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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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"Ahmadinejad é ingênuo ao discursar ao mundo"

Líder supremo é cordial, sem admirar presidente, diz Majd

DA REPORTAGEM LOCAL

Hooman Majd diz que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, é um homem profundamente religioso, nacionalista e "ingênuo em relação ao mundo externo".

 

FOLHA - Como o sr. descreve o presidente Mahmoud Ahmadinejad?
HOOMAN MAJD -
O presidente Ahmadinejad é um homem encantador e um mestre da política. É profundamente religioso mas, acima disso, um fervoroso nacionalista. Realmente acredita estar defendendo os direitos do Irã contra Ocidente, visto como dominante e injusto. É também um homem simples, adepto de uma vida modesta e sem ostentação, em conformidade com a imagem de "homem do povo", que corresponde em grande parte à realidade.
Além disso, é preciso ressaltar que ele está longe de ser um sujeito cosmopolita. Antes de virar presidente, nunca tinha ido ao exterior. E até hoje continua demonstrando ser ainda um tanto ingênuo no que diz respeito ao mundo externo.

FOLHA - Porque ele insiste tanto na destruição de Israel? De onde vem tamanho ódio ao Estado judeu?
MAJD -
Ele acredita que Israel é um Estado ilegítimo fadado ao desaparecimento, como foi a União Soviética. Mas o presidente jamais insinuou qualquer participação iraniana nesse "desaparecimento". Creio que ele nunca buscará uma guerra contra Israel, até porque decisões militares não cabem a ele, mas ao líder supremo.
Não penso que Ahmadinejad acredite que o "desaparecimento" de Israel acontecerá durante sua vida. Mas como xiita devoto, que acredita no Messias e em um Deus justiceiro, ele tem certeza de que esse dia chegará. De qualquer maneira, ninguém no Irã leva muito a sério as declarações do presidente sobre Israel.

FOLHA - Qual a verdadeira relação entre Ahmadinejad e o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei?
MAJD -
As relações entre presidentes do país e líderes supremos são sempre cercadas de mistério. Mas o líder máximo geralmente dá ampla autonomia ao presidente e não interfere na sua gestão. Essa política de boa vizinhança permite ao líder supremo ficar acima das disputas partidárias, o que lhe confere a credibilidade necessária para ser de fato o guia da nação.
Khamenei pode até ser conservador, mas é também um pragmático que respeita a vontade do povo expressada na escolha do presidente -desde que isso não afete os valores revolucionários. Todos sabem que ele discorda de Ahmadinejad em alguns aspectos e concorda com ele em outros, tanto quanto com o ex-presidente Khatami.
O líder supremo recebe o presidente e seus antecessores com freqüência. Suas relações com Ahmadinejad, por quem não tem apreço particular, são cordiais e práticas. Khatami sempre o apóia em público, para não minar a credibilidade da República Islâmica.
O líder supremo não deve endossar explicitamente nenhuma candidatura na eleição do ano que vem, mas ficará claro na hora certa quem ele apóia. Mesmo assim, o candidato preferido por ele está longe de ter vitória assegurada.

FOLHA - Um ataque israelense ou americano poderia trazer algum benefício político a Ahmadinejad ou a algum outro setor do Irã?
MAJD -
Duvido. Em caso de um ataque, Ahmadinejad seria responsabilizado por sua atitude beligerante e provocadora em relação a Israel. Não creio que alguém no Irã seja favorável a uma intervenção estrangeira. É algo que traria apenas sofrimento, já que o país não poderia se defender.


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