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ANÁLISE
Governo golpista atacou território brasileiro
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PITTSBURGH
Quando o chanceler Celso
Amorim diz que o Brasil não tolerará nenhuma ação contra a
sua embaixada em Tegucigalpa
está apenas dizendo o óbvio.
País algum tolera violações de
sua soberania -e não custa
lembrar que a embaixada é tecnicamente território brasileiro.
Portanto, quando o governo
de Roberto Micheletti cortou
água, telefones e luz da embaixada atacou território brasileiro. Quando as suas forças repressivas jogaram bombas de
gás lacrimogêneo no território
da representação brasileira,
igualmente atacaram território
brasileiro.
É claro que invadir a embaixada (para prender o presidente constitucional Manuel Zelaya) seria infinitamente mais
grave, mas violações de soberania não podem -ou não devem- ser medidas a quilo.
O problema com a frase de
Amorim é que o governo brasileiro não tem como reagir. Pelo
menos não fisicamente. É inimaginável mandar tropas para
retaliar um eventual ataque. No
máximo, pode-se pensar em
um reforço na segurança da
embaixada, mas parece evidente que o governo golpista não o
deixaria entrar.
Resta o recurso à legislação
internacional, inevitavelmente
demorado demais para uma situação de emergência. É bom
lembrar que nem a condenação
unânime do golpe pelo mundo
todo nem as sanções ou ameaças de sanções adotadas por
quase todos os países latino-americanos, pelos Estados Unidos e pela União Europeia -nada disso comoveu os golpistas.
Golpistas em geral só entendem uma linguagem, a da força.
Violações de territórios estrangeiros, como o são as embaixadas, só ocorreram, na América
Latina, em regimes tirânicos,
caso por exemplo do Chile de
Augusto Pinochet.
Que os golpistas hondurenhos agora repitam a violência
desmente, se ainda preciso fosse, qualquer hipótese de que
não deram um golpe, apenas
restauraram a democracia que
Manuel Zelaya supostamente
ameaçava.
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