UOL


São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bombardeios americanos ameaçam a cidade fundada no século 8º, que tinha 1 milhão de habitantes em 1200 e era a maior do mundo

Bagdá
História


Fundada em 762, Badgá, construída por 100 mil pessoas, foi o principal centro intelectual na Idade Média e é retratada nas sagas das "Mil e Uma Noites"


PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

"A Terra gira no fuso de Bagdá." A afirmação do historiador francês André Miquel poderia se referir à atenção que a capital desperta atualmente por causa dos intensos bombardeios dos últimos dias. Diz respeito, porém, ao papel que Bagdá desempenhou como principal centro intelectual do mundo a partir do século 9º e durante parte da Idade Média européia até que sucessivas invasões a devastassem e poupassem poucos vestígios da glória passada.
Situada junto ao rio Tigre, foi fundada em 762 pelo califa Abu Jafar al Mansur (o vitorioso, em árabe), que empregou 100 mil homens para construí-la, entre arquitetos, artesãos e outros trabalhadores de várias regiões islâmicas. Meio século depois, já era a maior cidade do mundo, com cerca de 1 milhão de habitantes. Só num de seus bairros, havia mais de cem livrarias. Seu nome original era "Madinat al Salam" (a cidade da paz), embora fosse mais conhecida como a cidade redonda.
Ao centro, ficavam o palácio do califa, chamado de ""o centro do Universo", e a grande mesquita, com quatro estradas que partiam de quatro portões.
Em pouco tempo, mercadores ergueram bazares e casas em torno do Portão (sul) de Basra e fizeram pontes para chegar à margem oriental do Tigre -onde está a maior parte da Bagdá moderna.
Entre os que não mediram esforços para ajudar Al Mansur a transformá-la no centro administrativo do mundo islâmico (o califa Abássida fez dela sua capital) estava o imã Abu Hanifa, cujo túmulo ainda pode ser visitado.

"As Mil e Uma Noites"
Bagdá atingiu seu auge de prosperidade na época do califa Harun al Rachid (786-809) -situação retratada em alguns episódios de "As Mil e Uma Noites".
De fato, o ciclo de histórias parece ter-se formado em Bagdá, citada diversas vezes nas histórias. Na nona noite em que Sherazade procura prolongar sua vida, descreve um mercado de Bagdá com abundância de alimentos vindos de locais como Damasco, Egito e Turquia. Em outra história, "Simbá, o Marujo", diz-se: "Na época do califa Harun al Rachid, havia, em Bagdá, um homem que...".
O fascínio que a cidade exerceu durante mais de quatro séculos (e muitos milênios antes, na realidade, pois o local que abriga a atual Bagdá atraiu viajantes e comerciantes desde a época sumeriana -por volta de 5.000 a.C.) deu lugar a uma onda de devastação no século 13.

Destruição
Quando os mongóis invadiram Bagdá, em 1258, o califa e boa parte de seus familiares foram degolados (além de 90 mil bagdalis). A cidade foi arrasada e o sistema de irrigação foi destruído. A localidade sofreu destino semelhante em 1400, com Tamerlão, e em 1524, com o xá persa Ismail.
Quando se tornou parte do Império Otomano, em 1534, a cidade caiu na obscuridade e na negligência durante vários séculos.
Só após o colapso do Império Otomano, no final da Primeira Guerra (1914-1918), a situação voltou a mudar e Bagdá se tornou a capital do Iraque tornado independente.
Nesse início do século 20, melhorias, a princípio modestas, foram promovidas.
Nos anos 70, o petróleo levou riqueza e desenvolvimento à cidade. Surgiram grandes áreas residenciais e um novo aeroporto, e uma extensa rede de estradas foi construída por empresas brasileiras. Vários museus da cidade, com expressivas coleções, foram reformados -o Qasr Azzuhur (palácio das flores), um palácio transformado em museu, foi destruído nos bombardeios de anteontem.

Guerra
Essa renovação dos anos 70, foi suspensa, porém, pela guerra contra o Irã (1980-88) e pela Guerra do Golfo (1991).
A guerra em curso neste momento deve abalar ainda mais a precária infra-estrutura da capital iraquiana, que abriga o comando central do país e alguns dos principais hospitais e centros de ensino do Iraque, como a Universidade de Bagdá (estabelecida em 1957) e a Universidade Al Mustansiriyya (fundada em 1963).

Com agências internacionais


Texto Anterior: Bush estimula terror, diz analista
Próximo Texto: Cidade disseminou filosofia grega
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.