São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2011

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Rebeldes líbios receberam com frieza negociador do Itamaraty

Em reunião em julho, insurgentes demonstraram a diplomata pouca expectativa com Brasil

Reação é resposta à relutância brasileira em reconhecer opositores; Brasil só decidirá sobre a questão em setembro

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

CAROLINA SARRES
DE BRASÍLIA

Embora oficialmente ainda reconheça o regime de Muammar Gaddafi e mantenha aberta sua embaixada em Trípoli, o Brasil enviou um diplomata a Benghazi para estabelecer contato com o governo rebelde no último dia 30 de julho.
A liderança rebelde foi fria com o enviado do Itamaraty e demonstrou baixa expectativa em relação ao governo brasileiro, segundo relatos da visita obtidos pela Folha.
A frieza deriva da relutância brasileira em reconhecer a oposição como representante legítima do povo líbio.
Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou em Brasília que o país não adotará nenhuma posição agora e que irá aguardar a manifestação da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o caso.
A decisão deverá ocorrer durante o Comitê de Credenciais, em 21 de setembro, em Nova York, antes da reunião da Assembleia Geral. Patriota disse ainda que o Brasil reconhece "Estados, não governos" e que "não se trata de adotar alguma manifestação a respeito deste ou daquele governo neste momento".
Além de não apoiar a resolução da ONU que autorizava ofensiva aérea a Gaddafi, o país foi o último ocidental a tirar embaixador de Trípoli.
A missão secreta foi encabeçada pelo embaixador no Cairo, Cesário Melantonio Neto, que tem respondido pela representação na Líbia desde a saída do embaixador brasileiro de Trípoli, em abril.
Em Benghazi, "capital" da revolta, Melantonio se reuniu com o presidente do CNT (Conselho Nacional Transitório), Mustafa Mohammed Abdul Jalil, e outros do governo rebelde. De Jalil, recebeu a promessa de que todos os contratos de empresas brasileiras assinados com Gaddafi serão respeitados.
Quatro empresas brasileiras têm negócios na Líbia: Petrobras, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão. Entre as construtoras, as que têm os maiores projetos são a Queiroz Galvão e a Odebrecht, com contratos de mais de R$ 1,6 bilhão cada.
Elas retiraram do país seus funcionários brasileiros e dizem que precisam avaliar melhor o cenário na Líbia antes de tomar qualquer decisão.
No encontro com Melantonio, Jalil disse que o CNT está empenhado em cumprir compromissos assumidos e até reembolsar empresas afetadas por possíveis perdas no conflito.
Melantonio deixou claro o interesse do governo brasileiro em manter um diálogo informal com o CNT.

Colaborou a Sucursal do Rio


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