UOL


São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TVs árabes exibem imagens de mortos

JAMES DRUMMOND
DO "FINANCIAL TIMES"

Os corpos de civis iraquianos jazem no chão de ladrilhos ensanguentado de uma clínica em Bagdá. A mão de um funcionário da equipe de resgate, fotografado na sexta-feira pelo canal de TV Al Jazeera, do Qatar, hesita e então remove um cobertor, expondo o corpo de uma criança. O topo de sua cabeça foi arrancado.
É essa a espécie de imagem, reproduzida em alguns jornais árabes, que os funcionários dos governos norte-americano e britânico mais temem, devido ao impacto explosivo que elas têm sobre a opinião pública árabe.
Na tarde de ontem, o canal de TV via satélite também mostrou imagens geradas pela televisão iraquiana, de supostos soldados norte-americanos mortos em combate perto da cidade de Nassiriya, no sul do Iraque. Mas, quatro dias depois do início da campanha norte-americana e britânica contra o Iraque, funcionários ocidentais concordam em que esse tipo de cobertura vem sendo raro, de parte da Al Jazeera e de suas concorrentes pan-árabes, a Abu Dhabi e a Al Arabiya.
No Afeganistão, a Al Jazeera, então a única estação de televisão em operação no país, foi criticada por agir como porta-voz para Osama bin Laden e por não declarar que estava operando sob restrições impostas a ela pelo Taleban. Funcionários do Taleban levavam jornalistas da Al Jazeera a locais recentemente bombardeados por aviões norte-americanos para exagerar as baixas civis.
Até ontem, no entanto, a Al Jazeera estava em geral se comportando de maneira judiciosa.

Outro lado
A Al Jazeera exibiu uma grande porção do debate sobre a guerra no Parlamento britânico, uma semana atrás, e todos os acontecimentos no Conselho de Segurança da ONU. Depois disso, Ken Livingstone, prefeito de Londres, apareceu discursando, via tradutor, em uma manifestação londrina contra a guerra, no sábado.
Representando o outro lado da questão, Peter Hain, assessor do governo britânico, foi entrevistado. Porta-vozes das Forças Armadas britânicas, no quartel-general do Comando Central dos Estados Unidos, no Catar, também foram filmados oferecendo a visão militar dos acontecimentos. Mas, à medida que a guerra se intensifica e aumentam as baixas, o impacto pleno da cobertura pelas estações árabes de TV via satélite ainda precisa ser avaliado. Para um governo em Bagdá desesperado por exagerar suas baixas militares e civis, as estações pan-árabes são vistas como o veículo essencial.


Texto Anterior: "Por favor, faça alguma coisa", pede mãe de soldado preso a Bush
Próximo Texto: Al Jazeera diz que usou liberdade de expressão
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.