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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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Protagonistas manipulam informações do conflito

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A informação exata continua sendo a grande vítima na guerra em território iraquiano. Nas últimas 24 horas, pelo menos cinco tópicos de importância militar e jornalística foram objeto de informações contraditórias.
Há em primeiro lugar a dúvida levantada em torno de Saddam Hussein. Interessava provavelmente ao Pentágono que o Exército iraquiano acreditasse na versão de que o ditador teria sido morto pelas primeiras bombas que caíram sobre Bagdá.
O jornal americano "The Washington Post" assumia ainda na edição de ontem que ele estava gravemente ferido ao ser retirado de seu gabinete.
Mas sua imagem já apareceu três vezes na TV iraquiana. Geoff Hoon e Ari Fleisher, ministro britânico da Defesa e porta-voz da Casa Branca, declararam não poder afirmar se a declaração de ontem fora previamente gravada.
Mas na própria mídia norte-americana o "The New York Times" recebeu a informação de que, se chegou a ser ferido, o ditador sofreu apenas ferimentos leves. Não está fora de combate.
O jornal francês "Libération" acredita que Saddam fez ontem referências precisas à atual situação militar do confronto. Indício eloquente de que estaria vivo.

Recontagem
Há, ainda, o número de prisioneiros feitos por norte-americanos e britânicos. Dos 8.000 anunciados sexta-feira, chegou-se ontem a 3.000. Anteontem também desapareceu a versão da deserção de dois generais iraquianos.
Outro tópico: as armas químicas. Não encontrá-las desmoralizaria George W. Bush, porque foi para desarmar Saddam Hussein desses arsenais que a guerra encontrou seu primeiro motivo.
Informantes norte-americanos disseram que um laboratório fora localizado em Najaf, a 160 km ao sul de Bagdá. O jornal israelense "Jerusalem Post" e a NBC, rede de TV dos EUA, difundiram o fato.
Ontem, o próprio comandante das operações no Iraque, General Tommy Franks, disse não haver nada de concreto. Em tempo, o "The New York Times" foi cauteloso. Reportagem de Judith Miller, autora de um bom livro sobre armas biológicas, limitava-se a descrever o esquadrão que deverá, se for o caso, neutralizar esses armamentos proibidos.
No item aeronaves perdidas, o Iraque disse no domingo ter abatido dois aviões e cinco helicópteros inimigos. Os Estados Unidos desmentiram. Não se falou mais nesse assunto.

Flagrante
Ontem, os iraquianos disseram ter abatido um helicóptero Apache norte-americano, nas imediações de Karbala. O governo dos EUA negou, mais uma vez. Mas, em 40 minutos, a TV iraquiana colocava no ar imagens da aeronave. O "The New York Times", no entanto, apurou que foram dois os Apache abatidos, com o auxílio de armas leves.
Por fim, existe a controvérsia em torno das cidades verdadeiramente conquistadas. EUA e Reino Unido têm adotado um eufemismo. Tentam penetrar -em Nasiriya, em Umm Qasr- e toda reação que encontram é qualificada de "bolsão de resistência".
O general Richard Myers disse na sexta que Umm Qasr já estava em mãos da 1ª Força Expedicionária de Fuzileiros Navais ("marines"). O fato é que ontem à noite não haviam ainda conquistado a cidade. Nasiriya também continuava fiel à ditadura iraquiana.


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