidas no local, ele apresentava traumatismos nas costas.
Logo depois do incidente, houve um pequeno protesto contra os
soldados brasileiros. De acordo
com o coronel Luiz Felipe Carbonell, responsável pela comunicação social da missão brasileira, a
manifestação foi incentivada por
cerca de 20 policiais que chegaram ao local depois do incidente.
"Não é possível dizer se foi uma
armação", disse Carbonell à Folha, por telefone.
Segundo ele, por causa dos protestos, a missão brasileira decidiu
desmontar o ponto de bloqueio e
se retirar do local.
Desde anteontem à noite, o incidente passou a ser amplamente
divulgado pelas rádios locais de
Porto Príncipe, muitas vezes em
tom crítico contra a Minustah
(Missão da ONU de Estabilização
no Haiti).
Ontem à tarde, cerca de 50 pessoas voltaram a protestar no local
do incidente, gritando "abaixo a
Minustah" ao avistarem um carro
da missão da ONU.
O incidente prejudica a imagem
da Minustah, que vem sendo criticada por não impedir a onda de
violência na capital haitiana, que
já deixou dezenas de mortas desde o final de setembro. Nesse período, a missão brasileira já se envolveu em vários tiroteios -um
soldado foi ferido de leve.
A Folha tentou localizar um
porta-voz da polícia haitiana, mas
ninguém foi encontrado para comentar o assunto.
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