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Rudd, que fala mandarim, deve estreitar relações com a China
DO ENVIADO À AUSTRÁLIA
Dezoito anos mais novo que
John Howard, Kevin Rudd não
faz questão de esconder esse fato. Para efeito de comparação,
se os discursos do ex-prefeito
nova-iorquino e atual pré-candidato presidencial Rudolph
Giuliani são sempre feitos de
"sujeito, verbo, 11 de Setembro", como já brincou alguém,
os do diplomata australiano são
salpicados da palavra "novo".
Sofisticado e cosmopolita,
segundo seus partidários, ou
inexperiente e não-testado, de
acordo com seus oponentes,
Rudd tenta se diferenciar de
um adversário não só mais velho mas conhecido por seu jeitão rude. Um episódio parece
marcar a virada do político
oposicionista na percepção popular e foi citado por mais da
metade das 30 pessoas com
quem a Folha conversou em
Perth, Canberra e Sydney.
Aconteceu em 7 de setembro
último, durante a reunião do
Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês), realizada em
Sydney. O evento havia sido armado pelo governo australiano
para fazer brilhar seu premiê.
Na ocasião, John Howard assinaria com o presidente da China, Hu Jintao, acordo de venda
de gás natural que dará US$ 45
bilhões à Austrália nos próximos 20 anos.
Até que o trabalhista tomou
o pódio, em sua posição de
atual líder da oposição. Em
mandarim, agradeceu a presença do chinês e começou a
lembrar de sua passagem por
Beijing nos anos 80, como diplomata, e dos laços estreitos
de sua família com o país. Foi
aplaudido de pé pela platéia de
empresários e agricultores que
representavam quase todo o
PIB australiano.
O evento se torna mais significativo quando comparadas as
performances dos dois líderes
e o que elas significam. No dia
anterior, em inglês, John Howard havia reafirmado seu
compromisso de principal aliado dos EUA. Já Rudd virou o
jogo ao mirar no que hoje é o
principal parceiro comercial
do país, a China.
"Se eleito, Rudd será o primeiro líder de um país ocidental a falar mandarim", contabiliza Alan Gyngell, do Lowy Institute, de Sydney. Usados com
fins eleitoreiros, os laços parecem legítimos. A filha do candidato acaba de se casar com um
chinês e seu filho estudou numa universidade de Xangai.
E a China vem crescendo em
importância na cesta econômica que faz a Austrália se movimentar. De 2000 para cá, o volume de importações entre os
países triplicou. Em 2005, o gigante asiático ultrapassou os
EUA na lista de países exportadores, ficando hoje atrás apenas do Japão; na posição inversa, de importadores, já está em
primeiro lugar.
"Nossa relação tem um fundamento político sólido, apoio
popular profundo e imenso potencial de crescimento", resumiu um impressionado Hu
Jintao depois do discurso de
Rudd, no evento realizado em
setembro.
(SD)
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