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ESTRATÉGIA MILITAR
Avanço das forças dos EUA não empurra todas as tropas iraquianas que encontra
Rapidez ignora bolsões de inimigos
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A maior resistência demonstrada ontem por tropas iraquianas
não vem apenas do fato deles estarem defendendo seu país, em
vez de um país conquistado, como fora no Kuait em 1991.
É em parte um subproduto da
própria rapidez do avanço anglo-americano.
O avanço rápido não empurra
consigo todas as tropas iraquianas que encontra pela frente, ele
vai deixando um grande número
de tropas isoladas que ficam em
"bolsões" na agora retaguarda
americana.
São as tropas que seguem atrás
da ponta-de-lança que têm de lidar com esses bolsões de resistência. Foi o caso ontem dos fuzileiros navais americanos da 1ª Divisão de Marines em Nassiriah. A
cidade já tinha sido ultrapassada
pelas tropas na vanguarda, da 3ª
Divisão de Infantaria Mecanizada, no sábado.
A 2ª Brigada da 3ª Divisão fez
um avanço muito rápido, cerca de
370 km em apenas 40 horas até
Najaf, um dos mais rápidos da
história (uma divisão é uma unidade de cerca de 15.000 a 20.000
homens, dependendo do país ou
do tipo; uma brigada é um dos
seus componentes, com cerca de
6.000 homens).
Mas o avanço deixou um bom
número de iraquianos para trás,
que ontem surpreenderam os
marines quando cruzavam pontes de alto valor estratégico em
Nassiriah.
Segundo o correspondente Michael Wilson, do "New York Times", a emboscada na cidade começou no nascer do Sol, quando
um grupo de fuzileiros navais se
aproximava pelo sul.
Wilson acompanha o batalhão
de artilharia dos marines que seguia alguns quilômetros atrás e
recebeu pedido dos soldados para
apoiá-los com seu fogo.
Mas a falta de informação sobre
os alvos atrasou o fogo de artilharia. O risco de acertar os marines
também era muito grande, pois
estavam muito próximos dos iraquianos.
A tática iraquiana visa a atrasar
o avanço americano. O fato de entrarem em combate aproximado
dentro da cidade também dificulta a utilização pelos americanos
do seu muito maior poder de fogo.
A presença de iraquianos na retaguarda mostra também que as
tropas de apoio logístico que seguem atrás as de combate também correm perigo.
Os prisioneiros americanos que
foram mostrados pela televisão
não pertencem a uma unidade
combatente, mas sim a uma de
apoio, a 507ª Companhia de Manutenção -tanto que incluía
uma mulher.
Os prisioneiros tiveram o azar
de pegar um caminho errado de
madrugada em Nassiriah e topar
com uma emboscada de iraquianos em uma área já ultrapassada
mas não totalmente "varrida". Os
marines ainda acharam quatro
deles feridos na cidade.
O subcomandante da ofensiva,
o general americano John Abizaid, declarou em uma coletiva de
imprensa ontem que "há perigo
para os soldados no terreno, mas
não há perigo para a operação".
Mesmo o porto de Umm Qasr,
um dos primeiros objetivos da
ofensiva, ainda não estava totalmente seguro.
Imagens de televisão mostravam ontem artilharia e tanques
britânicos da 7ª Brigada Blindada
em ação no sul do país. A 7ª Brigada é apelidada de "Ratos do Deserto" por ter lutado no Saara durante a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) e seu símbolo é um
ratinho típico da região.
A relutância anglo-americana
em penetrar as cidades e se envolverem em combates de casa a casa
significa uma continuação do perigo mesmo em áreas próximas
ao Kuait.
Muito da resistência até agora
tem sido obra de milícias, polícia
secreta e membros do partido
Baath, lembrando uma guerra de
guerrilhas. São unidades leais a
Saddam Hussein, embora não tão
bem armadas como a Guarda Republicana, ou a Guarda Republicana Especial.
Os problemas mais graves para
os americanos ainda estão por
aparecer. Saddam Hussein cercou
Bagdá com suas unidades mais
fiéis e mais bem equipadas. São
centenas de veículos blindados e
tanques de fabricação russa, dos
mais modernos disponíveis no
Iraque.
A grande dúvida é saber se a
Guarda Republicana vai querer
lutar fora ou dentro de Bagdá. Em
qualquer dos casos as tropas americanas vão ter um osso bem mais
duro de roer pela frente.
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