São Paulo, terça-feira, 23 de junho de 2009

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Empresários se afastam de casal Kirchner

Às vésperas de eleição legislativa, relação de Casa Rosada com setor chega a nível maior de divergência nos últimos anos

Ponto de inflexão foi recente nacionalização de empresas argentinas por governo do venezuelano Hugo Chávez, aliado de Cristina e Néstor

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

O governo Cristina Kirchner chega às eleições legislativas de domingo na Argentina em meio ao pior momento de sua relação com o setor empresarial.
O ponto de inflexão foi a onda de nacionalizações promovida em maio pelo governo de Hugo Chávez (Venezuela), que incluiu três empresas da Techint, a maior multinacional argentina. Chávez é um dos principais aliados políticos e econômicos dos Kirchner.
A iniciativa gerou uma inédita reação em cadeia do setor, com comunicados de câmaras dos industriais, empresários, banqueiros, exportadores e comerciantes. A UIA (União Industrial Argentina), a Fiesp local, pediu a defesa de "interesses legítimos" do país no exterior e rechaçou a entrada da Venezuela no Mercosul, já aprovada pela Argentina.
Embora tenha buscado se diferenciar do modelo chavista, o governo subiu o tom contra a Techint, com críticas de Cristina e de Néstor Kirchner, seu marido e antecessor, hoje candidato a deputado.
No início deste mês, em outro episódio de afastamento do empresariado, o governo impediu a divisão de dividendos pela distribuidora de energia Edesur, que tem 25% das ações nas mãos da Petrobras. "Que invistam antes de distribuir lucros", afirmou o ministro do Planejamento, Julio de Vido.
Mas o sinal de alerta no setor já havia sido aceso no ano passado, quando o governo estatizou a Previdência privada obrigatória e passou a designar diretores estatais nas cerca de 40 empresas em que os fundos privados tinham ações.
As estatísticas oficiais, sob suspeita desde 2007, são outro ponto de atrito. Em abril, a UIA registrou queda interanual de 9,6% na produção industrial. O governo, que diz que o cálculo da entidade é limitado, apontou baixa de 1,4%.
A intervenção estatal na economia, que passou a ser cavalo de batalha da oposição, é também uma das críticas do setor rural, em conflito com os Kir- chner desde 2008 e que reivindica liberação das exportações de carne e leite, autorizadas a conta-gotas pelo governo como forma de controlar preços -quanto maior a oferta interna, mais baratos os produtos.
"Não acredito que a Argentina possa imaginar adotar um modelo como o venezuelano", afirmou à Folha o secretário da UIA e ex-ministro da Produção do governo Eduardo Duhalde (2002-2003), José Ignacio de Mendiguren.
Em público, a entidade mantém o discurso cuidadoso e nega ruptura com o governo. "Apoiamos as medidas, mas apontamos o que é necessário introduzir", diz Mendiguren.
Os indícios de reacomodação na relação, no entanto, existem. Em abril, por exemplo, banqueiros, industriais e produtores rurais voltaram a se reunir pela primeira vez desde março de 2008, marco do início do conflito dos Kirchner com o campo. O problema das estatísticas e a designação de diretores estatais em empresas estiveram na pauta da reunião, que passou a ser periódica.


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