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REUNIÃO
Representantes discutiram em voz alta e trocaram ameaças no Cairo (capital do Egito)
Confusão marca encontro de árabes
RICARDO SETYON
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO CAIRO
Discussões em voz alta, cenas
teatrais, ameaças e muita confusão. É outra reunião da Liga das
Nações Árabes. Mas esta, realizada ontem, no Cairo, teve um final
diferente. Ao contrário da última
vez, quando líderes árabes se reuniram, dias antes do início da
guerra no Iraque, e o mundo assistiu pela TV a ofensas mútuas,
principalmente por parte dos representantes do Iraque e do
Kuait, ontem, os ministros conseguiram dar um passo firme em direção a uma posição mais clara
desta que é a mais poderosa e importante entidade do mundo árabe.
Mesmo com grandes confrontos durante a reunião, Amr Moussa, ex-ministro das Relações Exteriores do Egito, conseguiu trazer a
público um documento quase
unificado.
Quase, porque mesmo com a
dramática situação vivida por um
dos membros da liga, o Iraque, os
representantes árabes não conseguiram demonstrar uma unidade. Outro fator que "auxiliou" a
falta de união foi a pressão exercida pela população em quase todos
os países árabes, esta praticamente fora de controle. Colin Powell,
secretário de Estado americano,
ligou para vários ministros da liga, mas, como disse o representante do Bahrein, "a opinião pública árabe está fervendo".
Na reunião antes da guerra, o
ministro iraquiano chamou o representante do Kuait de "falso,
destruidor da honra e da terra sagrada muçulmana". Os líderes
árabes já sabiam que, em caso de
guerra, o mundo islâmico no
Oriente Médio não conseguiria
enfrentar a raiva popular.
"Está dissolvida totalmente a
união árabe", explicava um alto
oficial da Tunísia naquela oportunidade. "Agora só nos resta orar a
Allah que nos guie porque os únicos que perderão serão os árabes!".
Desta vez, os ministros das Relações Exteriores foram convocados.
Logo de cara, o presidente da
sessão, o ministro libanês Mahmoud Hammoud, exigiu "o fim
das atividades bélicas anglo-americanas no Iraque, imediatamente, sem discussão e sem um dia
mais de combates!".
O ministro representante do
Qatar, Hamad Bin Hassem Al-Thani, decidiu unilateralmente
abandonar a reunião. Seus assessores tentavam desculpar-se, dizendo que isso era "devido a compromissos importantes".
No decorrer da reunião, ficava
clara a total divisão de posições
entre os paises. A apresentação de
países como Iraque, Síria, Líbano
e, principalmente, Líbia tiravam
aplausos. Na sala principal, os representantes tentavam encontrar
o texto final para o documeto que
seria exibido ao fim do dia e enviado ao Conselho de Segurança
da ONU. Qatar, Kuait e Bahrein
pareciam pertencer a outra galáxia.
Após o ministro libanês, foi a
vez do mais explícito e radical dos
representantes falar: Ali Tikri, secretário de negócios africanos
deste pais. Tikri, ao ver que levantava os ânimos na sala, não se
conteve com suas palavras de
abertura em apoio ao Iraque, e foi
mais longe: "Temos que aplaudir
a heróica resistência do povo e
Exército do Iraque. Quero dizer
aos nossos irmãos do Iraque que
os apoiamos e não os abandonaremos. Esse heroísmo iraquiano
já faz parte da história".
"Temos que levantar nossas cabeças bem alto e saudar os heróis
do Iraque, capazes de enfrentar a
potência arrogante estrangeira.
Desde esta reunião, dizemos aos
irmãos iraquianos: estamos com
vocês!", afirmou. "A guerra no
Iraque é uma agressão ilegal", diz
o documento final.
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