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Erros dos EUA ajudam a recrutar voluntários para lutar por Saddam
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ
Quando vinha subindo a avenida principal que leva à Universidade Al Mustansyria, onde estuda
educação, Ali Adnam, 27, viu um
avião soltando uma bomba bem
no terreno em frente ao clube dos
alunos do campus.
Depois da explosão na tarde do
último domingo, que abriu uma
cratera no solo, arrancou as janelas e portas da lanchonete local e
feriu 29 pessoas que passavam de
carro e ônibus na rua em frente, o
estudante correu para o local do
ataque, ao contrário do resto das
pessoas que estavam ali.
Casado há dez dias, Ali tentou
ajudar os feridos mais graves a
chegarem o quanto antes ao hospital mais próximo.
Voltou para casa, tomou banho,
vestiu uma farda militar que guardava dos tempos do serviço obrigatório, lustrou o fuzil Kalashnikov da família e ontem estava
montando guarda em frente à
universidade. É mais um voluntário a lutar contra os invasores
norte-americanos e aliados ao lado das forças de Saddam Hussein.
Não está sozinho, segundo o governo.
De acordo com os números divulgados pelo Ministério da Informação, que costuma anabolizá-los, só nas últimas 24 horas pelo menos 140 mil pessoas se alistaram como voluntárias para defender Bagdá da entrada das forças aliadas.
"Estas pessoas estão num lugar
que não direi qual é treinando
com armas leves que também não
direi quais são", disse em tom de
blague o ministro Mohammed
Said Al-Sahaf na manhã de ontem. Não só.
"Estamos recebendo também
voluntários vindos de outros países muçulmanos, principalmente
nossos vizinhos da Síria, da Jordânia, do Irã e da Arábia Saudita",
afirmou Sahaf. "Cobrem os rostos
e não aparecem em fotos porque
não querem ser identificados nem
punidos por seus governos, mas
estão aqui porque acham que esta
é uma causa árabe antes de tudo,
não só iraquiana."
Antes, o ministro havia dito que
o número de voluntários ligados
ao partido Baath, governista, poderia chegar a 6 milhões, que se
juntariam a mais 5 milhões recrutados na população civil, o que
parece uma conta fantasiosa por
todos os critérios.
Segundo o vice-premiê iraquiano, Tariq Aziz, que teve seu escritório atingido por mísseis em
duas ocasiões diferentes nos últimos dias e falou com a imprensa
na noite de ontem, a presença maciça dos voluntários põe por terra
a tese do governo norte-americano de que a população local iria
apoiar a guerra e que iria aproveitar a chance para se revoltar contra seus líderes. "Não se iluda",
disse eles. "Quando chegarem a
Bagdá, os soldados invasores encontrarão balas de revólver, não
de açúcar."
Pelo menos com um deles Aziz
pode contar. É o próprio Ali Adnam, que até anteontem se considerava apolítico. Foi ao ver as pessoas feridas jogadas no chão e
parte do campus da faculdade que
frequenta destruída que resolveu,
literalmente, pegar em armas. O
governo de Saddam Hussein
nunca provocou revolta parecida
nele? "Não", corta, seco.
E sente-se preparado para lutar
contra o Exército mais bem equipado do mundo? "Eu não sabia,
mas estava me preparando desde
a Guerra de 1991", conclui.
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