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Organizações são mal necessário, diz especialista
DE GENEBRA
David Lewis, professor de
política social na London
School of Economics, avalia
que as ONGs estão em baixa,
mas são um "mal necessário".
Para ele, as entidades pecam
por um excesso de desorganização que atrapalha sua eficácia, mas ao mesmo tempo são
úteis ao complementar o trabalho do Estado com projetos
mais ousados e diversificados.
FOLHA - Qual o problema de coordenação das ONGs?
DAVID LEWIS - Nada de novo.
Acho que embora as pessoas
que trabalham nas ONGs geralmente sejam movidas pelo altruísmo, as ONGs como instituição são individualistas e autocentradas. Elas competem
por fundos quando não estão
em campo, e por isso precisam
mostrar que estão fazendo um
determinado trabalho.
Por outro lado, as ONGs têm
estruturas e focos diferentes, e
podem ousar mais meio que
por serem mais amadoras.
Dentro disso, a falta de coordenação pode se tornar importante para elas às vezes.
FOLHA - Como assim?
LEWIS
- As pessoas costumam
pensar "se estou dando US$ 10
a uma ONG, quero ver US$ 10
chegarem às pessoas em necessidade". Elas não querem saber
que 20% vai para custos administrativos. Muita gente que
doa para as ONGs é pouco realista, e há uma certa pressão para que elas não gastem dinheiro
em administração. Muitas vezes as ONGs acabam sendo vítimas das expectativas.
FOLHA - Na lista de doadores no site da ONU, a fração de donativos às
ONGs é bem menor que a entregue
à ONU ou gerenciada pelos governos doadores. Há desconfiança?
LEWIS
- Acho que as ONGs hoje
não são mais tão populares.
Nos anos 60 e 70, ninguém falava em ONG -claro, tinha algumas, mas elas não eram um
ator importante nas ações humanitárias. Aí nos anos 80 foram "descobertas" e passaram
a ser consideradas a solução de
muitos problemas, pois era a
época do neoliberalismo, de enxugar o Estado.
Já no fim dos anos 90, elas
começaram a sair de moda, em
parte porque sua performance
não atendia às expectativas, em
parte porque os doadores passaram a apoiar mais ações governamentais novamente.
Também acho que as pessoas
passaram a se preocupar com a
falta de prestação de contas.
Hoje os sentimentos são contraditórios sobre as ONGs. Elas
não são mais consideradas organizações honradas, mas mais
como um "mal necessário" na
falta de alternativas.
FOLHA - Como elas tentam superar
essas limitações?
LEWIS
- O que algumas têm feito é adotar um acordo sobre padrões. Hoje o mais conhecido é
o Sphere, que estabelece padrões em termos de transparência, qualidade etc. Outra
coisa é que emergiram novos tipos de ONG, como os Médicos
Sem Fronteiras, mais pragmáticas. Eles vão lá e só querem
prestar cuidados médicos, sem
se meter em política.
FOLHA - Como escolher para quem
doar? Há parâmetros?
LEWIS
- Acho que o único parâmetro é que elas prestem contas. Como doador, você tem de
pedir que elas abram seus balanços. Mesmo assim é difícil.
Você vai procurar quem alimenta mais gente com US$ 100
por dia no Haiti ou vai olhar como as pessoas estarão um ano
após o início da ação?
FOLHA - As pequenas ONGs estão
atuantes no Haiti?
LEWIS
- Há uma mistura. Há
umas muito pequenas, semana
passada teve um grupo de pessoas que embarcou para o Haiti
para tirar gente de escombros.
Pode não ser nem uma ONG
formal. E na outra ponta há essas ONGs superprofissionais,
que parecem corporações.
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