São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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Campanha de Kirchner tenta ligar rival ao "pior passado"

Às vésperas de eleição, propaganda traça elo entre De Narváez e ex-presidente Menem

Publicidade faz parte de estratégia do governo argentino, que tenta fazer de pleito legislativo disputa sobre "modelos de país"


THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Com pesquisas que projetam, a quatro dias da votação, uma eleição legislativa disputada na Argentina, o governo Cristina Kirchner abandonou nesta semana o tom "paz e amor" de sua publicidade de TV e partiu para o ataque contra seu principal rival na Província de Buenos Aires.
A peça associa os líderes da Unión-PRO, frente de centro-direita formada por dissidentes do peronismo (sigla dos Kirchner) e pelo partido do prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, às privatizações do governo Carlos Menem (1989-1999).
A eleição no maior colégio eleitoral do país (37% dos votos nacionais) está polarizada entre a lista encabeçada por Néstor Kirchner, marido e antecessor de Cristina, e a da Unión-PRO, que leva o empresário e deputado federal Francisco De Narváez como primeiro candidato. O voto legislativo na Argentina é dado aos partidos ou às alianças eleitorais.
A peça governista usa entrevistas recentes de Macri -disse que reprivatizaria a Aerolíneas Argentinas e a Previdência privada, estatizadas sob Cristina- e de De Narváez, que justifica sua defesa, em 2003, da frustrada empreitada de Menem por um novo mandato (o terceiro).
Com tipografia igual à da publicidade de De Narváez, a peça diz: "Francisco + Mauricio: seu plano é voltar ao pior passado". Alude ao slogan do empresário: "Eu tenho um plano".
Associar os rivais ao "passado neoliberal" da Argentina já é praxe no discurso de Kirchner, que vê a eleição como um plebiscito entre "modelos de país". Os ataques, contudo, não haviam chegado a sua propaganda, que priorizava depoimentos pró-governo de pessoas comuns, sem exibir candidatos, e o slogan "Nós fazemos".
O próprio Kirchner, criticado pelo estilo confrontativo, havia alterado sua postura durante a campanha, usando tom de voz baixo e didático em discursos.
Diferentemente do Brasil, na Argentina, não há horário eleitoral gratuito -todas as inserções são pagas.

Mudança
A eleição de domingo renova metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado, Casas hoje dominadas pelo governo. É crucial para o casal Kirchner, que perdeu metade da popularidade desde o conflito com o campo, aberto em 2008, e hoje é questionado dentro e fora do seu partido.
Sintomaticamente, o slogan da "mudança", usado por Cristina na campanha de 2007 -"A mudança acaba de começar"- foi incorporado pela oposição.
De Narváez usa "A mudança começa um dia", e o radicalismo, rival histórico do peronismo, "A mudança segura".
"Em 2005 [quando venceu as eleições legislativas com folga], o kirchnerismo estava no poder havia dois anos. Agora, são seis. Isso explica por que perdeu a bandeira da mudança para a oposição", disse à Folha o analista político Rosendo Fraga.
O tema "mudança" só apareceu na propaganda governista da atual campanha justamente na peça que ataca os rivais, intercalados com imagens de Menem e de seu ex-ministro da Economia Domingo Cavallo: "A verdadeira mudança é a que estamos fazendo".
Enquanto Kirchner reforça a ofensiva contra os rivais, Cristina mantém uma agenda intensa de inaugurações de obras privadas. Aproveita as tribunas para repetir o discurso do governo de defesa do papel do Estado na economia.
"Foi o tempo em que nos queriam convencer que só o mercado decidia e que o Estado era quase um estorvo à atividade econômica", disse ontem na inauguração de uma unidade elétrica da Petrobras.


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