São Paulo, quarta-feira, 23 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Governo golpista atacou território brasileiro

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PITTSBURGH

Quando o chanceler Celso Amorim diz que o Brasil não tolerará nenhuma ação contra a sua embaixada em Tegucigalpa está apenas dizendo o óbvio. País algum tolera violações de sua soberania -e não custa lembrar que a embaixada é tecnicamente território brasileiro.
Portanto, quando o governo de Roberto Micheletti cortou água, telefones e luz da embaixada atacou território brasileiro. Quando as suas forças repressivas jogaram bombas de gás lacrimogêneo no território da representação brasileira, igualmente atacaram território brasileiro.
É claro que invadir a embaixada (para prender o presidente constitucional Manuel Zelaya) seria infinitamente mais grave, mas violações de soberania não podem -ou não devem- ser medidas a quilo.
O problema com a frase de Amorim é que o governo brasileiro não tem como reagir. Pelo menos não fisicamente. É inimaginável mandar tropas para retaliar um eventual ataque. No máximo, pode-se pensar em um reforço na segurança da embaixada, mas parece evidente que o governo golpista não o deixaria entrar.
Resta o recurso à legislação internacional, inevitavelmente demorado demais para uma situação de emergência. É bom lembrar que nem a condenação unânime do golpe pelo mundo todo nem as sanções ou ameaças de sanções adotadas por quase todos os países latino-americanos, pelos Estados Unidos e pela União Europeia -nada disso comoveu os golpistas.
Golpistas em geral só entendem uma linguagem, a da força. Violações de territórios estrangeiros, como o são as embaixadas, só ocorreram, na América Latina, em regimes tirânicos, caso por exemplo do Chile de Augusto Pinochet.
Que os golpistas hondurenhos agora repitam a violência desmente, se ainda preciso fosse, qualquer hipótese de que não deram um golpe, apenas restauraram a democracia que Manuel Zelaya supostamente ameaçava.


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