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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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Presidente americano diz que causa palestina foi "traída"; para o francês, só Arafat pode "impor" a paz aos palestinos

Bush e Chirac divergem sobre Arafat

DA REDAÇÃO

Os presidentes dos EUA, George W. Bush, e da França, Jacques Chirac, divergiram ontem, durante a Assembléia Geral da ONU, sobre o papel de Iasser Arafat, presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), no processo de paz do Oriente Médio.
"A causa palestina é traída por líderes que se agarram ao poder alimentando velhos ódios e destruindo o bom trabalho de outros", disse Bush, sem se referir diretamente a Arafat, durante seu discurso nas Nações Unidas.
"Não imagino outra pessoa que hoje possa impor um acordo [de paz] aos palestinos que não seja Arafat", disse Chirac a jornalistas ontem em Nova York. "Ele é a autoridade, o representante eleito e legítimo da população palestina. Não se pode mudar esse fato."
Bush instou Israel a criar as condições para o surgimento de um Estado palestino pacífico: "A população palestina merece seu próprio Estado, comprometido com a reforma, o combate ao terrorismo e a construção da paz".
No último dia 18, Bush havia dito que Arafat seria "um líder fracassado". Os EUA -e Israel- acusam o presidente da ANP de ser conivente com os grupos terroristas palestinos e tentam descartá-lo como líder palestino. Arafat nega estar por trás dos atentados contra Israel.
A divergência entre Bush e Chirac sobre Arafat soma-se ao fosso existente entre os dois presidentes em relação ao Iraque.
A França foi o principal adversário dos EUA nos meses que antecederam a guerra e, agora, exige que Bush transfira a soberania no Iraque para os iraquianos o mais rápido possível e dê à ONU um papel mais relevante no país.
As divergências levaram o conhecido colunista do "New York Times" Thomas Friedman a escrever um artigo no qual acusou a França de se comportar como "inimiga" dos EUA. Os dois países são aliados históricos.
"Já é hora de nós, americanos, aceitarmos uma verdade: a França não é apenas nossa aliada irritante, não é apenas nossa rival ciumenta. A França está se transformando em nossa inimiga", afirmou, na semana passada.
Ao ser questionado ontem, em entrevista coletiva na ONU, sobre a opinião de Friedman, Chirac sugeriu não conhecê-lo. "Quem é?", perguntou a um representante da ONU. Em seguida, disse: "Numa democracia, cada um é livre para fazer suas apreciações".

Assentamentos
O jornal israelense "Haaretz" relatou ontem que o governo israelense gasta cerca de US$ 560 milhões por ano em subsídios e despesas com infra-estrutura e educação para 220 mil colonos judeus que vivem na Cisjordânia e na faixa de Gaza.
O cálculo não inclui gastos militares. Desde 1967, quando Israel ocupou a Cisjordânia e a faixa de Gaza, teriam sido gastos cerca de US$ 10,1 bilhões em assentamentos nos territórios palestinos.
O jornal afirma ter obtido o valor após três meses de pesquisa. Sucessivos governos israelenses se negaram a revelar exatamente os recursos destinados aos assentamentos judaicos, que são um dos maiores obstáculos para um acordo de paz entre israelenses e palestinos.
Ontem, o Escritório Central de Estatísticas de Israel divulgou que o número de colonos israelenses na Cisjordânia e na faixa de Gaza subiu 5,7% em 2001. O percentual de crescimento nos assentamentos é bem superior ao crescimento demográfico de Israel no mesmo período, de 1,6%.
Dos 12 mil novos colonos registrados entre 2001 e 2002, 5.000 vieram de Israel e de outros países. O restante foi atribuído a nascimentos. Em geral, os moradores das colônias são judeus ortodoxos, que têm mais filhos do que a média israelense.
Os palestinos dizem que o crescimento das colônias é uma prova de que as autoridades israelenses não estão comprometidas com o processo de paz, que prevê um congelamento dos assentamentos e, posteriormente, uma solução para a questão.


Com agências internacionais

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