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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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Conselho iraquiano proíbe acesso de TVs árabes a eventos do governo

DA REDAÇÃO

No mesmo dia em que o presidente dos EUA, George W. Bush, discursava na ONU sobre como a operação americana no Iraque faria "milhões verem que a liberdade é possível no Oriente Médio", o Conselho de Governo Iraquiano, submisso a Washington, barrou o acesso das redes de TV árabes Al Jazira e Al Arabiya a imóveis e a eventos do governo. A medida deve vigorar por duas semanas.
Em comunicado emitido ontem, o conselho alegou que as duas TVs -que têm veiculado gravações atribuídas ao ex-ditador Saddam Hussein e ao terrorista saudita Osama bin Laden- teriam informações sobre ataques contra soldados dos EUA no país antes que eles acontecessem.
"A Al Jazira e a Al Arabiya ultrapassaram os limites ao pôr em perigo a estabilidade e a democracia e ao encorajar o terrorismo", diz o comunicado. "O Conselho de Governo se reserva o direito de tomar medidas adicionais, quando necessário, sem aviso prévio."
Entifadh Qanbar, porta-voz de Ahmed Chalabi, atual presidente do conselho, definiu a decisão como "uma medida positiva para proteger o povo iraquiano do veneno transmitido pelos canais". Chalabi está em Nova York para a Assembléia Geral da ONU.
O diplomata americano Paul Bremer, chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, pode vetar a decisão. Ele está em Washington depondo sobre a reconstrução do Iraque e não se manifestou.

"Verdade é vítima"
A Al Arabiya disse não ter recebido a notificação e operava normalmente. "Tentamos cobrir todos os aspectos da situação no Iraque da forma mais objetiva possível, e isso inclui fazer de nosso canal um fórum para todos na sociedade iraquiana", disse Abdul Sattar Ellaz, editor da TV.
Já a Al Jazira se disse desestimulada com a decisão do conselho. "A verdade, porque será mais difícil passar a informação completa, e a liberdade de imprensa são vítimas", disse o porta-voz da rede, Jihad Ballout. "Mas a maior vítima pode ser o próprio conselho, que terá dificuldades em falar ao público árabe, a maior parte de nossos telespectadores."
Qambar disse, no entanto, que os dois canais incitam os iraquianos à violência anti-EUA e promovem o sectarismo. "Há a possibilidade de multá-los", afirmou. "Não permitiremos a exibição de imagens de soldados americanos sendo trucidados."
O grupo de defesa da liberdade de imprensa "Repórteres Sem Fronteiras", em Paris, afirmou que a decisão é um "mau sinal". "Quando a Al Jazira e a Al Arabiya informam sobre grupos terroristas ou partidos extremistas que pedem uma ação violenta, eles estão cumprindo seu dever jornalístico", disse o secretário-geral do grupo, Robert Menard.
Já a Comissão de Proteção aos Jornalistas, em Nova York, pediu às autoridades iraquianas que incentivem a imprensa. "Punir organizações jornalísticas levanta questões sérias sobre como as autoridades iraquianas vão lidar com a publicação ou com a divulgação de notícias negativas", disse o coordenador para do grupo para Oriente Médio, Joel Campana.


Com agências internacionais

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