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Insurgência ainda persiste no norte iraquiano
Retirada militar americana
é improvável, diz analista
DA REDAÇÃO
A flutuação da insegurança
no Iraque conformou uma geografia das mortes.
Há áreas nas quais os números são inequívocos quanto à
queda na violência: na outrora
conturbada Província de Anbar, no oeste, ataques com explosivos caíram 91% de janeiro
a novembro de 2007; em algumas partes de Bagdá, a queda
foi de 67% no mesmo período,
segundo relatório divulgado
pelo Pentágono em dezembro.
Mas, se o país está de volta ao
cenário anterior à explosão de
violência que se seguiu ao atentado contra a Mesquita Dourada -um dos principais templos
xiitas-, em Samarra, em fevereiro de 2006, os índices estão
longe do ideal.
O próprio Pentágono reconhece que a melhora não é homogênea: em regiões mais ao
norte, como a Província de Nineve, a violência aumentou.
É também no norte, segundo
o analista de terrorismo Abdul
Hameed Bakier, da Fundação
Jamestown, que a rede terrorista Al Qaeda está se reerguendo. Em artigo para a instituição, Bakier argumentou neste
mês que "engana-se quem pensa que a Al Qaeda no Iraque foi
derrotada". "Eles estão se adaptando à nova situação imposta
pela aliança sunita e se movendo em direção ao norte, especialmente para a cidade de
Mossul."
A situação nas fronteiras é
outro foco de instabilidade. O
relatório do Pentágono aponta
que, apesar de uma queda, "terroristas estrangeiros e homens-bomba continuam a chegar ao país pela Síria". E o Irã,
segundo os EUA, continua treinando, equipando e financiando grupos extremistas xiitas.
E há mais problemas. As
alianças que os Exércitos dos
EUA e do Reino Unido forjaram nas Províncias com antigas
milícias gera temores crescentes de que o governo central em
Bagdá, xiita, já frágil, se torne
cada vez mais ausente.
"[O fato de os EUA] forjarem
acordos com grupos insurgentes reafirma a irrelevância essencial do governo central em
Bagdá", explica Andrew Bacevich, ex-coronel do Exército
americano e analista da Universidade de Boston.
Daniel Serwer, do Instituto
para a Paz dos Estados Unidos,
concorda: "Se nada mais for feito, o governo pode sair enfraquecido".
Ele lembra, porém, que a tendência pode ser revertida pela
tentativa do Ministério do Interior iraquiano de incorporar
voluntários dos grupos de vigilância Cidadãos Locais Preocupados às forças de segurança.
Retirada
Os analistas consultados pela
Folha se dividem quanto à
possibilidade de uma grande
retirada de tropas americanas
após a melhora na segurança.
"Com certeza não [ocorrerá]
agora nem em um futuro próximo -a não ser que se considere
a planejada retirada de cinco
brigadas até o fim do verão [setentrional, em setembro]
"grande", diz Michael O'Hanlon, do Instituto Brookings.
Já Bacevich afirma ser a favor da saída. "Continuar essa
guerra não é do interesse dos
EUA nem de mais ninguém. Os
americanos não vão ditar o futuro do Iraque. Os iraquianos é
que o farão."
Enquanto as vozes continuam dissonantes, as forças internacionais que atuam no Iraque se preparam para enfrentar uma questão premente: a
construção de um Estado funcional, atuante.
Como resume Serwer, "o
maior desafio para os EUA no
Iraque é civil, não militar".
"Precisamos ter um Estado iraquiano que funcione em Bagdá,
que possa garantir um fluxo de
serviços essenciais e resolver
conflitos pacificamente."
(ANDREA MURTA)
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