São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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Paris quer sistema self-service de carros

Idéia é permitir que parisienses retirem um automóvel em uma estação e o deixem em outro ponto da cidade, como já ocorre com a bicicleta

Programa Autolib usará veículos elétricos; custo de aluguel será de 4 por meia hora de uso, sem necessidade de fazer reserva prévia


CLARICE SPITZ
COLABORAÇÃO PARA FOLHA, EM PARIS

Depois da bicicleta, Paris se prepara para pôr em marcha um sistema de carros em self-service. A cidade, que inspirou o modelo de bicicletas públicas de São Paulo e Rio de Janeiro, planeja estender o serviço para as quatro rodas: a chamada Autolib.
Assim como no aluguel de bicicletas, o usuário poderá pegar o carro em uma estação de metrô ou trem deixá-lo em outro ponto da cidade. Ele não precisará retornar ao local de retirada nem fazer reserva. O programa, com previsão para começar em 2010, será ideal para pessoas que usam o veículo para curtas distâncias, como fazer compras e sair à noite, ou precisam ir ao aeroporto.
Autolib se baseia no conceito de "autopartage" ou compartilhamento de carro, que já é explorado por empresas privadas na capital francesa e em outros países, EUA, Suíça e Inglaterra. O "autopartage" consiste na locação horária, mas com reserva prévia e sem a mesma flexibilidade de devolução.
A idéia é que haja bastante rotatividade no uso do carro. O veículo é utilizado apenas quando necessário, por curto período, e em esquema de partilha. Para outros deslocamentos, o usuário tende a preferir o transporte público. Segundo estudo da Prefeitura de Paris baseado na experiência em outros países, em média, para cada veículo em "autopartage", sete particulares são vendidos.
Além de desafogar o trânsito, o projeto do prefeito Bertrand Delanoë -que sonha ser o candidato do Partido Socialista à Presidência- quer acrescentar à frota atual veículos menos poluentes: os carros serão elétricos. São estimados 4.000 veículos "limpos" e cerca de 1.400 estações na capital e na grande Paris. Os carros seriam recarregados nas estações.
Segundo os técnicos, a assinatura mensal deve custar de 15 a 20 (cerca de R$ 49 a R$ 66), além do pagamento de um valor a partir de 4 (cerca de R$ 13) por meia hora de uso. No caso do Vélib, o sistema de bicicletas, a assinatura é feita com cartão de crédito.

Oferta pública
A oferta pública será lançada em 2009. Empresas de locação de veículos como a Hertz, além de um consórcio formado por SNCF (companhia de trens), RATP (companhia de transporte urbano) Avis e Vinci, já declararam que estão no páreo. A Transdev e a Veolia, que estão no mercado de aluguel, também se interessaram.
O engenheiro Antoine Muguet, 28, utiliza há um ano um serviço de "autopartage" particular. Ele tem uma despesa mensal que varia de 40 a 200 (R$ 132 a R$ 662) e que o isenta de preocupações com combustível, seguro ou estacionamento. "No meu caso, não vale a pena comprar um carro", diz.
Para o sociólogo Bruno Marzloff, presidente do Grupo Chronos, que estuda fenômenos de mobilidade urbana, existe uma mudança de conceito. "O carro é menos visto como status social e passa a ser entendido como um serviço."
Apesar dos benefícios para o ambiente, os veículos elétricos não dispõem de grande autonomia. Eles podem rodar de 80 km a 150 km sem necessidade de recarga, segundo a prefeitura de Paris.
O professor Laurent Delaby, 30, que tem um carro próprio, mas que usa sobretudo sua bicicleta no dia-a-dia, diz não se considerar interessado por Autolib. "Eu me sinto um pouco ligado ao meu carro", diz.
Marzloff afirma que a perda do poder aquisitivo e a crise financeira podem acelerar a transição para Autolib. "Nós ainda estamos impregnados de um modelo patrimonial, em que se dispõe do veículo em tempo integral. É preciso dar um passo cultural em que eu abro mão do carro e me organizo de modo diferente."


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