São Paulo, domingo, 23 de dezembro de 2007

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Insurgência ainda persiste no norte iraquiano

Retirada militar americana é improvável, diz analista

DA REDAÇÃO

A flutuação da insegurança no Iraque conformou uma geografia das mortes.
Há áreas nas quais os números são inequívocos quanto à queda na violência: na outrora conturbada Província de Anbar, no oeste, ataques com explosivos caíram 91% de janeiro a novembro de 2007; em algumas partes de Bagdá, a queda foi de 67% no mesmo período, segundo relatório divulgado pelo Pentágono em dezembro.
Mas, se o país está de volta ao cenário anterior à explosão de violência que se seguiu ao atentado contra a Mesquita Dourada -um dos principais templos xiitas-, em Samarra, em fevereiro de 2006, os índices estão longe do ideal.
O próprio Pentágono reconhece que a melhora não é homogênea: em regiões mais ao norte, como a Província de Nineve, a violência aumentou.
É também no norte, segundo o analista de terrorismo Abdul Hameed Bakier, da Fundação Jamestown, que a rede terrorista Al Qaeda está se reerguendo. Em artigo para a instituição, Bakier argumentou neste mês que "engana-se quem pensa que a Al Qaeda no Iraque foi derrotada". "Eles estão se adaptando à nova situação imposta pela aliança sunita e se movendo em direção ao norte, especialmente para a cidade de Mossul."
A situação nas fronteiras é outro foco de instabilidade. O relatório do Pentágono aponta que, apesar de uma queda, "terroristas estrangeiros e homens-bomba continuam a chegar ao país pela Síria". E o Irã, segundo os EUA, continua treinando, equipando e financiando grupos extremistas xiitas.
E há mais problemas. As alianças que os Exércitos dos EUA e do Reino Unido forjaram nas Províncias com antigas milícias gera temores crescentes de que o governo central em Bagdá, xiita, já frágil, se torne cada vez mais ausente.
"[O fato de os EUA] forjarem acordos com grupos insurgentes reafirma a irrelevância essencial do governo central em Bagdá", explica Andrew Bacevich, ex-coronel do Exército americano e analista da Universidade de Boston.
Daniel Serwer, do Instituto para a Paz dos Estados Unidos, concorda: "Se nada mais for feito, o governo pode sair enfraquecido".
Ele lembra, porém, que a tendência pode ser revertida pela tentativa do Ministério do Interior iraquiano de incorporar voluntários dos grupos de vigilância Cidadãos Locais Preocupados às forças de segurança.

Retirada
Os analistas consultados pela Folha se dividem quanto à possibilidade de uma grande retirada de tropas americanas após a melhora na segurança.
"Com certeza não [ocorrerá] agora nem em um futuro próximo -a não ser que se considere a planejada retirada de cinco brigadas até o fim do verão [setentrional, em setembro] "grande", diz Michael O'Hanlon, do Instituto Brookings.
Já Bacevich afirma ser a favor da saída. "Continuar essa guerra não é do interesse dos EUA nem de mais ninguém. Os americanos não vão ditar o futuro do Iraque. Os iraquianos é que o farão."
Enquanto as vozes continuam dissonantes, as forças internacionais que atuam no Iraque se preparam para enfrentar uma questão premente: a construção de um Estado funcional, atuante.
Como resume Serwer, "o maior desafio para os EUA no Iraque é civil, não militar". "Precisamos ter um Estado iraquiano que funcione em Bagdá, que possa garantir um fluxo de serviços essenciais e resolver conflitos pacificamente."
(ANDREA MURTA)


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