São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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ÁSIA

Paquistão reage declarando "apoio moral" a separatistas na Caxemira, região disputada pelos dois países, que têm armas nucleares

Índia diz que "é hora do combate decisivo"

DA REUTERS

O premiê indiano, Atal Behari Vajpayee, disse ontem a seus soldados na fronteira com o Paquistão que havia chegado a hora de um "combate decisivo" com seu vizinho e adversário nuclear.
Os dois Exércitos voltaram a se enfrentar ontem na Caxemira, região que causou duas das três guerras entre os dois países. Segundo um funcionário do governo paquistanês, três civis morreram e vários ficaram feridos.
Os termos fortes usados por Vajpayee intensificaram temores de que a Índia esteja se preparando para uma guerra para forçar Islamabad a reprimir separatistas baseados no Paquistão.
Mas o Paquistão, em sua primeira reação significativa a uma série de ameaças após um ataque a um acampamento militar indiano na Caxemira que deixou 30 mortos na semana passada, prometeu combater "terroristas".
O compromisso foi uma renovação de uma promessa feita por Musharraf em 12 de janeiro e que, segundo a Índia, ele já quebrou.
"O governo não vai permitir que o território do Paquistão ou qualquer outro cuja defesa é responsabilidade do Paquistão seja usado para qualquer atividade terrorista em qualquer lugar do mundo", declarou o governo.
Mais cedo, Vajpayee dissera que sua visita a soldados em Kupwara (norte da Caxemira) deveria ser vista como um sinal. "Estejam preparados para sacrifícios. Mas nosso objetivo deve ser a vitória. Porque agora é a hora de um combate decisivo", afirmou ele.
A Índia também suspendeu as folgas de seus soldados e moveu ontem cinco navios de guerra para perto do sul do Paquistão.
Os rivais mobilizaram cerca de 1 milhão de soldados na fronteira desde que a Índia culpou o Paquistão por um ataque a seu Parlamento, em dezembro.
As tensões aumentaram após o assassinato, anteontem, de Abdul Gani Lone, um líder separatista moderado, em Srinagar.
Alguns líderes indianos culpam o Paquistão pela morte de Lone, enquanto o Paquistão acusou as "forças de ocupação" da Índia na Caxemira.
A declaração do Paquistão ontem, emitida após uma reunião do gabinete de Musharraf, repetiu sua promessa de dar "apoio moral, político e diplomático" ao que chama de luta legítima pela autodeterminação na Caxemira. Nova Déli acusa Islamabad de incitar e armar separatistas na parte da Caxemira controlada pela Índia.
O Paquistão também afirmou que responderia a um eventual ataque da Índia com "força total".
Analistas dizem esperar que a Índia dê à comunidade internacional, e particularmente aos EUA, mais tempo para pressionar Musharraf a reprimir radicais.
Mas, segundo alguns, o eterno risco de um ataque na Índia que force Nova Déli a contra-atacar -ou de uma reação fundamentalista contra Musharraf no Paquistão- está transformando a crise em um jogo perigoso de blefes.
"A ironia é que a hora do conflito pode não ser decidida nem pela Índia nem pelo Paquistão, mas por um terrorista", disse o analista indiano Brahma Chellaney.
Musharraf enfrenta oposição interna tanto por causa de sua promessa de combater o extremismo religioso quanto por ter apoiado a campanha dos EUA contra a Al Qaeda no Afeganistão.
Citando o risco de ataques por radicais, o Reino Unido retirou diplomatas do Paquistão e aconselhou britânicos a deixar o país.
O ministro das Relações Exteriores britânico, Jack Straw, irá à região na próxima semana, pouco antes do vice-secretário de Estado dos EUA, Richard Armitage.
"Essa é uma situação perigosa, e todos os nossos esforços têm o objetivo de encorajá-los a diminuir a tensão na fronteira", disse ontem o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld.
O comissário para Questões Externas da União Européia, Chris Patten, disse ontem em Islamabad que os dois países deveriam se unir contra o terrorismo.
Cerca de 45% da Caxemira é controlada pela Índia, 35%, pelo Paquistão e o resto, pela China.



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