São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

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Italianos rejeitam eleição antecipada

Só 34% querem dissolução do Parlamento, diz "La Repubblica"; Prodi, o premiê demissionário, pode voltar ao cargo

Líderes dos partidos da aliança que sustentava o governo concordaram em apoiar a recondução de Prodi ao seu posto

DA REDAÇÃO

Pesquisa encomendada pelo jornal "La Repubblica" indica que só 36% dos italianos querem a dissolução do Parlamento e a convocação de legislativas antecipadas, hipótese que favoreceria o ex-primeiro-ministro conservador Silvio Berlusconi.
Ainda pela pesquisa, 54% querem que o premiê demissionário, Romano Prodi, seja reconduzido à chefia do governo -alternativa que se tornou ontem à noite a mais provável, já que os líderes dos partidos da coalizão de centro-esquerda, que dava sustentação a Prodi, concordaram em apoiar sua recondução ao cargo.
Uma outra alternativa era que o posto de premiê fosse dado a um dos aliados dos partidos da base de Prodi.
Romano Prodi renunciou anteontem, depois que o Senado rejeitou suas propostas de manter os 1.900 soldados italianos no Afeganistão e permitir a ampliação da base americana em Vicenza.
O presidente Giorgio Napolitano prossegue hoje as consultas com partidos para definir uma solução para a crise que derrubou o moderado premiê, um católico e ex-presidente da Comissão Européia, 281 dias depois de empossado.

"País de malucos"
"Somos um país de malucos", afirmou Massimo d" Alema, vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores, em referência ao fato de o premiê ter caído numa votação relativamente secundária, se comparada, por exemplo, à aprovação do Orçamento, com cortes de 33,4 bilhões para o reequilíbrio das contas públicas.
O mercado não chegou a reagir à crise, com a Bolsa de Milão em alta de 0,58%. Luigi Speranza, analista do banco BNP Paribas, afirma que, diante da grande possibilidade de Prodi ser reconduzido, o risco de impacto é bastante reduzido.
O próprio premiê demissionário conta com essa alternativa. Mas antes de se submeter a um voto de confiança ele quer um claro compromisso dos grupos que o apóiam.
A Associated Press lembra que na base de sustentação do gabinete conviviam partidários da dissolução da Otan, a aliança militar ocidental, e "ideólogos" que qualificavam o Hizbollah, grupo radical islâmico, de "vítimas de chavões".
Apenas se a recostura da aliança não tiver êxito, o presidente Napolitano poderá indicar para a chefia do governo o ministro do Interior, Giuliano Amato. O gabinete seria "técnico" e prepararia o país para eleições que poriam fim à legislatura bem antes de 2011.

Jogo de Berlusconi
Essa hipótese seria do agrado do ex-premiê Berlusconi (2001-2006), para quem "a Itália nunca teve e nunca terá uma maioria de esquerda".
O governo "técnico" faria uma reforma política que daria ao Senado o mesmo sistema de distribuição de cadeiras já existente na Câmara: o bloco majoritário passa a ter uma maioria ampliada e confortável. Prodi tinha a maioria de apenas um senador e foi derrubado pelo "não" de dois aliados.
"Esperemos que depois dessa experiência traumática a esquerda radical compreenda que o suicídio político não é do interesse de ninguém", afirmou D'Alema, que já foi premiê e líder do PSD, ex-Partido Comunista. Ele ainda criticou os deputados trotskistas.
A dissidência de esquerda do PSD, Refundação Comunista, convocou para o fim de semana manifestação pela permanência de Prodi, a quem, aliás, ela ajudou a derrubar por meio de um de seus senadores.
O que levou Gianfanco Fini, da conservadora Aliança Nacional, a qualificar a esquerda italiana de "esquizofrênica".


Com agências internacionais


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