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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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Agenda petista divide analistas

DA REPORTAGEM LOCAL

O discurso realizado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 58ª Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) dividiu analistas ouvidos pela Folha quanto ao ineditismo da agenda proposta.
Luís Manoel Fernandes, professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-RJ, afirmou que as declarações do presidente Lula representam uma "tentativa de alteração da agenda da comunidade internacional".
Para Fernandes, o texto lido por Lula "tem mais força que discursos anteriores" do Brasil na assembléia da ONU, além de "pesar mais" na agenda internacional porque "vem na sequência de uma série de ações que fortalecem o país" internacionalmente.
A "nova agenda" de Lula, segundo o cientista político, contrapõe-se à posição do presidente dos EUA, George W. Bush, sem no entanto serem antagônicas. Segundo Fernandes, o discurso "embute uma crítica à conduta dos EUA na luta contra o terrorismo", sem negar sua relevância, afirmando que a busca da paz passa por maior justiça social.
Para Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações Exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso, "não há posição nova" no discurso de Lula. Ele declarou também que os discursos de abertura dos debates na Assembléia Geral da ONU "não visam resultados práticos de curto prazo".
Sobre o destaque dado pelo presidente à questão da fome e da justiça social, Lampreia disse que Lula se vale de "credenciais muito pessoais", ligadas à sua história, o que é "um grande trunfo para o país". Esse "trunfo", no entanto, não tem a seu ver efeito prático em negociações comerciais, em que prevalece um "método pragmático e até contabilista".
Renato Baumann, diretor do escritório brasileiro da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), disse ser "coerente" o discurso de Lula ao defender o fim dos subsídios agrícolas concedidos pelos países ricos, proposta que, segundo ele, também era defendida pelo governo anterior. "Faz todo o sentido. Tem sido assim sempre", disse Baumann, que destacou a importância de o Brasil ser contra as barreiras aos produtos em que os países em desenvolvimento têm maior vantagem comparativa.
Segundo Michel Alaby, presidente da Associação de Empresas Brasileiras para a Integração do Mercosul, foi oportuna a crítica de Lula ao protecionismo praticado pelas nações desenvolvidas.
"Nada mais lógico que o presidente, em um organismo internacional, faça considerações de interesse do país", disse Alaby. (RAFAEL CARIELLO E JULIA DUAILIBI)


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