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Peru planta mais coca do que Colômbia
ONU estima produção de 119 mil toneladas no território peruano no ano passado, ante 103 mil no país vizinho
Cifra faz do Peru maior produtor mundial de folha de cocaína; na Bolívia, área de plantio cresce sob Morales
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
O Peru ultrapassou a Colômbia e é o maior produtor
mundial de folha de coca,
matéria prima da cocaína, estimou a ONU em relatório.
Na Bolívia, cuja ação antidroga vem provocando embate entre candidatos presidenciais brasileiros, a área
dedicada ao cultivo da planta aumentou 1%.
O Escritório das Nações
Unidas sobre Drogas e Crime
(UNODC) informou que o Peru expandiu em 6,8% sua
plantação de coca em 2009,
em comparação a 2008, com
produção da folha estimada
em 119 mil toneladas. A Colômbia produziu 103 mil toneladas no ano passado.
A cifra foi comemorada pelo governo do conservador
Álvaro Uribe, que deixa a
Presidência em agosto e fez
da política antidrogas e antiguerrilha, com ajuda de US$
500 milhões anuais dos EUA,
eixo da gestão.
A Colômbia é ainda o país
que dedica o maior território
à coca -68 mil hectares-,
mas a queda de produtividade das plantações, que diminuíram em escala, projeta a
supremacia peruana.
O diretor-executivo da
UNODC, Antonio Maria Costa, classificou de "preocupante" a tendência do Peru.
"Se ela permanecer, o Peru
muito em breve vai superar a
Colômbia como o maior produtor de cocaína do mundo."
No Peru, o recrudescimento da plantação de coca é atribuído a despreparo e corrupção da polícia e à transmutação em narcotraficantes de
remanescentes da guerrilha
Sendero Luminoso.
Para Leonardo Correa,
coordenador-técnico do Simci (Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos) da Colômbia, que trabalha com o UNODC, é cedo para comemorar os números da
Colômbia.
"Houve avanço, mas é um
dado pontual. A produção de
coca é muito dinâmica e os
dados demonstram que há
plantações nos mesmos lugares que havia há dez anos.
Ou seja: as regiões seguem
vulneráveis", disse à Folha.
A ponderação de Correa é
acompanhada por especialistas do setor, que afirmam
que a produção de coca e cocaína apenas se estabilizou
na última década, com a alta
capacidade de adaptação do
negócio.
Correa defende que a estratégia antidrogas combine
políticas pró-desenvolvimento local e combate ao
consumo e ao tráfico -a parte mais lucrativa.
BOLÍVIA E ELEIÇÃO
Segundo a ONU, a área de
plantação de coca na Bolívia
-onde a Constituição consagra seu consumo tradicional- passou de 30,5 mil hectares para 30,9 mil hectares.
A expansão foi de 1%, contra a média de 6% anuais
desde que o ex-líder cocaleiro Evo Morales chegou ao poder, em 2006.
O relatório da ONU diz que
o resultado "poderia mostrar
uma mudança de tendência
em direção a uma redução".
A política antidrogas da
Bolívia entrou no debate eleitoral brasileiro no começo do
mês, quando o candidato tucano à Presidência, José Serra, acusou o governo de Morales de ser "cúmplice" do
narcotráfico.
De 2005 até 2009, a área
dedicada à folha de coca aumentou 21,6%, e Morales,
que ainda comanda oficialmente a federação de cocaleiros do país, sofre pressão
de sua base para aumentar a
área legal de cultivo, que
existe desde os anos 90.
Segundo a Polícia Federal
brasileira, mais de 80% da
cocaína consumida no Brasil
vem do território boliviano.
A ONU vai divulgar hoje
seu relatório global de drogas, que analisa o consumo e
as rotas do narcotráfico.
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