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DIPLOMACIA
Chanceler afirma que disputa por vaga no Conselho de Segurança não é "concurso de beleza" e aposta no "peso" brasileiro
Amorim se diz otimista sobre Brasil na ONU
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim,
avaliou ontem positivamente as
chances do país entrar como
membro permanente no Conselho de Segurança na reforma pela
qual o grupo decisório das Nações
Unidas deve passar no próximo
ano.
"O poder diplomático hoje em
dia não se mede somente por forças armadas ou poderio econômico. A reunião de ontem convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva [sobre o combate à fome e à pobreza] mostrou uma
enorme capacidade de arregimentação", disse Amorim.
"O Conselho de Segurança não
é concurso de beleza, não para saber se você é melhor. Há países
que tem um nível de vida altíssimo na Europa, mas não são membros permanentes porque não
têm o mesmo peso diplomático",
acrescentou o chanceler.
"Hoje Japão e Alemanha assumem que estão no mesmo patamar que nós, ainda que por razões diferentes", afirmou Amorim, comentando o encontro entre os líderes do Brasil, Índia, Alemanha e Japão na véspera para
debater o apoio mútuo na candidatura às cadeiras permanentes
no conselho.
"Eles sabem que não haverá reforma hoje em dia que possa criar
somente dois membros permanentes. A reunião de ontem foi
um avanço."
Para o chanceler, o país goza
atualmente de um novo espaço
no cenário internacional. Não
apenas o Brasil mudou mas o
contexto também. "Quem acompanha esse assunto há muitos
anos, como eu, sabe que há dez
anos se falava somente na entrada
do Japão e da Alemanha."
Democracia
Amorim lê a mudança como
uma tentativa de "democratizar"
o conselho, que não foi escolhido
a voto e cujos os membros são os
mesmos desde a sua fundação.
"Quando você não pode transformar uma coisa em algo totalmente democrático, você busca o
equilíbrio. Para representar adequadamente 191 países é preciso
ter um número grande de países
com força real no conselho."
Os chanceleres dos quatro países devem se reunir até o fim da
semana. Outro ponto mencionado por Amorim é a necessidade
de um candidato africano, já que
nenhum país do continente se
apresentou.
"Não seria possível nem justo
fazer uma reforma no CS da ONU
sem um país africano. Mas nós
não podemos escolher", disse, demonstrando a sua preferência:
"Acho que a África do Sul é um
excelente candidato, embora ainda não tenha se colocado".
Indagado se o peso real do conselho e da própria ONU não teria
sido abalado pela decisão unilateral dos EUA de ir à guerra no Iraque, em março de 2003, o ministro afirmou acreditar que expansão do órgão seja um meio de lhe
dar maior força. Mas o estrago,
disse ele, foi feito.
"O Iraque deixa lições para todos", disse. "Ter um conselho
mais representativo ajuda as potências a verem que elas precisam
da ONU. Quanto mais representatividade, mais chance haverá de
se conseguir resolver os problemas que foram criados."
Haiti
Nos compromissos mantidos
ontem, Amorim também exortou
outros países membros da ONU a
ajudarem no esforço de paz no
Haiti, onde tropas brasileiras comandam uma força mantida pelo
organismo internacional.
"Aproveitei para fazer um chamamento para que se complete o
número de soldados no Haiti, que
é de 6.500. Por enquanto, só temos 2.600, e é naturalmente difícil, no comando, ter uma atuação
adequada se você não tem a cobertura total", afirmou.
O pedido foi feito em debate no
CS sobre aspectos civis da administração de conflitos e construção da paz.
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