DO "FINANCIAL TIMES"

O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, ameaça convocar eleições nacionais antecipadas em 21 de abril, numa arriscada tentativa de driblar a oposição -que o acusa de tentar estender inconstitucionalmente sua permanência no cargo.
O plano de Karzai demandaria a realização de um pleito em condições quase impossíveis e desafiaria a decisão da Comissão Eleitoral Independente, apoiada pelos EUA, de adiar a eleição até 20 de agosto.
Segundo a comissão, a precária segurança em grandes partes do sul afegão e as nevascas no norte, que bloquearam as estradas, inviabilizam a realização de eleições sérias em abril -última data permitida pela confusa Constituição do país. Também se teme que seja impossível registrar todos os eleitores até lá.
Apesar das dificuldades da antecipação, embaixadores ocidentais foram chamados anteontem para uma incomum reunião no palácio presidencial, onde foram sondados quanto à ideia, segundo o "Financial Times".
A eleição antecipada desafiaria também os EUA, que cada vez mais veem Karzai como um líder problemático para o Afeganistão. Nomes do alto escalão do governo de Barack Obama -incluindo seu vice, Joe Biden, e a chanceler Hillary Clinton- não ocultaram sua irritação diante da inabilidade de Karzai em combater a corrupção endêmica do governo.
Além disso, a maioria dos advogados constitucionalistas diz que, independentemente da data do pleito, Karzai deve deixar o poder em 21 de maio. Ninguém, no entanto, chega a um acordo quanto a quem deveria substituí-lo, temendo que se dê início ao período mais violento e tumultuado politicamente no país desde que os EUA iniciaram a guerra, em 2001.
Um proeminente líder político de Cabul afirmou que, "ainda que Karzai tenha indicado repetidamente que anteciparia as eleições ou faria a tradicional Loya Jirga [reunião nacional tribal com poder de veto sobre a Constituição], ninguém levou as ameaças a sério. Desta vez pode ser diferente".


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