São Paulo, domingo, 24 de abril de 2005

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Analista critica Brasil por ter concedido asilo

DE NOVA YORK

Condecorado em 2002 pelo Congresso equatoriano por seus estudos de mais de quatro décadas sobre a história do país, o professor Michael Hamerly, 64, da Universidade Brown (EUA), afirma que o Brasil jamais deveria ter concedido asilo ao presidente deposto Lucio Gutiérrez. Para ele, a prisão do político serviria de "lição" aos seus sucessores. Leia a sua entrevista.

Folha - Por que a deposição de presidentes se tornou rotina no Equador?
Michael Hamerly -
Infelizmente, os últimos três presidentes foram mais ditadores que presidentes. E, o que é ainda pior, todos os três foram bandidos. Roubaram centenas de milhões de dólares do Equador.

Folha - Como tem sido a relação do Equador com os EUA?
Hamerly -
Normalmente não há problemas, porque os EUA são a superpotência mundial, e o Equador é um país muito pequeno. Normalmente, seus governantes seguem o que os EUA impõem. É unilateral.

Folha - Se essa relação se manteve a mesma, o que mudou no país nesses anos?
Hamerly -
Houve grandes mudanças. Os indígenas agora participam do processo político, têm direito a voto, não importa se alfabetizados ou não. No entanto houve mudanças negativas, a taxa de pobreza é muito mais alta do que costumava ser.

Folha - Quanto da crise pode-se atribuir a fatores internos e quanto pode ser creditado à influência americana?
Hamerly -
A maioria dos grupos indígenas se opôs ao seu governo, apesar de ter chegado ao poder com o apoio dele. Só que ele os alienou através de suas políticas neoliberais. Mas não foram só os indígenas. Parece haver um consenso geral entre o povo equatoriano de "basta". Eles se cansaram.

Folha - Como chegou a isso?
Hamerly -
Não há nada novo sobre a corrupção no Equador, é igual há séculos. Eu diria que provavelmente todos os presidentes da história do país, incluindo na era colonial, foram mais ou menos corruptos.

Folha - O que o sr. pensa do asilo oferecido pelo Brasil?
Hamerly -
O país não deveria dar asilo a um criminoso. É tempo de que essas pessoas se tornem uma lição.

Folha - Então a prisão seria melhor para o Equador?
Hamerly -
Talvez. Poderia desencorajar seus sucessores a roubar tanto. Senão eles sabem que, quando forem tirados do poder, é só correr para uma embaixada.


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