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O NOVO PAPA
Em 2001, o hoje papa Bento 16 encomendou parecer sobre o religioso tido como santo no Nordeste, mas perseguido pela igreja
Ratzinger pediu estudo sobre padre Cícero
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Uma história típica da crença
popular nordestina aproximou
do Brasil, recentemente, o cardeal
alemão Joseph Ratzinger, agora
papa Bento 16.
Quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em
Roma, Ratzinger teve a iniciativa
de propor um estudo sobre o padre Cícero Romão Batista, o "padim Ciço" dos romeiros -cultuado como santo no Nordeste,
mas renegado (ainda antes de
morrer) pela Santa Sé. Só depois
desses estudos é que o padre Cícero poderá se tornar santo de verdade.
A iniciativa do cardeal Ratzinger aconteceu em 2001, quando
chegava à diocese do Crato (CE)
um novo bispo, o italiano Fernando Panico. Essa diocese é a responsável também por Juazeiro do
Norte (a 495 km de Fortaleza),
município onde se concentra o
culto a padre Cícero.
Início do processo
D. Fernando conta que, ao chegar à cidade, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)
o informou, por carta, que havia
recebido uma correspondência,
assinada pelo cardeal alemão. Na
mensagem, ele pedia ao bispo de
Crato um parecer sobre a possibilidade de ser feito um estudo do
caso do padre Cícero. "Imediatamente respondi que sim, e foi iniciado o processo", disse.
Depois disso, o bispo esteve em
Roma duas vezes para se encontrar diretamente com Ratzinger,
que quis saber sobre o andamento dos estudos sobre o caso e deu
até orientações para a conclusão
do processo.
"Assim como os milhões de devotos de padre Cícero espalhados
pelo país, espero que o papa, que
já nos conhece, que conhece o que
está acontecendo em Juazeiro do
Norte, as romarias, e conhece
também um pouco da figura do
padre Cícero, possa nos ajudar a
responder a essa expectativa do
povo, que é ver reconhecida a santidade de padre Cícero", disse d.
Fernando.
Informações
Nas conversas em Roma, Ratzinger primeiro autorizou o bispo
do Crato a escolher um padre para investigar, nos documentos secretos da Congregação, dados sobre o período em que viveu o padre Cícero (1844-1934), para saber
mais sobre suas relações com a
cúpula da Igreja Católica. Depois,
o próprio cardeal o orientou sobre os procedimentos para a finalização dos estudos.
"Ele disse que sabia dos estudos,
que tudo estava bem encaminhado e que, quando concluíssemos
as pesquisas, deveríamos mandar
os documentos a Roma, onde será constituída uma nova equipe
de estudos para finalizar o processo de reabilitação do padre Cícero", disse d. Fernando.
Ele ressaltou o tom aberto e afável com que o cardeal o abordou
sobre o assunto e demonstrou interesse pelo tema.
Milagres
A rejeição da cúpula da Igreja
Católica ao padre Cícero aconteceu depois que ele começou a ganhar fama como milagreiro e a levar multidões de fiéis a Juazeiro
do Norte.
Sua notoriedade começou em
1889, quando, segundo se conta,
uma hóstia que ele entregou em
comunhão a Maria de Araújo se
transformou, na boca da beata,
em sangue.
O mesmo fenômeno teria se repetido centenas de vezes, mas era
sempre negado pela cúpula da
Igreja Católica.
Por insistir em reafirmar o milagre, padre Cícero chegou até a ser
excomungado, em 1917, sendo
perdoado em seguida. Em 1921,
porém, teve suas ordens suspensas em definitivo, não podendo
atuar como padre até sua morte,
em 1934.
Ao falar na homilia de uma missa, na semana passada, sobre a
proximidade do papa Bento 16
com a história de padre Cícero, d.
Fernando foi bastante aplaudido
pelos fiéis. "Que seja um papa que
faça jus ao nome que ele escolheu,
que seja uma bênção para todos
nós, bento e abençoador."
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