São Paulo, terça-feira, 23 de novembro de 2010

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ANÁLISE HAITI

Eleição é ao mesmo tempo praga e esperança para o país

DO "FINANCIAL TIMES"

Um terremoto, furacões, cólera -são pragas que assolaram o Haiti este ano.
Os cínicos podem sentir a tentação de dizer que, agora, são os gafanhotos que estão invadindo o país: candidatos fazendo campanha para a eleição de domingo.
Se enfrentar desastres naturais constitui um critério de julgamento, só há um veredicto possível: o Haiti foi reprovado. Pois, embora a natureza não possa ser contida, um Estado é testado pelas respostas que oferece.
O Haiti agora tem uma oportunidade. A eleição presidencial não vai fazer surgir nenhum messias. E uma eleição em tempos de cólera não é exatamente providencial.
Mas uma grande rede humanitária e uma força de estabilização da ONU já trabalham na reconstrução. Um novo presidente terá que aderir a essas instituições, na maioria estrangeiras.
O Haiti estava despreparado quando o terremoto o atingiu, em janeiro, matando mais de 230 mil pessoas.
Um tremor que abalou o Chile em fevereiro teve intensidade mil vezes maior -mas menos de 500 morreram.
Essa discrepância reflete não apenas a força da natureza, mas o poder dos respectivos Estados de fazer frente a ela. Mais de 1,5 milhão de pessoas no Haiti ainda estão vivendo em abrigos improvisados, sobretudo na capital, Porto Príncipe.
O surto de cólera representa mais um fracasso -no fornecimento de água limpa e esgoto adequados. Mais de mil pessoas já morreram. Após protestos recentes, a ONU acusou forças políticas de fomentar a violência; alguns haitianos alegam que foram elas que levaram o cólera ao país.
Historicamente, o governo haitiano tem competido com as agências humanitárias e não colaborado com elas.
Se um novo presidente puder cooperar com as agências não governamentais, é possível que doadores estrangeiros ainda entreguem os US$ 5,5 bilhões prometidos após o terremoto de janeiro. Até agora, pouco desse dinheiro foi desembolsado.
Também é preciso conseguir o envolvimento dos haitianos de talento que vivem fora do país e cujas remessas de dinheiro hoje contribuem com mais de 20% do PIB; no momento, emigrados não são autorizados a candidatar-se ou a votar em eleições.
Antes mesmo de este ano turbulento começar, três em cada quatro pessoas no Haiti sobreviviam com menos de US$ 2 por dia. Não podemos esperar milagres; essa era ficou para trás. Mas a era do apocalipse também já deveria ter ficado no passado.


Tradução de CLARA ALLAIN.


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