São Paulo, terça-feira, 24 de março de 2009

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Como comandante-em-chefe, Obama rompe com estilo de Bush

DO "NEW YORK TIMES"

Barack Obama raramente -ou nunca- usa a expressão "guerra ao terror". Embora receba, como outros presidentes antes, um briefing ultrassecreto diário de inteligência, esse não é necessariamente o primeiro item de sua agenda. E, ao enviar 17 mil soldados adicionais ao Afeganistão, ele anunciou a notícia num comunicado escrito, não em discurso.
Ao se encaminhar para sua próxima grande decisão como comandante-em-chefe -a nova estratégia para o Afeganistão-, Obama, por necessidade e temperamento, está cumprindo o papel de maneira nitidamente diferente de seu antecessor, George W. Bush. É claro que ele lidera em tempos muito distintos. Bush forjou sua identidade de comandante-em-chefe nos ataques do 11 de Setembro. Obama enfrenta não apenas duas guerras, mas também uma economia mundial aos frangalhos. Mas, enquanto Bush frequentemente se descrevia como "presidente de tempo de guerra", essa frase parece inexistir no léxico de Obama.
A mudança fica clara nas programações diárias dos dois. A primeira pessoa que Bush via todas as manhãs era seu assessor de Segurança Nacional, Stephen Hadley. E o briefing ultrassecreto de inteligência ocupava um lugar sacrossanto em sua agenda: 8h00. Já Obama acrescentou à programação presidencial um briefing sobre economia, e o horário de suas sessões de inteligência varia -ocasionalmente o briefing de economia vem antes.
Obama também suspendeu a prática de ter videoconferências semanais com os comandantes em campo no Iraque -sinal de que as condições no país melhoraram, mas também sinal de mudança de estilo. E, se Bush tinha videoconferências rotineiras com o premiê iraquiano, Nuri al Maliki, e o presidente afegão, Hamid Karzai, Obama mantém contatos menos pessoais com eles.

Ouvinte
O estilo de Obama também é diferente na tomada de decisões. Ele "é mais analítico e toma o cuidado de ouvir a opinião de todos sobre cada questão", disse o secretário da Defesa, Robert Gates, que trabalhou para os dois presidentes, à NBC. Bush, afirmou, "se interessava por pontos de vista diferentes, mas não fazia questão de que todos se expressassem".
A primeira visita de Obama à sala de reuniões do Pentágono não versou só sobre Iraque e Afeganistão. "Foi menos uma reunião sobre as guerras e mais uma chance de o novo comandante-em-chefe conhecer seus generais", disse o porta-voz do Pentágono, Geoff Morrell. "Foi uma conversa enérgica e sofisticada sobre ameaças globais."
Mas o peso da liderança militar está longe de ter desaparecido. Em entrevista ao "60 Minutes" levada ao ar no domingo na CBS, Obama disse que o envio de mais tropas ao Afeganistão foi a decisão mais difícil de sua incipiente Presidência. E como Bush, Obama envia cartas às famílias dos soldados mortos em campo. Ele as assina "Barack".

Tradução de CLARA ALLAIN


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