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RÚSSIA
Números divulgados pela Interfax não incluem civis
Conflito na Tchetchênia matou quase 18 mil em menos de 3 anos
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Desde que as forças russas voltaram à república secessionista da
Tchetchênia, em setembro de
1999, 13.517 rebeldes tchetchenos
e 4.249 militares russos morreram
num dos mais sangrentos conflitos do planeta, segundo informação divulgada ontem pela agência
de notícias Interfax, que ouviu
oficiais russos do Comando Conjunto do Norte do Cáucaso -que
preferiram não identificar-se.
A resposta de Moscou não tardou. "Esses números não são oficiais. Os últimos dados oficiais,
divulgados pelo ministro da Defesa em março, dão conta da morte
de 3.770 soldados russos e de
12.796 rebeldes", declarou um
porta-voz do Kremlin que trabalha com a questão tchetchena.
"Esses números não são contraditórios. Visto o nível da violência
utilizada por ambas as partes envolvidas nos enfrentamentos, nada impede que o número de mortos tenha aumentado tanto de
março a julho", afirmou à Folha
Mark Kramer, diretor do Projeto
de Estudos sobre a Guerra Fria da
Universidade Harvard (EUA).
"A Rússia faz uso de mais soldados na segunda campanha na
Tchetchênia do que na primeira e
não poupa artilharia pesada nem
bombardeios aéreos. Com isso,
logicamente, há mais mortes de
ambos os lados", acrescentou.
Ademais, para Andrew Bennett,
autor de "Condemned to Repetition: The Rise, Fall and Reprise of
Soviet-Russian Military Interventionism, 1973-1996" (condenado
à repetição: ascensão, queda e repetição do intervencionismo militar soviético-russo, 1973-1996), o
número de mortos no atual conflito tchetcheno deve ser bem superior ao divulgado oficialmente.
"A conta dos russos não é o que
poderíamos chamar de transparente, pois, por exemplo, eles não
classificam os soldados que são
feridos na Tchetchênia, mas que
morrem em outras partes da Rússia, de "baixas do conflito tchetcheno". Assim, como dizem as organizações humanitárias, o número de mortos é superior ao
anunciado", apontou Bennett.
"Além disso, do lado tchetcheno, as mortes de civis não são
computadas, o que também enviesa a análise dos fatos. Até o início deste ano, organizações especializadas falavam em cerca de 35
mil mortos tchetchenos desde setembro de 1999. Todavia é muito
complexo obter provas concretas
que sustentem qualquer tese relacionada ao número de vítimas, já
que fontes imparciais não têm
acesso à região", completou.
De fato, organizações humanitárias russas, como o Comitê das
Mães de Soldados, sustentam que
o balanço real dos mortos pode
ser até três vezes mais elevado do
que o divulgado. Somente na última semana, 32 soldados russos e
67 guerrilheiros tchetchenos
morreram na república separatista.
Geopolítica
O conflito tchetcheno é bastante
complexo geopoliticamente. Afinal, trata-se de uma república russa, e a comunidade internacional
quer evitar qualquer ingerência
em questões internas do país
-sobretudo após os atentados de
11 de setembro último.
"Tudo mudou após os ataques
terroristas. Até julho de 2001, às
vezes, a comunidade internacional ainda condenava a truculência russa na Tchetchênia. Contudo não podemos esquecer que os
rebeldes também cometem atos
bárbaros. Com isso -e graças à
necessidade dos EUA de conseguir a anuência de Moscou à sua
guerra ao terrorismo-, os rebeldes se transformaram em "terroristas", o que dá a Vladimir Putin
[presidente da Rússia" liberdade
para agir", explicou Kramer.
Assim, as reações das potências
ocidentais se resumem a uma
condenação retórica cada vez menos frequente. Ontem, durante
uma conferência realizada perto
de Moscou, o embaixador americano Alexander Vershbow afirmou esperar que o governo russo viesse a ter "a coragem de buscar uma solução política para a sangrenta guerra na Tchetchênia".
Já Alvaro Gil-Robles, comissário para os direitos humanos do
Conselho da Europa, disse que as autoridades russas não estavam
fazendo o suficiente para pôr fim às violações aos direitos civis registradas na Tchetchênia, ainda de acordo com a agência Interfax.
Assim, por razões geopolíticas "maiores", embora mate mais do que o conflito israelo-palestino (pouco mais de 2.000 vítimas em quase dois anos), a guerra tchetchena continua quase esquecida.
Com agências internacionais
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