|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pressões acalmam fronteira turca
Para evitar novos confrontos, Iraque pressiona guerrilha curda, e americanos pressionam a Turquia
Rebeldes do PKK anunciam
cessar-fogo; EUA dizem não
querer confrontos no norte
do Iraque, temendo agravar quadro, e Ancara freia ação
DA REDAÇÃO
Todos os indicadores apontavam para o resfriamento das
tensões na fronteira entre a
Turquia e o Iraque, onde separatistas curdos e militares turcos entraram em confronto na
madrugada de domingo, com
um saldo de mais de 40 mortos.
Os rebeldes do PKK anunciaram um cessar-fogo unilateral.
Porta-voz dos separatistas, Abdelrahman al Yaderyi declarou
que não haveria novos incidentes caso a Turquia também
contivesse seus soldados.
O grupo, de orientação marxista e que reivindica um Estado curdo, foi pressionado pelo
governo do Iraque, pouco interessado em permitir a intensificação do conflito na única região relativamente calma do
país. O presidente Jalal Talabani, liderança histórica do Curdistão iraquiano, declarou que
apelaria para que os separatistas cessassem toda violência.
Pressões americanas
As pressões também vieram
dos Estados Unidos. "Não queremos a expansão de ações militares na fronteira norte [do
Iraque]", disse Tony Fratto,
porta-voz da Casa Branca.
O porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, disse que a secretária
Condoleezza Rice telefonou
domingo ao presidente da região curda iraquiana, Massoud
Barzani, exortando-o a fazer
prevalecer o comedimento.
Rice também conversou com
o premiê turco, Recep Tayyip
Erdogan. Disse que o problema
não será resolvido se tropas da
Turquia atravessarem a fronteira para destruir as bases do
PKK no Iraque.
Na última quarta-feira o Parlamento de Ancara autorizou
esse cenário, provocando entre
os turcos um clima de exaltações patrióticas para uma resposta armada. De um mês para
cá ataques do PKK já mataram
cerca de 40 militares turcos.
A decisão parlamentar provocou uma mobilização de
americanos e iraquianos, que,
com os incidentes de domingo,
voltaram a interceder para conter a expansão da crise.
A Turquia integra a Otan,
aliança militar ocidental. Washington encampou a visão turca que vê no PKK um grupo terrorista. Já no Iraque os autonomistas são um partido legal,
com representação parlamentar no Curdistão iraquiano.
Bagdá está em melhor posição
para pressionar os rebeldes.
Em Ancara, Erdogan disse
ter alertado Rice sobre a necessidade de neutralizar rapidamente os autonomistas, e que
ela pediu para que ele aguardasse "mais alguns dias", sem
especificar um plano concreto.
Enquanto isso, em Bagdá, o
embaixador americano, Ryan
Crocker, pedia a intervenção
do presidente Talabani.
Via diplomática
O chanceler turco, Ali Babacan, que no domingo dissera
que um ataque às bases iraquianas do PKK não era iminente,
voltou ontem a dar declarações
apaziguadoras. Visto como moderado, afirmou que seu país
tentaria "esgotar todas as vias
diplomáticas antes de partir
para a opção militar".
A agência de notícias Firat,
favorável aos rebeldes, insistiu
ontem que oito soldados turcos
haviam sido capturados no domingo e deu o nome de sete deles. A Turquia nega ter ocorrido
captura, segundo a BBC.
A crise afetou a lira (moeda
turca), que caiu ontem 3% em
relação ao dólar americano. A
bolsa despencou 5%. No passado o PKK ameaçou atacar oleodutos iraquianos que escoam
combustível através da Turquia
-a ameaça não foi reiterada.
Os curdos, povo não-árabe
com idioma próprio, estão espalhados pela Turquia, Iraque,
Irã e Síria. Há 15 milhões de
curdos na Turquia, mais que
20% da população do país.
O governo turco calcula que
3.000 guerrilheiros do PKK estejam no Iraque. Segundo a mídia turca, cerca de 200 autonomistas participaram domingo
do confronto com o Exército.
Em Ancara, cerca de 8.000 estudantes promoveram ontem
uma passeata pedindo ação militar contra os autonomistas.
Ainda ontem, EUA e Reino
Unido propuseram um encontro entre americanos, turcos e
iraquianos em Istambul no
próximo mês para discutir a
questão do PKK.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Possíveis sucessores sintetizam contradição entre costa e interior Próximo Texto: Novo governo da Polônia busca aliança contra vetos Índice
|