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AMÉRICA LATINA
Às vésperas da eleição presidencial, guerrilha proíbe moradores de três cidades de irem votar e mantém ataques
Farc fazem ameaças a eleitores no sul da Colômbia
ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA
A quatro dias do primeiro turno das eleições presidenciais da Colômbia, aumentam os temores sobre possíveis ações de grupos armados ilegais para sabotar o pleito ou pressionar pela vitória de algum dos candidatos.
Ontem, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal grupo guerrilheiro de esquerda do país, lançou uma ameaça contra os habitantes de
três cidades do sul do país -Mesetas, La Uribe e Vista Hermosa-, proibindo-os de ir votar no domingo.
As três cidades fazem parte da
região de Caguán, na qual esteve
vigente por mais de três anos uma
zona desmilitarizada de 42 mil
km 2 (do tamanho da Suíça), controlada pela guerrilha, cedida como condição para o início de um processo de paz. O Exército começou a reocupar a região em fevereiro, quando o processo de paz
foi rompido.
Segundo o Exército, muitos moradores da região tiveram seus títulos de eleitor confiscadas pelos
rebeldes.
Nos últimos dias, as Farc também voltaram a atacar a infra-estrutura do país. Pelo menos duas
pontes ao norte do país foram dinamitadas.
O ministro do Interior, Armando Estrada, admitiu que a ameaça
de boicote das eleições pelas Farc
seja real, mas afirmou que o governo "está preparado para enfrentar essa ameaça".
O governo anunciou um plano
especial de contingência, com o
reforço da segurança. Segundo o
general Fernando Tapias, comandante das Forças Armadas, o
"Plano Democracia" contará com
praticamente todo o efetivo do
Exército (100 mil homens) e da
Polícia Nacional (80 mil).
Entretanto o governo reconhece
que a Força Pública não está presente em 180 dos 1.098 municípios
do país, o que poderia ameaçar a
votação nesses locais.
Respeito
Historicamente as Farc sempre
vinham respeitando a realização
das eleições no país, mas, neste
ano, dois fatores são considerados
pelos analistas como motivadores
da reação rebelde: o fim do processo de paz e a liderança nas pesquisas do direitista Alvaro Uribe,
que defende uma posição mais
dura contra a guerrilha.
Segundo as últimas pesquisas, o
dissidente liberal Uribe está próximo de vencer a eleição já no primeiro turno, com 49,3% das intenções de voto. Seu principal
concorrente, o liberal Horacio
Serpa (centro), tem 23%.
Anteontem, uma batalha campal nas ruas de um bairro periférico de Medellín, no Departamento
de Antioquia (governado por Uribe entre 1995 e 1998), entre guerrilheiros e o Exército, terminou
com a morte de nove pessoas, entre elas duas crianças.
Segundo as autoridades, os
guerrilheiros reagiram a uma
ação do Exército para inibir um
suposto plano dos rebeldes para
sabotar as eleições na região. A
guerrilha vem perdendo espaço
em Antioquia para grupos paramilitares de direita, que já expressaram indiretamente apoio a Uribe. Ele diz rechaçar esse apoio.
As AUC (Autodefesas Unidas
da Colômbia), principal grupo
paramilitar do país, prometeram
em um comunicado respeitar a
realização das eleições de domingo. Apesar disso, Serpa vem denunciando supostas pressões dos
paramilitares a favor de Uribe.
Após a eleição legislativa de
março, o número dois das AUC,
Salvatore Mancuso, disse que
35% dos eleitos seriam simpatizantes do grupo.
A OEA (Organização dos Estados Americanos), que observa a
eleição colombiana, manifestou
sua preocupação sobre a possível
ocorrência de atentados ou pressões de grupos armados.
Presença externa
O candidato Serpa afirmou ontem que, se eleito, não permitirá a
ação de tropas estrangeiras na Colômbia -referência aos planos
militares americanos para a região. "Pedirei cooperação, não intervenção", disse ele.
Serpa afirmou também que sua eventual administração "não adotará política de terra arrasada nem estatuto antiterrorista", declarando que prefere reduzir a
violência no país pelas vias legais.
Com agências internacionais
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