|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Empresários se afastam de casal Kirchner
Às vésperas de eleição legislativa, relação de Casa Rosada com setor chega a nível maior de divergência nos últimos anos
Ponto de inflexão foi recente
nacionalização de empresas argentinas por governo do venezuelano Hugo Chávez, aliado de Cristina e Néstor
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
O governo Cristina Kirchner
chega às eleições legislativas de
domingo na Argentina em meio
ao pior momento de sua relação com o setor empresarial.
O ponto de inflexão foi a onda de nacionalizações promovida em maio pelo governo de
Hugo Chávez (Venezuela), que
incluiu três empresas da Techint, a maior multinacional
argentina. Chávez é um dos
principais aliados políticos e
econômicos dos Kirchner.
A iniciativa gerou uma inédita reação em cadeia do setor,
com comunicados de câmaras
dos industriais, empresários,
banqueiros, exportadores e comerciantes. A UIA (União Industrial Argentina), a Fiesp local, pediu a defesa de "interesses legítimos" do país no exterior e rechaçou a entrada da Venezuela no Mercosul, já aprovada pela Argentina.
Embora tenha buscado se diferenciar do modelo chavista, o
governo subiu o tom contra a
Techint, com críticas de Cristina e de Néstor Kirchner, seu
marido e antecessor, hoje candidato a deputado.
No início deste mês, em outro episódio de afastamento do
empresariado, o governo impediu a divisão de dividendos pela
distribuidora de energia Edesur, que tem 25% das ações nas
mãos da Petrobras. "Que invistam antes de distribuir lucros",
afirmou o ministro do Planejamento, Julio de Vido.
Mas o sinal de alerta no setor
já havia sido aceso no ano passado, quando o governo estatizou a Previdência privada obrigatória e passou a designar diretores estatais nas cerca de 40
empresas em que os fundos privados tinham ações.
As estatísticas oficiais, sob
suspeita desde 2007, são outro
ponto de atrito. Em abril, a UIA
registrou queda interanual de
9,6% na produção industrial. O
governo, que diz que o cálculo
da entidade é limitado, apontou baixa de 1,4%.
A intervenção estatal na economia, que passou a ser cavalo
de batalha da oposição, é também uma das críticas do setor
rural, em conflito com os Kir-
chner desde 2008 e que reivindica liberação das exportações
de carne e leite, autorizadas a
conta-gotas pelo governo como
forma de controlar preços
-quanto maior a oferta interna, mais baratos os produtos.
"Não acredito que a Argentina possa imaginar adotar um
modelo como o venezuelano",
afirmou à Folha o secretário da
UIA e ex-ministro da Produção
do governo Eduardo Duhalde
(2002-2003), José Ignacio de
Mendiguren.
Em público, a entidade mantém o discurso cuidadoso e nega ruptura com o governo.
"Apoiamos as medidas, mas
apontamos o que é necessário
introduzir", diz Mendiguren.
Os indícios de reacomodação
na relação, no entanto, existem. Em abril, por exemplo,
banqueiros, industriais e produtores rurais voltaram a se
reunir pela primeira vez desde
março de 2008, marco do início
do conflito dos Kirchner com o
campo. O problema das estatísticas e a designação de diretores estatais em empresas estiveram na pauta da reunião, que
passou a ser periódica.
Texto Anterior: Em discurso a parlamentares, Sarkozy critica o uso da burca Próximo Texto: Humorístico vira fonte de informação Índice
|