São Paulo, quarta, 23 de julho de 1997.



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AMÉRICA
Chamem o vizinho

GILBERTO DIMENSTEIN

Os americanos descobriram uma fórmula para os policiais trabalharem 24 horas por dia nos bairros violentos -e sem implicar aumento salarial.
Num projeto chamado "Policial Vizinho", eles ganharam o direito de comprar uma casa com 50% de desconto; o restante financiado a perder de vista.
Única condição para ganhar o benefício é o imóvel estar localizado em regiões de alta criminalidade.
Com a deterioração dos grandes centros urbanos, os policiais seguiram a trilha da classe média e se mudaram para regiões mais sossegadas.
O plano tenta reverter essa tendência. Parte do pressuposto de que uma vizinhança repleta de policiais respeitáveis inibiria a delinquência.


É apenas detalhe de uma ofensiva nacional que tem produzido um dos mais importantes fenômenos sociais do final do século: não pára de cair a delinquência nas grandes cidades, como Nova York ou Los Angeles.
Ainda ninguém sabe com certeza quais fatores exercem maior influência nessa tendência; se o policiamento preventivo, os projetos assistenciais e educacionais, penas mais longas aos detentos, ou campanhas de desarmamento.
O movimento de policiais por melhores salários no Brasil é apenas um indício de que estamos encalacrados na insegurança e, lamento informar, vamos ficar por muito tempo.
Todas condições que favorecem a queda da delinquência aqui estão deterioradas no Brasil.


A vitória contra o crime só é possível por causa de um fator político: a descentralização do poder. Os prefeitos nas grandes cidades americanas são extremamente fortes, assim como os subprefeitos (administradores regionais).
Não exagero num exemplo: "The New York Times" dá muitíssimo mais espaço para o prefeito do que para o presidente.
Vamos ao óbvio: a mola propulsora do desenvolvimento social só podem ser os prefeitos.


PS - Foi lançada recentemente tese de doutorado, apresentada na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, que incluo entre as leituras obrigatórias para quem procura soluções urbanas. Intitulada "Democracia nas Cidades Globais" (Studio Nobel), é resultado de seis anos de pesquisa Evelyn Levy, comparando experiências de Londres e São Paulo.
O livro mostra por que Londres, assim como Nova York, vive um processo de florescimento, graças, em boa parte, à descentralização do poder.


Gilberto Dimenstein escreve às quartas-feiras e aos domingos
Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com



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