São Paulo, quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

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Raúl faz 2 anos no poder lançando obra com Lula

Reforma do porto de Mariel, a 50 km de Havana, será feita pela Odebrecht

Cuba vive crise e desânimo por demora em reformas; visita de brasileiro coincide com morte de preso político que fazia greve de fome

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em discurso no porto de Mariel, a 50 km de Havana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saudará Raúl Castro por completar, hoje, dois anos como dirigente máximo de Cuba. O investimento da brasileira Odebrecht no local, porém, é uma das poucas notícias que o irmão mais novo de Fidel tem para comemorar em meio ao aperto do caixa governamental e a perspectiva cada vez mais distante de reformas na economia.
Ao lado de Raúl, Lula, em sua visita de despedida à ilha como presidente, inaugurará o início da obra em Mariel, com custo de US$ 300 milhões -financiados pelo governo brasileiro.
Cuba quer fazer do porto, famoso como ponto de partida do êxodo em massa de cubanos nos anos 80, um centro logístico da nascente indústria petroleira "offshore", da qual a Petrobras faz parte e tem até maio para reportar os primeiros resultados da prospecção.
Segundo anunciou o presidente brasileiro, a Petrobras vai acertar ainda a instalação de uma fábrica de óleo combustível. A empresa EMS, segunda maior produtora de remédios genéricos, deve fechar a segunda joint venture de uma empresa privada com capital brasileiro e o Estado cubano -a primeira é a Brascuba, produtora de cigarros e charutos. Está na pauta ainda um terceiro negócio: uma fábrica de vidro.
Apesar do entusiasmo do governo brasileiro e suas agências de promoção, que mencionam sempre o potencial de longo prazo da ilha a 190 km da Flórida, a crise econômica e a ausência de reformas são sombra.
Conforme a Folha apurou, segue havendo atrasos nos pagamentos de Cuba a fornecedores, inclusive do Brasil, assim como dificuldades para empresas transferirem fundos ao exterior. As liberações, em geral, ocorrem após gestões envolvendo o governo brasileiro.

Morre preso político
De dissidentes moderados, como economista e ex-diplomata do regime Oscar Chepe, a respeitados analistas da imprensa oficial (o comentarista de economia na TV, Ariel Terrero, e o jornalista do Juventud Rebeld Luis Sexto), há um tom desiludido ante a lentidão das mudanças prometidas por Raúl quando assumiu em 2008, após 19 meses de interinidade.
Raúl diz agora que é preciso fazer mudanças sem "improvisos". Adiou, sem nova data, o Congresso do Partido Comunista, onde se esperava a discussão das principais reformas.
Enquanto Lula estiver reunido hoje com Fidel Castro -reporta-se que o ex-ditador está bem de saúde, recuperado da cirurgia no intestino que fez em 2006-, a internet deve ser agitada por protestos da emergente classe de críticos do regime que fala por blogs e twitters.
Os protestos começaram ontem com o anúncio da morte do prisioneiro político Orlando Zapata Tamayo, que fazia greve de fome há 85 dias para exigir melhores condições carcerárias. Tamayo, 42, estava preso desde 2003, condenado por vários delitos entre eles desacato a autoridade e promoção de desordem, segundo a Anistia Internacional, que o listava entre 58 "presos de consciência".
No domingo, um grupo de 50 prisioneiros políticos enviou carta pedindo a Lula que advogasse junto aos Castro por suas libertações, em especial a de Tamayo.


Com agências internacionais



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