|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em sua primeira audiência com a imprensa, Bento 16 foi breve, mas afirmou que pretende ter um bom contato com jornalistas
Afável, papa agradece trabalho da mídia
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Em um encontro inusitado do
ponto de vista formal, já que a
maioria dos jornalistas presentes
o aplaudiu efusivamente e rezou
em voz alta um pai-nosso, o papa
Bento 16 agradeceu ontem os profissionais que participaram da cobertura da morte de seu predecessor e da transição que culminou
em sua eleição na terça passada.
Apesar de pregar a continuação
do contato que João Paulo 2º com
a mídia, Bento 16 apenas falou por
15 minutos -quando assumiu
em 1978, Karol Wojtyla respondeu a perguntas por 40 minutos.
"Obrigado a todos. Esses historicamente importantes eventos
eclesiais tiveram cobertura mundial. Eu sei o quão duro vocês trabalharam, longe de seus lares e
suas famílias, por longas horas e
às vezes em condições difíceis. Eu
espero seguir esse diálogo com
vocês", disse o papa.
Fez uma elegia do papel dos
meios de comunicação. "Consciente da missão e da importância
da mídia, a igreja procura a colaboração com o mundo da comunicação social, especialmente a
partir do Concílio Vaticano 2º",
disse, citando novamente o encontro liberalizante da igreja nos
anos 60 do qual ele era visto como
um adversário nos anos em que
foi o "cardeal de ferro", o guardião da doutrina católica. Desde
então, disse, "a humanidade tem
testemunhado uma extraordinária revolução de mídia, afetando
todos os aspectos da vida".
Joseph Ratzinger chegou às 11h
no auditório Paulo 6º, a antiga Sala Neri, assim nomeada em homenagem ao expoente da arquitetura italiana do século 20 que a
construiu em 1971, Pier Luigi Neri. Estava com o tradicional traje
branco, que parecia estar um
pouco mais curto do que o usado
por João Paulo 2º, e sapatos de camurça avermelhada. Sentou numa cadeira tendo atrás a escultura
em bronze "Ressurreição", de Pericle Fazzini (1974), que apesar da
temática religiosa parece saída do
set de um filme da série "Alien".
Pessoalmente, Bento 16 transmite mais firmeza e energia do
que em suas aparições na televisão. Tem estatura mediana e menos intensa presença física, em
comparação com o Karol Wojtyla
no início do pontificado. Sua fala
é suave. Falou claramente, com
notável sotaque bávaro, em italiano, inglês, alemão ("Me permitam falar minha língua natal",
brincou) e francês. Causou estranheza entre os repórteres de países de fala espanhola presentes a
ausência da língua. Houve quem
especulasse que tinha algo a ver
com a aprovação pelo Parlamento da Espanha da lei que autoriza
o casamento homossexual.
O bispo brasileiro Amaury Castanho, que é jornalista e estava como convidado do Pontifício Conselho de Comunicação Social, disse que "o papa é tímido, talvez
não fale bem o espanhol". Português ele não fala. Em italiano, d.
Amaury falou com o papa e o desejou um longo pontificado. "Ele
riu quando disse isso", disse o bispo, que levava no bolso duas pontes dentárias que retirou. "Imagina se cai no colo do papa."
Havia cerca de 5.000 pessoas no
auditório. O monsenhor John Patrick Foley, presidente do conselho, o saudou. A grande maioria
aplaudiu muito Ratzinger.
Perguntado se não era um pouco estranha a reação entusiasmada dos jornalistas, já que em tese
os presentes devem reportar criticamente sobre o papado, o vaticanista Orazio Petrosselli ("Il Messagero") disse que o ocorrido é
habitual. "Nós somos todos amigos", disse. Mas Ratzinger não era
malvisto por sua rigidez? "Uma
coisa é o que ele pensa, mas ele
sempre foi correto no trato com a
imprensa, assim como Wojtyla",
disse o jornalista.
Texto Anterior: Processo no CE é pela reabilitação Próximo Texto: Joseph Ratzinger esvaziou ala liberal no Brasil Índice
|