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Analista critica
Brasil por ter
concedido asilo
DE NOVA YORK
Condecorado em 2002 pelo Congresso equatoriano
por seus estudos de mais de
quatro décadas sobre a história do país, o professor Michael Hamerly, 64, da Universidade Brown (EUA),
afirma que o Brasil jamais
deveria ter concedido asilo
ao presidente deposto Lucio
Gutiérrez. Para ele, a prisão
do político serviria de "lição" aos seus sucessores.
Leia a sua entrevista.
Folha - Por que a deposição
de presidentes se tornou rotina no Equador?
Michael Hamerly - Infelizmente, os últimos três presidentes foram mais ditadores
que presidentes. E, o que é
ainda pior, todos os três foram bandidos. Roubaram
centenas de milhões de dólares do Equador.
Folha - Como tem sido a relação do Equador com os EUA?
Hamerly - Normalmente
não há problemas, porque
os EUA são a superpotência
mundial, e o Equador é um
país muito pequeno. Normalmente, seus governantes
seguem o que os EUA impõem. É unilateral.
Folha - Se essa relação se
manteve a mesma, o que mudou no país nesses anos?
Hamerly - Houve grandes
mudanças. Os indígenas
agora participam do processo político, têm direito a voto, não importa se alfabetizados ou não. No entanto houve mudanças negativas, a taxa de pobreza é muito mais
alta do que costumava ser.
Folha - Quanto da crise pode-se atribuir a fatores internos e quanto pode ser creditado à influência americana?
Hamerly - A maioria dos
grupos indígenas se opôs ao
seu governo, apesar de ter
chegado ao poder com o
apoio dele. Só que ele os alienou através de suas políticas
neoliberais. Mas não foram
só os indígenas. Parece haver um consenso geral entre
o povo equatoriano de "basta". Eles se cansaram.
Folha - Como chegou a isso?
Hamerly - Não há nada novo sobre a corrupção no
Equador, é igual há séculos.
Eu diria que provavelmente
todos os presidentes da história do país, incluindo na
era colonial, foram mais ou
menos corruptos.
Folha - O que o sr. pensa do
asilo oferecido pelo Brasil?
Hamerly - O país não deveria dar asilo a um criminoso.
É tempo de que essas pessoas se tornem uma lição.
Folha - Então a prisão seria
melhor para o Equador?
Hamerly - Talvez. Poderia
desencorajar seus sucessores
a roubar tanto. Senão eles sabem que, quando forem tirados do poder, é só correr para uma embaixada.
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