São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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DIPLOMACIA

Chanceler afirma que disputa por vaga no Conselho de Segurança não é "concurso de beleza" e aposta no "peso" brasileiro

Amorim se diz otimista sobre Brasil na ONU

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, avaliou ontem positivamente as chances do país entrar como membro permanente no Conselho de Segurança na reforma pela qual o grupo decisório das Nações Unidas deve passar no próximo ano.
"O poder diplomático hoje em dia não se mede somente por forças armadas ou poderio econômico. A reunião de ontem convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva [sobre o combate à fome e à pobreza] mostrou uma enorme capacidade de arregimentação", disse Amorim.
"O Conselho de Segurança não é concurso de beleza, não para saber se você é melhor. Há países que tem um nível de vida altíssimo na Europa, mas não são membros permanentes porque não têm o mesmo peso diplomático", acrescentou o chanceler.
"Hoje Japão e Alemanha assumem que estão no mesmo patamar que nós, ainda que por razões diferentes", afirmou Amorim, comentando o encontro entre os líderes do Brasil, Índia, Alemanha e Japão na véspera para debater o apoio mútuo na candidatura às cadeiras permanentes no conselho.
"Eles sabem que não haverá reforma hoje em dia que possa criar somente dois membros permanentes. A reunião de ontem foi um avanço."
Para o chanceler, o país goza atualmente de um novo espaço no cenário internacional. Não apenas o Brasil mudou mas o contexto também. "Quem acompanha esse assunto há muitos anos, como eu, sabe que há dez anos se falava somente na entrada do Japão e da Alemanha."

Democracia
Amorim lê a mudança como uma tentativa de "democratizar" o conselho, que não foi escolhido a voto e cujos os membros são os mesmos desde a sua fundação. "Quando você não pode transformar uma coisa em algo totalmente democrático, você busca o equilíbrio. Para representar adequadamente 191 países é preciso ter um número grande de países com força real no conselho."
Os chanceleres dos quatro países devem se reunir até o fim da semana. Outro ponto mencionado por Amorim é a necessidade de um candidato africano, já que nenhum país do continente se apresentou.
"Não seria possível nem justo fazer uma reforma no CS da ONU sem um país africano. Mas nós não podemos escolher", disse, demonstrando a sua preferência: "Acho que a África do Sul é um excelente candidato, embora ainda não tenha se colocado".
Indagado se o peso real do conselho e da própria ONU não teria sido abalado pela decisão unilateral dos EUA de ir à guerra no Iraque, em março de 2003, o ministro afirmou acreditar que expansão do órgão seja um meio de lhe dar maior força. Mas o estrago, disse ele, foi feito.
"O Iraque deixa lições para todos", disse. "Ter um conselho mais representativo ajuda as potências a verem que elas precisam da ONU. Quanto mais representatividade, mais chance haverá de se conseguir resolver os problemas que foram criados."

Haiti
Nos compromissos mantidos ontem, Amorim também exortou outros países membros da ONU a ajudarem no esforço de paz no Haiti, onde tropas brasileiras comandam uma força mantida pelo organismo internacional.
"Aproveitei para fazer um chamamento para que se complete o número de soldados no Haiti, que é de 6.500. Por enquanto, só temos 2.600, e é naturalmente difícil, no comando, ter uma atuação adequada se você não tem a cobertura total", afirmou.
O pedido foi feito em debate no CS sobre aspectos civis da administração de conflitos e construção da paz.


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