São Paulo, terça-feira, 24 de março de 2009

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Guerra fortaleceu grupo radical que baniu as escolas femininas e a música secular

DA REDAÇÃO

Acusado de dar abrigo a Osama Bin Laden, o regime radical do Taleban tornou-se foco de atenção mundial após o 11 de Setembro. Foi derrubado com surpreendente facilidade pelas tropas ocidentais, lideradas pelos EUA, ainda em 2001.
Paradoxalmente, a ofensiva que afastou do poder o Taleban contribuiu para internacionalizar o grupo, de origem tribal, e estreitar seus laços com o "globalismo" islamita.
O Taleban surgiu na fronteira afegã-paquistanesa no final da década de 1980, reunindo pashtuns que resistiam à presença soviética no Afeganistão. Tomou o poder em 1996, vitorioso na guerra civil entre grupos islâmicos que se seguiu à retirada soviética, em 1989.
A ascensão do Taleban levou relativa estabilidade ao país devastado pela guerra. Mas, inicialmente bem recebido em Cabul, o grupo impôs uma interpretação radical da sharia (lei islâmica), combinando preceitos religiosos com tradições tribais comuns aos dois lados da fronteira.
Os líderes do Taleban, formados em escolas religiosas afegãs e principalmente paquistanesas, almejavam recriar um mundo sem "corrupção moral" e vestígios da modernidade. Realizaram expurgos de funcionários corruptos, ou apenas não-pashtuns, e perseguiram implacavelmente minorias.
As regras implacáveis faziam do Taleban um pária internacional. O grupo baniu escolas femininas, a TV, o cinema, a música secular. Implodiu as estátuas dos budas de Bamiyan, patrimônio da humanidade.
A ideologia radical do Taleban jamais seduziu a maioria no país; sempre foi sectária e regional. A invasão americana, porém, fortaleceu seu apelo.

"Taleban paquistanês"
O apoio de Islamabad à ofensiva dos EUA acirrou os conflitos na região paquistanesa da fronteira, habitada por pashtuns. O cinturão tribal é foco do movimento pela imposição da sharia no Paquistão, o TSNM, que recrutou insurgentes contra os ocidentais.
A prisão do fundador do TSNM, Sufi Muhammad, em 2001, aprofundou a radicalização do movimento. Sob liderança de seu genro, Fazlullah, o grupo uniu-se ao Taleban. Os ataques no Afeganistão também agravaram os conflitos no Paquistão, onde líderes do Taleban buscaram refúgio.
O chamado "Taleban paquistanês", porém, divide-se quanto à insurgência global preconizada por Fazlullah. Libertado em 2008, Muhammad lidera o setor regionalista, que concentra-se na defesa da sharia nas regiões tribais. São os chamados "moderados".
Muhammad foi artífice do acordo que selou, em fevereiro, um "cessar-fogo permanente" no vale do Swat, com a criação de tribunais islâmicos e a suspensão da campanha militar paquistanesa.


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