São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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"Rei da banana" tenta de novo no Equador

De oratória limitada, megaempresário usou fortuna para vencer primeiro turno e, pela terceira vez, disputar Presidência do país

"Alvarito", como é chamado pelos simpatizantes, aposta em paternalismo para obter apoio dos pobres e se diz "enviado de Deus" ao país

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO

O imprevisível eleitorado equatoriano provocou duas surpresas para o segundo turno presidencial. Do lado esquerdo, a novidade foi o economista Rafael Correa, 43, um novato na política, aliado do venezuelano Hugo Chávez. Do direito, está o "rei da banana" Alvaro Noboa, 56, insistente candidato que arrancou nas últimas semanas de uma posição intermediária nas pesquisas para o posto de mais votado no primeiro turno, há uma semana.
No dia 22 de agosto, Noboa e Correa estavam empatados em terceiro lugar, com apenas 12%, ambos atrás de Leon Roldós e Cynthia Viteri, de acordo com o instituto Informe Confidencial. Nas urnas, apurados 98,97% até sexta, o megaempresário havia obtido 26,83% dos votos válidos, contra 22,84% de Correa.
Os jornais e analistas equatorianos vinculam a subida de Noboa à intensificação dos gastos de campanha. De oratória confusa e limitada -tem dificuldades em pronunciar palavras grandes- baixo, gordo e de calvície avançada, o empresário adotou como estratégia na reta final uma intensa maratona baseada na mistura de showmício com distribuição de presentes, muitos e variados presentes.
Em seu comício da última quinta-feira em Guayaquil, por exemplo, Noboa entregou a um sapateiro US$ 500 de microcrédito, que terão de ser pagos com US$ 7 mensais, além de ter dado material de trabalho, como solas e borracha.
No comício, "Alvarito", como é chamado pelos simpatizantes, distribuiu ainda um computador a uma escola e cadeiras de rodas, duas de suas "doações" tradicionais.
"Ele não é populista, mas paternalista", disse à Folha o analista Walter Spurrier. "A população espera que ele faça bem as coisas porque é um bom patrão." Segundo ele, a principal base de votação de Noboa está nas camadas pobres, enquanto é rechaçado pela classe média.
Todas essas despesas -que incluem até propaganda no estádio sueco que abrigou o amistoso Brasil x Equador- fizeram de Noboa o que mais torra dinheiro, segundo estimativa da ONG Participação Cidadã. Foram US$ 2,47 milhões só em anúncios em meios de comunicação. Em segundo lugar, Correa, com US$ 1,75 milhão.
A gastança de Noboa ocorre com relativa impunidade. Em meados de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nomeado pelo Congresso, congelou a conta da campanha por supostamente ter superado o limite de US$ 2,75 milhões, mas a medida já foi revogada.
Além dos presentes, Noboa costuma evocar a religião -diz que é o "enviado de Deus ao Equador" e reza o Pai Nosso depois de discursar.
Também não faltam propostas irreais. A mais conhecida é a de construir anualmente 300 mil casas -isso num país pobre de 12 milhões de pessoas.
"Nosso plano [de habitação] conseguirá US$ 3 bilhões ao ano para a construção, quando a China pede US$ 1 bilhão para cada edifício. Assim, quero lhes mostrar como se pode construir casas para os equatorianos. Glória a Deus e viva o Equador", discursou Noboa, em Guayaquil, sua cidade natal.
Nem só de idéias malucas vive Noboa. Favorável a um acordo comercial com os EUA, defende ainda a atração de investimentos estrangeiros, entre as quais as petroleiras, principal atividade econômica do país.

Herança paterna
Dono de 110 empresas, entre as quais o carro-chefe, Companhia Bananeira Noboa, o potencial "Berlusconi equatoriano", como lhe chama a revista "The Economist", herdou sua fortuna de US$ 1 bilhão do pai, Luis Noboa, que nos anos 1950 e 1960 fez dinheiro com a banana e transformou o Equador no principal produtor mundial.
À morte de Noboa, há doze anos, sucedeu uma ruidosa disputa entre os irmãos pela fortuna do pai. Alvaro conseguiu ficar com a empresa bananeira, o que lhe rendeu o rompimento com parte dos irmãos e uma longa batalha judicial.
A entrada na vida pública ocorreu pouco após a morte do pai, por meio do presidente Abdalá Bucaram, eleito em 1996 e deposto no ano seguinte pelo Congresso por "incapacidade mental". Nesse curto período, Noboa presidiu a Junta Monetária do Equador.
Em 1998, disputou a Presidência pela agremiação que havia fundado, o Partido Renovador Institucional Ação Nacional (Prian), mas perdeu no segundo turno para Jamil Mahuad. Quatro anos depois, perdeu de novo na segunda volta, desta vez para Lucio Gutiérrez.


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