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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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REUNIÃO

Representantes discutiram em voz alta e trocaram ameaças no Cairo (capital do Egito)

Confusão marca encontro de árabes

RICARDO SETYON
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO CAIRO

Discussões em voz alta, cenas teatrais, ameaças e muita confusão. É outra reunião da Liga das Nações Árabes. Mas esta, realizada ontem, no Cairo, teve um final diferente. Ao contrário da última vez, quando líderes árabes se reuniram, dias antes do início da guerra no Iraque, e o mundo assistiu pela TV a ofensas mútuas, principalmente por parte dos representantes do Iraque e do Kuait, ontem, os ministros conseguiram dar um passo firme em direção a uma posição mais clara desta que é a mais poderosa e importante entidade do mundo árabe.
Mesmo com grandes confrontos durante a reunião, Amr Moussa, ex-ministro das Relações Exteriores do Egito, conseguiu trazer a público um documento quase unificado.
Quase, porque mesmo com a dramática situação vivida por um dos membros da liga, o Iraque, os representantes árabes não conseguiram demonstrar uma unidade. Outro fator que "auxiliou" a falta de união foi a pressão exercida pela população em quase todos os países árabes, esta praticamente fora de controle. Colin Powell, secretário de Estado americano, ligou para vários ministros da liga, mas, como disse o representante do Bahrein, "a opinião pública árabe está fervendo".
Na reunião antes da guerra, o ministro iraquiano chamou o representante do Kuait de "falso, destruidor da honra e da terra sagrada muçulmana". Os líderes árabes já sabiam que, em caso de guerra, o mundo islâmico no Oriente Médio não conseguiria enfrentar a raiva popular.
"Está dissolvida totalmente a união árabe", explicava um alto oficial da Tunísia naquela oportunidade. "Agora só nos resta orar a Allah que nos guie porque os únicos que perderão serão os árabes!".
Desta vez, os ministros das Relações Exteriores foram convocados.
Logo de cara, o presidente da sessão, o ministro libanês Mahmoud Hammoud, exigiu "o fim das atividades bélicas anglo-americanas no Iraque, imediatamente, sem discussão e sem um dia mais de combates!".
O ministro representante do Qatar, Hamad Bin Hassem Al-Thani, decidiu unilateralmente abandonar a reunião. Seus assessores tentavam desculpar-se, dizendo que isso era "devido a compromissos importantes".
No decorrer da reunião, ficava clara a total divisão de posições entre os paises. A apresentação de países como Iraque, Síria, Líbano e, principalmente, Líbia tiravam aplausos. Na sala principal, os representantes tentavam encontrar o texto final para o documeto que seria exibido ao fim do dia e enviado ao Conselho de Segurança da ONU. Qatar, Kuait e Bahrein pareciam pertencer a outra galáxia.
Após o ministro libanês, foi a vez do mais explícito e radical dos representantes falar: Ali Tikri, secretário de negócios africanos deste pais. Tikri, ao ver que levantava os ânimos na sala, não se conteve com suas palavras de abertura em apoio ao Iraque, e foi mais longe: "Temos que aplaudir a heróica resistência do povo e Exército do Iraque. Quero dizer aos nossos irmãos do Iraque que os apoiamos e não os abandonaremos. Esse heroísmo iraquiano já faz parte da história".
"Temos que levantar nossas cabeças bem alto e saudar os heróis do Iraque, capazes de enfrentar a potência arrogante estrangeira. Desde esta reunião, dizemos aos irmãos iraquianos: estamos com vocês!", afirmou. "A guerra no Iraque é uma agressão ilegal", diz o documento final.


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