São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2010

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Peru planta mais coca do que Colômbia

ONU estima produção de 119 mil toneladas no território peruano no ano passado, ante 103 mil no país vizinho

Cifra faz do Peru maior produtor mundial de folha de cocaína; na Bolívia, área de plantio cresce sob Morales


FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O Peru ultrapassou a Colômbia e é o maior produtor mundial de folha de coca, matéria prima da cocaína, estimou a ONU em relatório.
Na Bolívia, cuja ação antidroga vem provocando embate entre candidatos presidenciais brasileiros, a área dedicada ao cultivo da planta aumentou 1%.
O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) informou que o Peru expandiu em 6,8% sua plantação de coca em 2009, em comparação a 2008, com produção da folha estimada em 119 mil toneladas. A Colômbia produziu 103 mil toneladas no ano passado.
A cifra foi comemorada pelo governo do conservador Álvaro Uribe, que deixa a Presidência em agosto e fez da política antidrogas e antiguerrilha, com ajuda de US$ 500 milhões anuais dos EUA, eixo da gestão.
A Colômbia é ainda o país que dedica o maior território à coca -68 mil hectares-, mas a queda de produtividade das plantações, que diminuíram em escala, projeta a supremacia peruana.
O diretor-executivo da UNODC, Antonio Maria Costa, classificou de "preocupante" a tendência do Peru. "Se ela permanecer, o Peru muito em breve vai superar a Colômbia como o maior produtor de cocaína do mundo."
No Peru, o recrudescimento da plantação de coca é atribuído a despreparo e corrupção da polícia e à transmutação em narcotraficantes de remanescentes da guerrilha Sendero Luminoso.
Para Leonardo Correa, coordenador-técnico do Simci (Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos) da Colômbia, que trabalha com o UNODC, é cedo para comemorar os números da Colômbia.
"Houve avanço, mas é um dado pontual. A produção de coca é muito dinâmica e os dados demonstram que há plantações nos mesmos lugares que havia há dez anos. Ou seja: as regiões seguem vulneráveis", disse à Folha.
A ponderação de Correa é acompanhada por especialistas do setor, que afirmam que a produção de coca e cocaína apenas se estabilizou na última década, com a alta capacidade de adaptação do negócio.
Correa defende que a estratégia antidrogas combine políticas pró-desenvolvimento local e combate ao consumo e ao tráfico -a parte mais lucrativa.

BOLÍVIA E ELEIÇÃO
Segundo a ONU, a área de plantação de coca na Bolívia -onde a Constituição consagra seu consumo tradicional- passou de 30,5 mil hectares para 30,9 mil hectares.
A expansão foi de 1%, contra a média de 6% anuais desde que o ex-líder cocaleiro Evo Morales chegou ao poder, em 2006.
O relatório da ONU diz que o resultado "poderia mostrar uma mudança de tendência em direção a uma redução".
A política antidrogas da Bolívia entrou no debate eleitoral brasileiro no começo do mês, quando o candidato tucano à Presidência, José Serra, acusou o governo de Morales de ser "cúmplice" do narcotráfico.
De 2005 até 2009, a área dedicada à folha de coca aumentou 21,6%, e Morales, que ainda comanda oficialmente a federação de cocaleiros do país, sofre pressão de sua base para aumentar a área legal de cultivo, que existe desde os anos 90.
Segundo a Polícia Federal brasileira, mais de 80% da cocaína consumida no Brasil vem do território boliviano.
A ONU vai divulgar hoje seu relatório global de drogas, que analisa o consumo e as rotas do narcotráfico.


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