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Protagonistas manipulam informações do conflito
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A informação exata continua
sendo a grande vítima na guerra
em território iraquiano. Nas últimas 24 horas, pelo menos cinco
tópicos de importância militar e
jornalística foram objeto de informações contraditórias.
Há em primeiro lugar a dúvida
levantada em torno de Saddam
Hussein. Interessava provavelmente ao Pentágono que o Exército iraquiano acreditasse na versão de que o ditador teria sido
morto pelas primeiras bombas
que caíram sobre Bagdá.
O jornal americano "The Washington Post" assumia ainda na
edição de ontem que ele estava
gravemente ferido ao ser retirado
de seu gabinete.
Mas sua imagem já apareceu
três vezes na TV iraquiana. Geoff
Hoon e Ari Fleisher, ministro britânico da Defesa e porta-voz da
Casa Branca, declararam não poder afirmar se a declaração de ontem fora previamente gravada.
Mas na própria mídia norte-americana o "The New York Times" recebeu a informação de que, se chegou a ser ferido, o ditador sofreu apenas ferimentos leves. Não está fora de combate.
O jornal francês "Libération"
acredita que Saddam fez ontem
referências precisas à atual situação militar do confronto. Indício
eloquente de que estaria vivo.
Recontagem
Há, ainda, o número de prisioneiros feitos por norte-americanos e britânicos. Dos 8.000 anunciados sexta-feira, chegou-se ontem a 3.000. Anteontem também
desapareceu a versão da deserção
de dois generais iraquianos.
Outro tópico: as armas químicas. Não encontrá-las desmoralizaria George W. Bush, porque foi
para desarmar Saddam Hussein
desses arsenais que a guerra encontrou seu primeiro motivo.
Informantes norte-americanos
disseram que um laboratório fora
localizado em Najaf, a 160 km ao
sul de Bagdá. O jornal israelense
"Jerusalem Post" e a NBC, rede de
TV dos EUA, difundiram o fato.
Ontem, o próprio comandante
das operações no Iraque, General
Tommy Franks, disse não haver
nada de concreto. Em tempo, o
"The New York Times" foi cauteloso. Reportagem de Judith Miller, autora de um bom livro sobre
armas biológicas, limitava-se a
descrever o esquadrão que deverá, se for o caso, neutralizar esses
armamentos proibidos.
No item aeronaves perdidas, o
Iraque disse no domingo ter abatido dois aviões e cinco helicópteros inimigos. Os Estados Unidos
desmentiram. Não se falou mais
nesse assunto.
Flagrante
Ontem, os iraquianos disseram
ter abatido um helicóptero Apache norte-americano, nas imediações de Karbala. O governo dos
EUA negou, mais uma vez. Mas,
em 40 minutos, a TV iraquiana
colocava no ar imagens da aeronave. O "The New York Times",
no entanto, apurou que foram
dois os Apache abatidos, com o
auxílio de armas leves.
Por fim, existe a controvérsia
em torno das cidades verdadeiramente conquistadas. EUA e Reino
Unido têm adotado um eufemismo. Tentam penetrar -em Nasiriya, em Umm Qasr- e toda reação que encontram é qualificada
de "bolsão de resistência".
O general Richard Myers disse
na sexta que Umm Qasr já estava
em mãos da 1ª Força Expedicionária de Fuzileiros Navais ("marines"). O fato é que ontem à noite
não haviam ainda conquistado a
cidade. Nasiriya também continuava fiel à ditadura iraquiana.
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