São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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"Estado de guerra" é prorrogado na Geórgia

Tbilisi acusa forças russas de violar termos de cessar-fogo

DA REDAÇÃO

O Parlamento da Geórgia aprovou ontem a prorrogação do "estado de guerra" no país por mais duas semanas, reagindo à manutenção de postos de controle militar russos fora das regiões separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia.
Para Tbilisi, a retirada -que Moscou declarou concluída na noite de sexta-feira- foi apenas parcial e descumpriu o acordo de cessar-fogo.
Os termos do compromisso, mediado pela França em nome da União Européia, admitem que a Rússia mantenha militares na Geórgia, mas restringem seu alcance. A presença dos soldados deveria se limitar aos territórios autonomistas, onde os russos mantinham tropas desde os acordos de paz entre o governo georgiano e grupos separatistas locais na década de 1990, e suas adjacências, em um raio de dez quilômetros das respectivas divisas regionais.
O cessar-fogo não estabeleceu, porém, um calendário para a saída das tropas -brecha que os russos tentam usar para prolongar indefinidamente a presença no país.
Vencedor militar do conflito de seis dias, detonado pela tentativa georgiana de retomar pela força o controle da Ossétia do Sul, o Kremlin já sinalizou que a situação na ex-república soviética não voltará ao status anterior ao confronto.
O presidente russo, Dmitri Medvedev, e o chanceler Sergei Lavrov reiteraram diversas vezes que apoiarão a independência dos encraves autonomistas. O georgiano Mikhail Saakashvili voltou a dizer que não permitirá a secessão. "A Geórgia não tem territórios sobrando para ceder a ninguém", disse anteontem, em cadeia nacional de TV, o presidente, que busca levar seu país à Otan (aliança militar ocidental).
Ao longo do dia, as tropas russas tinham se movimentado em direção aos territórios autonomistas. À noite, o ministro da Defesa, Anatoli Serdiukov, declarou completa a retirada, afirmando que "o lado russo [do acordo] foi inteiramente cumprido". Fora da Ossétia do Sul e da Abkházia, o Kremlin manteve 500 homens, "responsáveis por medidas adicionais de segurança".
Não foi o bastante para Tbilisi. Os postos de checagem na principal rodovia do país ainda dão à Rússia capacidade tácita de interromper o trafego e isolar a capital. Segundo o Kremlin, a presença visa impedir agressões da Geórgia aos territórios autonomistas.

Porto controlado
O número dois na hierarquia do Estado-Maior do Exército russo, o general Anatoli Nogovitsin, deixou claro ontem que as forças russas vão seguir controlando a cidade portuária georgiana de Poti, no Mar Negro, efetuando patrulhas. Ele alegou que o acordo mediado pela UE ampara legalmente essa presença.
"Poti não está na zona de segurança. Isso não significa que vamos ficar atrás das barreiras observando como eles circulam em seus Humvees (jipes americanos)", acrescentou.
Em conversa telefônica com Medvedev, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, cobrou a retirada das tropas russas da estrada que liga Poti a Senaki, ao leste da Geórgia.
Pressões contra a Rússia também continuam vindo de Washington. O secretário de Comércio dos EUA, Carlos Gutierrez, disse em entrevista à revista semanal alemã "Spiegel" que as operações militares de Moscou ameaçam sua permanência no G8 (grupo das principais economias mundiais) e a sua candidatura para aderir à OMC (Organização Mundial do Comércio).


Com agências internacionais


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