São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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Obama condena repressão e questiona pleito

Americano se diz "estarrecido" e "horrorizado" por violência no Irã e afirma haver "questões substanciais" sobre legitimidade da eleição

Presidente nega que tenha recuado e afirma que Casa Branca vem mantendo discurso coerente desde o primeiro dia de protestos


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Na fala mais dura sobre a reação do governo do Irã aos conflitos internos que chacoalham aquele país desde as eleições do dia 12, o presidente Barack Obama se disse "estarrecido" e "horrorizado" com a situação. Pela primeira vez em dez dias, também, colocou em dúvida a legitimidade do pleito que, segundo Teerã, reelegeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad com larga margem de votos.
Ainda assim, o democrata não reconheceu que mudara seu discurso, que chamou de "coerente" desde o primeiro dia, e insistiu em seu ponto de neutralidade para não dar munição para que o regime dos aiatolás faça dos problemas domésticos um conflito entre a República Islâmica e os inimigos externos de sempre, encabeçados pelos EUA.
"Os EUA e a comunidade internacional estão estarrecidos e horrorizados pelas ameaças, surras e prisões dos últimos dias", disse. "Eu condeno fortemente essas ações injustas e junto-me ao povo americano ao lamentar cada uma das vidas inocentes perdidas."
Obama disse que seu país "respeita a soberania da República Islâmica do Irã", e não quer interferir nos assuntos iranianos. "Alguns no governo iraniano estão tentando evitar o debate ao acusar os EUA e outros no Ocidente de instigar os protestos. Essas acusações são evidentemente falsas."
O presidente afirmou ter assistido ao vídeo feito por um celular que supostamente registra o assassinato da jovem iraniana Neda Agha-Soltan com um tiro no peito nas ruas de Teerã, no sábado. Chamou-o de "doloroso", num momento em que pareceu emocionado.
Ainda, reconheceu a força que o movimento dos manifestantes ganhou na internet. Chegou mesmo a romper o protocolo das entrevistas presidenciais e dar o direito da segunda questão a um repórter de um site, o "Huffington Post", que abriu mão de sua pergunta para reproduzir uma que um iraniano enviara por e-mail.
A pessoa não identificada queria saber sob que condições Obama reconheceria Ahmadinejad como presidente e se tal reconhecimento não iria trair o movimento das ruas.
Depois de dizer que não havia observadores internacionais, daí a impossibilidade de saber definitivamente o que aconteceu, o democrata respondeu dizendo que havia uma porcentagem grande de iranianos que consideravam o pleito ilegítimo. Então, tomou as dúvidas para si: "Há questões substanciais sobre a legitimidade dessa eleição".
Indagado sobre por que demorara para usar palavras mais duras, Obama rebateu. Desde o começo, disse, "estamos sendo inteiramente coerentes sobre como lidamos com isso".
Questionado sobre por que evitava dizer claramente quais seriam as consequências para o governo do Irã se continuasse a reprimir violentamente as manifestações, reagiu. Não estava sendo evasivo, afirmou, para citar de novo o caso de Neda: "Quando uma jovem mulher leva um tiro na rua ao sair do carro, isso é um problema".
Mas disse que era necessário mais tempo e informações confiáveis. "Temos de saber como as coisas vão se desenrolar", afirmou. "Sei que todo o mundo aqui está preso ao ciclo noticioso de 24 horas. Eu não."
Obama sinalizou, porém, que a possibilidade de abertura de diálogo com Teerã foi abalada pelos acontecimentos pós-eleitorais: "Nós oferecemos um caminho pelo qual o Irã pode se engajar com a comunidade internacional. Cabe ao Irã decidir se segue esse caminho. O que estamos vendo ao longo dos últimos dias, obviamente, não é encorajador em termos do caminho que este regime possa escolher tomar".


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