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Campanha rica turbina candidato do governo no Haiti
Célestin tem candidatura mais organizada à Presidência e deve enfrentar ex-primeira-dama no segundo turno
Presidente René Préval mostra sobrevivência política mesmo após terremoto e epidemia de cólera no país caribenho
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A
PORTO PRÍNCIPE (HAITI)
No centro de Porto Príncipe ou em Cité Soleil, megafavela da capital haitiana, só os
outdoors do candidato governista à Presidência fazem
frente aos pôsteres em vermelho vivo de uma onipresente operadora de celular.
É o índice mais mensurável de que é de Jude Célestin,
ex-presidente da influente
agência de reconstrução do
país e apadrinhado do presidente René Préval, a mais organizada e bem financiada
campanha rumo às eleições
gerais do próximo domingo.
Célestin, segundo a pesquisa de opinião mais recente, deve estar entre os dois
candidatos mais votados e
enfrentará a ex-primeira-dama Mirlande Manigat no segundo turno, em janeiro.
Nas eleições de 2006, uma
fórmula matemática foi aplicada para dar a Préval a vitória no primeiro turno (50%
dos votos + 1). A justificativa
é que um eventual segundo
turno apenas daria margem a
mais instabilidade política.
Desta vez há também um
fator que ajudaria um líder
da disputa a alcançar a maioria simples. Será descontado
6% do contingente eleitoral,
fórmula encontrada para
descontar mortos acumulados no registro eleitoral desde 2005 -incluindo as 300
mil vítimas do terremoto.
IMAGEM
Ainda que os levantamentos de opinião sejam tomados com reserva no Haiti, é
difícil que qualquer candidato evite a segunda votação.
De todo modo, a performance do governista pode
ser considerada uma façanha política, em termos haitianos, do presidente Préval.
Em primeiro lugar porque,
à frente de um governo cronicamente débil, duramente
afetado por furacões e pelo
terremoto em janeiro, o atual
presidente deve conseguir
terminar seu mandato.
Em segundo porque, ao
emplacar, com chance, seu
apadrinhado político, ele
mostra que conseguiu organizar uma máquina política
num espaço entre o agora dividido Lavalás, o movimento
político do presidente deposto Jean Bertrand Aristide, e a
ferrenha oposição a ele.
Para o professor da Universidade Flensburg (Alemanha) Sebastião Nascimento,
Préval, ele próprio um apadrinhado de Aristide, soube
cultivar sua imagem de opaco, com bom relacionamento
com os atores estrangeiros e
com as forças da ONU.
"Ele demonstrou que a fraqueza do governo foi uma estratégia de sobrevivência",
diz Nascimento, coordenador de pesquisa da Unicamp
sobre universidades do Haiti.
Nas ruas de Cité Soleil, Celiana Jean Louis, 60, estava
ontem parada diante de vários cartazes de Célestin. Ela
diz que vai votar nele, mas rejeita a ligação com Préval.
No grupo que se formou ao
redor dela, homens repetem
que vão votar em Célestin,
sem muita elaboração de motivos. "Queremos que o país
melhore", diz Jean Louis.
O candidato, considerado
sem carisma, ganhou alguma projeção após o terremoto, quando a agência que
coordena engajou mulheres
na reconstrução.
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