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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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GUERRA SEM LIMITES

Caçada, Al Qaeda se reinventa e agora age por meio de "franquias"

KIM SENGUPTA
DO "INDEPENDENT"

A Guerra do Afeganistão visava privar a Al Qaeda da proteção de seus aliados do Taleban e destruí-la como força combatente. Mas os atentados em Istambul são o mais recente exemplo de como a organização se reinventou para continuar sua "guerra santa".
A Al Qaeda provou ser uma hidra de muitas cabeças. Uma delas foi cortada no Afeganistão, com a prisão ou a morte de muitos dos principais lugar-tenentes de Osama bin Laden e a descoberta e o bloqueio de boa parte dos recursos financeiros da organização. Mas o grupo voltou à vida em diversos países, como franquias.
Os recentes atentados na Turquia, na Arábia Saudita, na Tchetchênia e, possivelmente, no Iraque, demonstram que organizações menores, frequentemente contando com os serviços de combatentes treinados nos campos da Al Qaeda no Afeganistão e no Paquistão, continuam capazes de executar operações sem a ajuda aberta de Bin Laden.
Segundo fontes nos serviços de informações ocidentais e árabes, o padrão que está emergindo envolve remanescentes da liderança da Al Qaeda em suas bases na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Eles encomendam os atentados, mas deixam os detalhes dos ataques aos cuidados das organizações locais. Essa evolução representa um desafio para o Ocidente. Em lugar de enfrentar alguns poucos alvos reconhecidos, eles precisam lidar com dezenas de pequenos grupos.
Embora dois dos ataques -os atentados suicidas a bomba em Riad nos dias 12 de maio e 9 de novembro- pareçam ter sido trabalho direto da Al Qaeda, outras operações mostram grupos terroristas diferentes em ação.
Rohan Gunaratna, do Instituto de Defesa e Estudos Estratégicos de Cingapura, descreveu os campos da Al Qaeda como "uma Disneylândia do terrorismo, onde se pode encontrar qualquer pessoa, de qualquer grupo islâmico". Fontes nos serviços de segurança britânicos e norte-americanos dizem que cerca de 20 mil pessoas, de 47 países, passaram pelos campos da Al Qaeda entre a metade dos anos 90 e a invasão do Afeganistão em outubro de 2001.
As agências de segurança ocidentais dizem estar encontrando novos pontos de semelhança nas técnicas de comunicação e no uso de explosivos por esses grupos. Acredita-se que membros da Al Qaeda tenham ensinado integrantes de outros grupos a usar a internet para enviar mensagens cifradas e fugir à detecção. As técnicas de fabricação de bombas e de produtos químicos também parecem ter sido difundidas.
A estrutura financeira do terrorismo também mudou, com muitos dos grupos locais passando a usar pequenos crimes, tráfico de drogas e extorsão como fontes de receita, já que não podem mais aproveitar a rede de organizações e doadores que costumava bancar as atividades da Al Qaeda. Porque os grupos vêm atacando alvos mais fáceis e empregando métodos de ataque menos sofisticados, a disponibilidade de dinheiro é um obstáculo menor à nova série de atentados.



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