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Obama condena repressão e questiona pleito
Americano se diz "estarrecido" e "horrorizado" por violência no Irã e afirma haver "questões substanciais" sobre legitimidade da eleição
Presidente nega que tenha
recuado e afirma que Casa
Branca vem mantendo
discurso coerente desde o
primeiro dia de protestos
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Na fala mais dura sobre a reação do governo do Irã aos conflitos internos que chacoalham
aquele país desde as eleições do
dia 12, o presidente Barack
Obama se disse "estarrecido" e
"horrorizado" com a situação.
Pela primeira vez em dez dias,
também, colocou em dúvida a
legitimidade do pleito que, segundo Teerã, reelegeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad
com larga margem de votos.
Ainda assim, o democrata
não reconheceu que mudara
seu discurso, que chamou de
"coerente" desde o primeiro
dia, e insistiu em seu ponto de
neutralidade para não dar munição para que o regime dos
aiatolás faça dos problemas domésticos um conflito entre a
República Islâmica e os inimigos externos de sempre, encabeçados pelos EUA.
"Os EUA e a comunidade internacional estão estarrecidos
e horrorizados pelas ameaças,
surras e prisões dos últimos
dias", disse. "Eu condeno fortemente essas ações injustas e
junto-me ao povo americano ao
lamentar cada uma das vidas
inocentes perdidas."
Obama disse que seu país
"respeita a soberania da República Islâmica do Irã", e não
quer interferir nos assuntos
iranianos. "Alguns no governo
iraniano estão tentando evitar
o debate ao acusar os EUA e outros no Ocidente de instigar os
protestos. Essas acusações são
evidentemente falsas."
O presidente afirmou ter assistido ao vídeo feito por um celular que supostamente registra o assassinato da jovem iraniana Neda Agha-Soltan com
um tiro no peito nas ruas de
Teerã, no sábado. Chamou-o de
"doloroso", num momento em
que pareceu emocionado.
Ainda, reconheceu a força
que o movimento dos manifestantes ganhou na internet.
Chegou mesmo a romper o
protocolo das entrevistas presidenciais e dar o direito da segunda questão a um repórter
de um site, o "Huffington Post",
que abriu mão de sua pergunta
para reproduzir uma que um
iraniano enviara por e-mail.
A pessoa não identificada
queria saber sob que condições
Obama reconheceria Ahmadinejad como presidente e se tal
reconhecimento não iria trair o
movimento das ruas.
Depois de dizer que não havia observadores internacionais, daí a impossibilidade de
saber definitivamente o que
aconteceu, o democrata respondeu dizendo que havia uma
porcentagem grande de iranianos que consideravam o pleito
ilegítimo. Então, tomou as dúvidas para si: "Há questões
substanciais sobre a legitimidade dessa eleição".
Indagado sobre por que demorara para usar palavras mais
duras, Obama rebateu. Desde o
começo, disse, "estamos sendo
inteiramente coerentes sobre
como lidamos com isso".
Questionado sobre por que
evitava dizer claramente quais
seriam as consequências para o
governo do Irã se continuasse a
reprimir violentamente as manifestações, reagiu. Não estava
sendo evasivo, afirmou, para citar de novo o caso de Neda:
"Quando uma jovem mulher leva um tiro na rua ao sair do carro, isso é um problema".
Mas disse que era necessário
mais tempo e informações confiáveis. "Temos de saber como
as coisas vão se desenrolar",
afirmou. "Sei que todo o mundo
aqui está preso ao ciclo noticioso de 24 horas. Eu não."
Obama sinalizou, porém, que
a possibilidade de abertura de
diálogo com Teerã foi abalada
pelos acontecimentos pós-eleitorais: "Nós oferecemos um caminho pelo qual o Irã pode se
engajar com a comunidade internacional. Cabe ao Irã decidir
se segue esse caminho. O que
estamos vendo ao longo dos últimos dias, obviamente, não é
encorajador em termos do caminho que este regime possa
escolher tomar".
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