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Terrorista indica "biblioteca básica" para fazer a revolução
DA REPORTAGEM LOCAL
Na virada dos anos 60/70,
havia mais de 70 partidos de
inspiração marxista-leninista
no Peru. Muitos deles eram minúsculos, conta Roncagliolo
em "La Cuarta Espada".
O debate era intenso e, em
suas largas conferências, os militantes costumavam discordar
sobre vários temas. Se a composição do exército revolucionário deveria ser camponês,
mineiro ou pescador, se o itinerário da revolução teria de ser
do campo à cidade ou ao contrário, e qual modelo de produção seria melhor para um Peru
comunista, o chinês, o albanês,
o iugoslavo ou outros.
Entre esses grupos, aquele
criado por Abimael Guzmán,
em 1969, era apenas mais um, e
levava o inusitado -e mesmo
poético- nome de Partido Comunista do Peru pelo Sendero
Luminoso de Mariátegui. Sendero Luminoso significa "caminho iluminado". E José Carlos
Mariátegui (1894-1930), autor
de "Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana", foi
o principal intelectual de esquerda que teve o país.
O Sendero, que seguia inspiração maoísta, tornou-se um
dos agrupamentos terroristas
mais perigosos do mundo. Na
luta armada que desencadeou a
partir de 1980, atacou camponeses, civis em geral, autoridades locais e o Exército.
A cifra de vítimas dessa guerra supera os piores cálculos de
mortos e desaparecidos no Chile e Argentina juntos durante
suas ditaduras militares.
A carnificina em larga escala
acabou apenas quando Guzmán foi capturado, em uma
emboscada armada por um
grupo de inteligência do governo Alberto Fujimori, em 1992.
O ditador, como era de se esperar, depois tirou vantagens políticas a partir dessa vitória
contra o terrorismo.
Biblioteca da revolução
Guzmán costuma ser descrito por aqueles que conviveram
com ele como um homem educado, que sempre quis deixar
claro que, antes de tudo, era um
professor universitário dedicado a encontrar o que supunha
serem soluções para seu país.
Num intervalo dos interrogatórios após sua captura, um policial lhe perguntou o que ele
deveria ler se quisesse "fazer
uma revolução". Guzmán explicou-lhe didaticamente: "Dê
uma olhada na minha biblioteca, sei que vocês a recolheram.
Você deveria começar pela
"História da Filosofia", de
Dynnik, que não é difícil. Depois, a obra completa de Marx e
os 57 volumes das obras de Lênin, que tenho em duas edições
diferentes. Depois, Stálin, que é
mais fácil, somente sete tomos.
E finalmente os quatro de Mao.
Há um quinto, mas foi editado
pós-mortem e está carregado
de revisionismo. Desse você
pode prescindir", concluiu.
Hoje, Guzmán, condenado a
prisão perpétua, está em uma
cela construída para ele, na Base Naval de Callao, perto de Lima. Além das grades, guardam
o terrorista paredes de concreto resistente a explosivos, sete
portas metálicas e um muro de
oito metros.
(SC)
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