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entrevista
Brasil não é polícia regional, diz hondurenho
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O embaixador hondurenho Delmer Urbizo defende
a eleição de novembro como
saída para a crise política em
seu país. E revolta-se com a
falta de apoio dos vizinhos
-nenhum deles reconhece o
governo Roberto Micheletti,
que ele representa na ONU
em Genebra.
No dia 14, Urbizo foi retirado do Conselho de Direitos
Humanos da ONU, após embaixadores latinos, liderados
pelo Brasil, pedirem a anulação da sua credencial.
Mas, apesar da voz desanimada com que atendeu em
sua casa ao telefonema da
Folha ontem, Urbizo diz
manter o moral alto.
E frisou
que suas credenciais seguem
válidas -a Folha apurou que
a ONU ainda tramita o pedido de anulação.
FOLHA - Como fica sua situação
aqui na ONU?
URBIZO - Foi um atropelo inqualificável. Estou protestando ao presidente do Conselho de Direitos Humanos.
Porque sigo sendo embaixador, e, mesmo assim, me impedem de assistir às sessões.
FOLHA - Como o sr. vê o papel do
Brasil nesse episódio?
URBIZO - Estranhei. Sempre
respeitamos o presidente
Lula. Mudaram as coisas. A
política bilateral vai mal.
FOLHA - A questão do Brasil é
com o governo Micheletti.
URBIZO - A questão é que o
Brasil está assumindo... [O
presidente dos EUA, Barack]
Obama já disse isso, que está
encarregando o Brasil de fazer o que os EUA faziam antes e cuidar dos interesses latino-americanos. Mas os países latino-americanos não
vão procurar o Brasil para
cuidar dos interesses deles.
FOLHA - O Brasil virou uma polícia regional, é isso?
URBIZO - Eram assim os
EUA. Mas eles não querem
mais saber da região, logo...
FOLHA - Muitos veem no Brasil o
contrapeso ao venezuelano Hugo Chávez.
URBIZO - Que contrapeso? Se
Chávez realmente fosse um
problema para os EUA, os
EUA o apagariam do mapa.
Eles não continuam comprando petróleo dele? Todos
têm negócio com Chávez.
FOLHA - Por que ninguém reconheceu seu governo?
URBIZO - Quantas ditaduras
há no mundo e não fizeram
nada? A nossa não é uma ditadura. Querem usar um país
pequeno e vulnerável para
fazer justiça internacional.
Esse governo é transitório.
Haverá eleição em 29 de novembro, eleições aprovadas
no ano passado. Não há ruptura constitucional.
FOLHA - A volta de Zelaya pode
atravancar o processo?
URBIZO - É provável que isso
traga alguma perturbação,
mas as eleições vão acontecer. Essa é a aposta do povo
hondurenho, eleições transparentes. Há apoio internacional para isso, só a OEA
[Organização dos Estados
Americanos] não quer.
FOLHA - Quem apoiou?
URBIZO - O Clube Rotary internacional vai mandar observadores. As câmaras de
comércio latino-americanas.
A sociedade civil, as igrejas...
Logo o governo ganhará
nas urnas o respaldo de seus
eleitores. Quantos governos
militares saíram com eleições legítimas? No nosso caso, só há um presidente de fato, porque o outro foi destituído pelo Congresso. Agora
querem dizer que as eleições
não são a saída. Como resolver o problema institucional
se não assim?
E te digo, o único país com
ditadura feroz que não fez
uma Comissão da Verdade
foi o Brasil. Qual a estatura
moral brasileira? Não se pode ter dupla moral na política
exterior.
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