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Agenda petista divide analistas
DA REPORTAGEM LOCAL
O discurso realizado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na 58ª Assembléia Geral da
ONU (Organização das Nações
Unidas) dividiu analistas ouvidos
pela Folha quanto ao ineditismo
da agenda proposta.
Luís Manoel Fernandes, professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-RJ, afirmou
que as declarações do presidente
Lula representam uma "tentativa
de alteração da agenda da comunidade internacional".
Para Fernandes, o texto lido por
Lula "tem mais força que discursos anteriores" do Brasil na assembléia da ONU, além de "pesar
mais" na agenda internacional
porque "vem na sequência de
uma série de ações que fortalecem
o país" internacionalmente.
A "nova agenda" de Lula, segundo o cientista político, contrapõe-se à posição do presidente
dos EUA, George W. Bush, sem
no entanto serem antagônicas.
Segundo Fernandes, o discurso
"embute uma crítica à conduta
dos EUA na luta contra o terrorismo", sem negar sua relevância,
afirmando que a busca da paz
passa por maior justiça social.
Para Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações Exteriores
no governo Fernando Henrique
Cardoso, "não há posição nova"
no discurso de Lula. Ele declarou
também que os discursos de abertura dos debates na Assembléia
Geral da ONU "não visam resultados práticos de curto prazo".
Sobre o destaque dado pelo presidente à questão da fome e da
justiça social, Lampreia disse que
Lula se vale de "credenciais muito
pessoais", ligadas à sua história, o
que é "um grande trunfo para o
país". Esse "trunfo", no entanto,
não tem a seu ver efeito prático
em negociações comerciais, em
que prevalece um "método pragmático e até contabilista".
Renato Baumann, diretor do escritório brasileiro da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), disse ser
"coerente" o discurso de Lula ao
defender o fim dos subsídios agrícolas concedidos pelos países ricos, proposta que, segundo ele,
também era defendida pelo governo anterior. "Faz todo o sentido. Tem sido assim sempre", disse Baumann, que destacou a importância de o Brasil ser contra as
barreiras aos produtos em que os
países em desenvolvimento têm
maior vantagem comparativa.
Segundo Michel Alaby, presidente da Associação de Empresas
Brasileiras para a Integração do
Mercosul, foi oportuna a crítica
de Lula ao protecionismo praticado pelas nações desenvolvidas.
"Nada mais lógico que o presidente, em um organismo internacional, faça considerações de interesse do país", disse Alaby.
(RAFAEL CARIELLO E JULIA DUAILIBI)
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