São Paulo, quinta-feira, 23 de abril de 2009

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Rejeição a imigrantes ainda é forte

DO ENVIADO A JOHANNESBURGO

Sete carros de polícia patrulhavam ontem meia quadra em frente a uma escola infantil convertida em seção eleitoral em Alexandra, favela ao norte de Johannesburgo. O local é o epicentro dos conflitos xenófobos que deixaram mais de 60 mortos na África do Sul um ano atrás.
A cem metros de distância, em frente a outra seção, na biblioteca pública, cerca de 20 policiais armados checavam os documentos dos eleitores. "Esta é uma área muito volátil", disse Suki Magoro, presidente da seção.
Segundo moradores, apenas 20% da força de trabalho local está empregada, criando uma legião de jovens desocupados e prontos para descontar nos milhares de imigrantes ilegais que chegaram nos últimos anos.
"Eles pegam nossos empregos, especialmente na construção. Devem ir embora", disse Vusi, 28, que vive de bicos. "Há zimbabuanos e moçambicanos demais nesse país", afirmou Sipho, 35. Sem proteção legal ou de sindicatos, os imigrantes tendem a aceitar qualquer salário em ramos como construção e mineração.
Os conflitos começaram ali perto, quando gangues de desempregados de Alexandra cercaram o local Nobuhle, abrigo de imigrantes ilegais. Em dias, os confrontos se espalharam.
Mais difíceis de serem encontrados, há também os moradores que defendem o direito dos imigrantes de tentarem a vida no país. "Eles fazem o trabalho que os sul-africanos não querem fazer. Os sul-africanos são preguiçosos", disse Jack, 31.
Com a perspectiva de desaceleração econômica, há temor de novos conflitos. A maioria dos imigrantes deixou Alexandra, e o albergue Nobuhle hoje está abandonado. Muitos voltaram a seus países, mas outros procuraram áreas menos hostis, como o distrito de Soweto.
Ali, sentados sobre caixotes, os irmãos moçambicanos Raul e Luis hoje vendem tomates e batatas expostos sobre uma toalha. "Perdemos amigos e um primo nos conflitos", diz Raul. "Mas não temos escolha. Em Moçambique não conseguimos trabalho", afirma. (FZ)


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