São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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ALEMANHA

Empenho do chanceler nas enchentes faz seu partido encostar no bloco do conservador Stoiber a um mês da eleição

Chuva impulsiona Schröder nas pesquisas

Reuters
Alemãs passam por cartaz de campanha do Partido Democrático Livre, que mostra Schröder (dir.) e seu principal oponente, Stoiber


MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Após meses de notícias negativas, o chanceler (premiê) alemão, o social-democrata Gerhard Schröder, viu ontem os primeiros sinais concretos de que seu empenho na administração da catástrofe natural que assola o país tem sido bem-vista pelo eleitorado.
De acordo com quatro institutos de pesquisas, a vantagem de seu principal oponente na disputa pela Chancelaria, o conservador Edmund Stoiber, mostrou tendência de queda -chegando a apenas um ponto percentual em uma das sondagens divulgadas.
Como já estava previsto, Schröder reiniciou sua turnê de campanha, buscando capitalizar a onda de popularidade que envolve seu nome desde que ele suspendeu seus compromissos eleitorais para lidar com os problemas causados pelas graves inundações.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, o ganho dos social-democratas advém mais de fatores conjunturais do que de mudanças estruturais. Todavia, como a eleição legislativa ocorre em 22 de setembro, essa tendência pode durar o suficiente para contribuir para a reeleição do chanceler.
"A inversão das tendências tem fatores conjunturais como explicação. A Alemanha vive uma das piores catástrofes naturais de sua história recente, e Schröder tem-se mostrado um verdadeiro líder na administração da crise", analisou Anne-Marie Le Gloannec, do Centro Marc Bloch (Berlim).
"Desde que adiou sua campanha para agir como chanceler, Schröder mostrou-se muito sério e preocupado com a situação da população. Isso foi muito bem-visto pelos alemães, que sentiram solidariedade e firmeza nos atos do chanceler", acrescentou.
A volta da discussão de questões ambientais à pauta política favorece naturalmente a atual coalizão governamental, que conta com a presença dos Verdes. Assim, o partido ambientalista subiu nas pesquisas, dando à coalizão de centro-esquerda ainda mais esperança de manter-se no poder.
De acordo com uma pesquisa do Electoral Research Group, o partido de centro-esquerda de Schröder subiu dois pontos percentuais e chegou a 38% -enquanto a aliança conservadora de Stoiber perdeu dois pontos percentuais, ficando com 39%.
Outros três institutos divulgaram pesquisas que também mostraram uma tendência favorável ao Partido Social-Democrata. Numa delas, há uma vantagem máxima de cinco pontos percentuais para a coalizão de centro-direita, formada pela União Democrata Cristã e pela União Social Cristã. As margens de erro eram de dois ou de três pontos percentuais para cima ou para baixo.
"A diferença era de sete pontos percentuais há pouco tempo. Assim, as novas enquetes apresentaram uma inversão de tendências considerável. Contudo, quando a comoção provocada pelas inundações dissipar-se, o desemprego voltará à pauta da campanha", apontou Manfred Nitsch, da Universidade Livre de Berlim.
A economia é o ponto fraco do chanceler. Em 1998, Schröder declarou que "não mereceria ser reeleito em 2002" se o número de desempregados não estivesse em 3,5 milhões. Segundo estatísticas recentes, há mais de 4 milhões de desempregados no país, cerca de 10% de sua mão-de-obra ativa.

Debate
Pela primeira vez na história, haverá um debate entre os dois principais candidatos à Chancelaria, no próximo domingo. Em tese, isso deveria favorecer o atual chanceler, pois ele se sente muito mais à vontade do que Stoiber diante das câmeras de TV.
"A influência do debate na disputa eleitoral é difícil de ser analisada. Schröder deveria sair fortalecido desse enfrentamento, visto que Stoiber se tem mostrado hesitante diante dos jornalistas. Todavia vale lembrar que, nos EUA, todos esperavam que [Al" Gore levasse vantagem sobre [George W.] Bush nos debates, e isso não ocorreu", afirmou Le Gloannec.
"Se conseguir um desempenho apenas razoável, Stoiber já obterá uma vitória, já que todos crêem que ele venha a ser péssimo no debate. É por isso que não podemos fazer prognóstico sobre a influência do evento na disputa eleitoral", acrescentou a pesquisadora.


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