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ANÁLISE HAITI
Eleição é ao mesmo tempo praga e esperança para o país
DO "FINANCIAL TIMES"
Um terremoto, furacões,
cólera -são pragas que assolaram o Haiti este ano.
Os cínicos podem sentir a
tentação de dizer que, agora,
são os gafanhotos que estão
invadindo o país: candidatos
fazendo campanha para a
eleição de domingo.
Se enfrentar desastres naturais constitui um critério de
julgamento, só há um veredicto possível: o Haiti foi reprovado. Pois, embora a natureza não possa ser contida,
um Estado é testado pelas
respostas que oferece.
O Haiti agora tem uma
oportunidade. A eleição presidencial não vai fazer surgir
nenhum messias. E uma eleição em tempos de cólera não
é exatamente providencial.
Mas uma grande rede humanitária e uma força de estabilização da ONU já trabalham na reconstrução. Um
novo presidente terá que
aderir a essas instituições, na
maioria estrangeiras.
O Haiti estava despreparado quando o terremoto o
atingiu, em janeiro, matando
mais de 230 mil pessoas.
Um tremor que abalou o
Chile em fevereiro teve intensidade mil vezes maior -mas
menos de 500 morreram.
Essa discrepância reflete
não apenas a força da natureza, mas o poder dos respectivos Estados de fazer frente a
ela. Mais de 1,5 milhão de
pessoas no Haiti ainda estão
vivendo em abrigos improvisados, sobretudo na capital,
Porto Príncipe.
O surto de cólera representa mais um fracasso -no fornecimento de água limpa e
esgoto adequados. Mais de
mil pessoas já morreram.
Após protestos recentes, a
ONU acusou forças políticas
de fomentar a violência; alguns haitianos alegam que
foram elas que levaram o cólera ao país.
Historicamente, o governo
haitiano tem competido com
as agências humanitárias e
não colaborado com elas.
Se um novo presidente puder cooperar com as agências
não governamentais, é possível que doadores estrangeiros ainda entreguem os US$
5,5 bilhões prometidos após
o terremoto de janeiro. Até
agora, pouco desse dinheiro
foi desembolsado.
Também é preciso conseguir o envolvimento dos haitianos de talento que vivem
fora do país e cujas remessas
de dinheiro hoje contribuem
com mais de 20% do PIB; no
momento, emigrados não
são autorizados a candidatar-se ou a votar em eleições.
Antes mesmo de este ano
turbulento começar, três em
cada quatro pessoas no Haiti
sobreviviam com menos de
US$ 2 por dia. Não podemos
esperar milagres; essa era ficou para trás. Mas a era do
apocalipse também já deveria ter ficado no passado.
Tradução de CLARA ALLAIN.
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