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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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PRISIONEIROS

Veículos impressos imitam TV e também escondem imagens de soldados aprisionados

Mídia americana adota autocensura

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

A imprensa americana adotou ontem autocensura semelhante à das televisões do país e escondeu as imagens, divulgadas no domingo pela TV iraquiana, de soldados dos EUA mortos e mantidos com reféns de guerra.
Dos cinco jornais de maior circulação, só o "Los Angeles Times" reproduziu as cenas exibidas pelo canal de Saddam Hussein. Os jornais "USA Today", "The Wall Street Journal", "The New York Times" e "The Washington Post" não trouxeram as imagens.
"Decidimos não publicar as fotos dos soldados mortos ou capturados porque há questões não respondidas sobre as condições em que foram feitas e as identidades dos soldados", disse Toby Usnik, diretor de relações públicas do "The New York Times".
Para o ombudsman do "The Washington Post", Michael Gleter, "algumas das fotos talvez não devessem ser publicadas".
Procurado, o relações-públicas do "Los Angeles Times", David Garcia, não havia explicado até o fechamento desta edição os motivos para o jornal omitir as fotos.
"São imagens que nossos inimigos nos mostram. Não temos de vê-las", afirmou Tim Graham, diretor de análise do Media Research Center, instituição autointitulada "a líder em documentar, expor e neutralizar o viés da mídia liberal". Para ele, "quando começa uma guerra, há sempre a discussão de que as pessoas não entendem o que acontece, mas elas sabem o que é uma guerra".
Robert Jansen, professor de jornalismo da Universidade do Texas, diz que a mídia dos EUA deve até divulgar imagens negativas de seus soldados, mas não será o padrão. "Haverá resistência em publicar fotos que mostrem soldados em posição de fraqueza. É um nacionalismo errado."

Pedido
No domingo, pro meio de um comunicado, o Departamento de Defesa solicitou à mídia americana que não reproduzisse as imagens, alegando que precisava primeiro contatar as famílias dos soldados mortos e tidos como reféns. Antes de a discussão explodir, no domingo, a imprensa publicara imagens de soldados iraquianos presos pelos EUA.
A autocensura entre os jornais de maior prestígio, porém, não foi acompanhada pelos tablóides. Em Nova York, por exemplo, o "Daily News" e o "New York Post" trouxeram na capa reproduções das fotos de americanos mortos ou capturados, sob as manchetes "Ultraje" e "Selvagens", respectivamente.
Mesmo sem as imagens, os principais jornais americanos trouxeram ontem reportagens sobre a discussão pública travada pelas redes de TV no domingo.
Na televisão, o debate continuou ontem. A CNN anunciou que seguiria a orientação do Pentágono. "Mas mostraremos trechos dos depoimentos dos soldados", disse a âncora Paula Zahn.


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