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São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

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CHOQUE E PAVOR

Inimigo deve ser paralisado

Livro de 1996 fez a cabeça de Rumsfeld

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O livrinho que fez a cabeça do secretário de defesa americano Donald Rumsfeld foi publicado em 1996 e propõe uma maneira de reformular a maneira como os EUA lutam suas guerras no mundo pós-Guerra Fria.
As propostas do livro são polêmicas ainda entre os próprios militares, alguns dos quais resistiam às idéias de reforma de Rumsfeld. Mas, se a guerra terminar rapidamente no Iraque, as propostas terão sido em boa parte validadas.
"Choque e Pavor - Obtendo a Dominância Rápida" ("Shock and Awe - Achieving Rapid Dominance") foi escrito por dois ex-militares e hoje especialistas em estratégia, Harlan K. Ullman e James P. Wade. O livro foi publicado pelo Pentágono.
"A base da Dominância Rápida se baseia na sua capacidade de afetar a vontade, a percepção e a compreensão do adversário através da imposição de suficiente choque e pavor para obter os necessários objetivos políticos, estratégicos e operacionais do conflito ou crise que levou ao uso da força", diz um trecho do livro.
Os autores afirmam que o princípio do "choque e pavor" tinha sido compreendido tanto pelo grande pensador ocidental da guerra, o alemão Carl von Clausewitz, do século 19, como também pelo maior pensador oriental, o chinês Sun Tzu, do século 5 a.C.
"Na visão clausewitziana, "choque e pavor" eram efeitos necessários da aplicação do poder militar e eram destinados a destruir a vontade de um adversário de resistir", afirma o livro.
Já Sun Tzu escreveu que desarmar o adversário antes da batalha era o resultado mais eficaz que um comandante poderia querer.
A idéia central é paralisar a vontade do inimigo de reagir. "Isso significa que efeitos físicos e psicológicos devem ser obtidos."
Ou seja, é preciso não só "decapitar" fisicamente a liderança, como impedi-la de seguir e transmitir ordens. As forças podem ser menores, mas têm de ser ágeis e dotadas de mais tecnologia. Velocidade é fundamental.
A doutrina atual -e tradicional- das Forças Armadas é a da "força decisiva", cuja base é um poder avassalador ao qual o inimigo não teria como resistir.
As diferenças significam que, com Rumsfeld no comando, hoje são cerca de 150.000 soldados atacando, e não 250.000. Apenas uma divisão "pesada" constitui a ponta-de-lança do ataque, contra as quatro ou cinco que se achava que seriam o ideal pela doutrina da "força decisiva".
O avanço rápido anglo-americano no Iraque está justificando o otimismo de Rumsfeld, que, segundo a imprensa dos EUA, desde o começo planejava um ataque que seria mais semelhante a uma campanha do Afeganistão ampliada do que a uma repetição da Guerra do Golfo, de 1991.
Se a guerra terminar logo, o resultado deverá facilitar seus planos para tornar os militares mais ágeis e letais -às vezes contra o conservadorismo deles próprios.
São apenas 250 tanques M1A2 Abrams na unidade mais poderosa, a 3ª Divisão de Infantaria. Em 91, eram mais de 2.000.


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