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Raúl faz 2 anos no poder lançando obra com Lula
Reforma do porto de Mariel, a 50 km de Havana, será feita pela Odebrecht
Cuba vive crise e desânimo por demora em reformas; visita de brasileiro coincide com morte de preso político que fazia greve de fome
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em discurso no porto de Mariel, a 50 km de Havana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
saudará Raúl Castro por completar, hoje, dois anos como dirigente máximo de Cuba. O investimento da brasileira Odebrecht no local, porém, é uma
das poucas notícias que o irmão
mais novo de Fidel tem para comemorar em meio ao aperto do
caixa governamental e a perspectiva cada vez mais distante
de reformas na economia.
Ao lado de Raúl, Lula, em sua
visita de despedida à ilha como
presidente, inaugurará o início
da obra em Mariel, com custo
de US$ 300 milhões -financiados pelo governo brasileiro.
Cuba quer fazer do porto, famoso como ponto de partida do
êxodo em massa de cubanos
nos anos 80, um centro logístico da nascente indústria petroleira "offshore", da qual a Petrobras faz parte e tem até maio
para reportar os primeiros resultados da prospecção.
Segundo anunciou o presidente brasileiro, a Petrobras
vai acertar ainda a instalação de
uma fábrica de óleo combustível. A empresa EMS, segunda
maior produtora de remédios
genéricos, deve fechar a segunda joint venture de uma empresa privada com capital brasileiro e o Estado cubano -a primeira é a Brascuba, produtora
de cigarros e charutos. Está na
pauta ainda um terceiro negócio: uma fábrica de vidro.
Apesar do entusiasmo do governo brasileiro e suas agências
de promoção, que mencionam
sempre o potencial de longo
prazo da ilha a 190 km da Flórida, a crise econômica e a ausência de reformas são sombra.
Conforme a Folha apurou,
segue havendo atrasos nos pagamentos de Cuba a fornecedores, inclusive do Brasil, assim como dificuldades para
empresas transferirem fundos
ao exterior. As liberações, em
geral, ocorrem após gestões envolvendo o governo brasileiro.
Morre preso político
De dissidentes moderados,
como economista e ex-diplomata do regime Oscar Chepe, a
respeitados analistas da imprensa oficial (o comentarista
de economia na TV, Ariel Terrero, e o jornalista do Juventud
Rebeld Luis Sexto), há um tom
desiludido ante a lentidão das
mudanças prometidas por Raúl
quando assumiu em 2008, após
19 meses de interinidade.
Raúl diz agora que é preciso
fazer mudanças sem "improvisos". Adiou, sem nova data, o
Congresso do Partido Comunista, onde se esperava a discussão das principais reformas.
Enquanto Lula estiver reunido hoje com Fidel Castro -reporta-se que o ex-ditador está
bem de saúde, recuperado da
cirurgia no intestino que fez em
2006-, a internet deve ser agitada por protestos da emergente classe de críticos do regime
que fala por blogs e twitters.
Os protestos começaram ontem com o anúncio da morte do
prisioneiro político Orlando
Zapata Tamayo, que fazia greve
de fome há 85 dias para exigir
melhores condições carcerárias. Tamayo, 42, estava preso
desde 2003, condenado por vários delitos entre eles desacato
a autoridade e promoção de desordem, segundo a Anistia Internacional, que o listava entre
58 "presos de consciência".
No domingo, um grupo de 50
prisioneiros políticos enviou
carta pedindo a Lula que advogasse junto aos Castro por suas
libertações, em especial a de
Tamayo.
Com agências internacionais
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