São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

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Rudd, que fala mandarim, deve estreitar relações com a China

DO ENVIADO À AUSTRÁLIA

Dezoito anos mais novo que John Howard, Kevin Rudd não faz questão de esconder esse fato. Para efeito de comparação, se os discursos do ex-prefeito nova-iorquino e atual pré-candidato presidencial Rudolph Giuliani são sempre feitos de "sujeito, verbo, 11 de Setembro", como já brincou alguém, os do diplomata australiano são salpicados da palavra "novo".
Sofisticado e cosmopolita, segundo seus partidários, ou inexperiente e não-testado, de acordo com seus oponentes, Rudd tenta se diferenciar de um adversário não só mais velho mas conhecido por seu jeitão rude. Um episódio parece marcar a virada do político oposicionista na percepção popular e foi citado por mais da metade das 30 pessoas com quem a Folha conversou em Perth, Canberra e Sydney.
Aconteceu em 7 de setembro último, durante a reunião do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês), realizada em Sydney. O evento havia sido armado pelo governo australiano para fazer brilhar seu premiê. Na ocasião, John Howard assinaria com o presidente da China, Hu Jintao, acordo de venda de gás natural que dará US$ 45 bilhões à Austrália nos próximos 20 anos.
Até que o trabalhista tomou o pódio, em sua posição de atual líder da oposição. Em mandarim, agradeceu a presença do chinês e começou a lembrar de sua passagem por Beijing nos anos 80, como diplomata, e dos laços estreitos de sua família com o país. Foi aplaudido de pé pela platéia de empresários e agricultores que representavam quase todo o PIB australiano.
O evento se torna mais significativo quando comparadas as performances dos dois líderes e o que elas significam. No dia anterior, em inglês, John Howard havia reafirmado seu compromisso de principal aliado dos EUA. Já Rudd virou o jogo ao mirar no que hoje é o principal parceiro comercial do país, a China.
"Se eleito, Rudd será o primeiro líder de um país ocidental a falar mandarim", contabiliza Alan Gyngell, do Lowy Institute, de Sydney. Usados com fins eleitoreiros, os laços parecem legítimos. A filha do candidato acaba de se casar com um chinês e seu filho estudou numa universidade de Xangai.
E a China vem crescendo em importância na cesta econômica que faz a Austrália se movimentar. De 2000 para cá, o volume de importações entre os países triplicou. Em 2005, o gigante asiático ultrapassou os EUA na lista de países exportadores, ficando hoje atrás apenas do Japão; na posição inversa, de importadores, já está em primeiro lugar.
"Nossa relação tem um fundamento político sólido, apoio popular profundo e imenso potencial de crescimento", resumiu um impressionado Hu Jintao depois do discurso de Rudd, no evento realizado em setembro. (SD)


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