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análise
Crítica externa não tem eco em israelenses
TOBIAS BUCK
DO "FINANCIAL TIMES"
Abalada por novas acusações de violações durante o conflito em Gaza, a
imagem de Israel cai de
forma inédita no exterior
-onde as alegações de que
soldados cometeram "assassinatos a sangue frio"
na operação voltaram a resultar em apelos por um
tribunal de crimes de
guerra da ONU.
Em Israel, porém, a resposta às alegações é contida e defensiva. Embora
funcionários do governo
tenham prometido investigá-las, ministros insistiram em que não houve nada de errado na conduta
do Exército durante a
ofensiva de três semanas
encerrada em janeiro.
Gabi Ashkenazi, chefe
de Estado-Maior das forças de defesa de Israel, foi
o primeiro a se pronunciar, alegando que o país
tinha "o Exército mais humano do mundo".
Para analistas, a alegação reflete o sentimento
mais amplo na sociedade.
Tamir Sheafer, professor
de ciências políticas na
Universidade Hebraica de
Jerusalém, diz que as acusações de abusos em larga
escala não parecem "ter
muito efeito sobre o público". "Durante a guerra já
havia relatos sobre muitas
vítimas entre civis palestinos. Mesmo então não
houve grande resposta do
público. A sensação era a
de que "eles mereceram"."
O entusiasmo e o apoio à
guerra em Israel enfraqueceram desde então,
mas isso reflete em parte o
fato de que a operação não
cumpriu seus objetivos. O
Hamas, o grupo islâmico
que governa Gaza, sobreviveu quase incólume ao
conflito, e ataques com foguetes ainda atingem cidades no sul de Israel.
Exército do povo
No entanto, críticas ao
Exército propriamente dito continuam raras, a despeito da série de relatórios
críticos divulgados nos últimos dias. Na semana
passada, jornais israelenses publicaram depoimentos de soldados sobre disparos contra civis desarmados. Anteontem, um
relatório de um painel de
direitos humanos da ONU
trazia alegações como a de
que soldados israelenses
usaram civis palestinos
como escudos humanos.
Alguns comentaristas
de esquerda em Israel se
uniram às críticas. Em artigo no "Haaretz", Gideon
Levy afirmou nesta semana que "as forças de Israel
há muito deixaram de ser
um Exército de "valores".
Mas essa opinião continua a ser minoritária. Como explica Sheafer, o lugar
único que o Exército de Israel ocupa na sociedade
torna difícil aos cidadãos
do país encará-lo de forma
crítica. "As forças de Israel
são o Exército do povo.
Todo mundo serve o Exército, todo mundo conhece
alguém que está servindo
o Exército. Não que os israelenses não creiam nos
depoimentos dos soldados, mas acham que se trate de incidentes isolados."
A crescente condenação
internacional não passou
despercebida. Mas a opinião que ganha terreno no
país é a de que a situação
se deve, sobretudo, a uma
falha de relações públicas.
Tradução PAULO MIGLIACCI
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