São Paulo, quarta-feira, 25 de março de 2009

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análise

Crítica externa não tem eco em israelenses

TOBIAS BUCK
DO "FINANCIAL TIMES"

Abalada por novas acusações de violações durante o conflito em Gaza, a imagem de Israel cai de forma inédita no exterior -onde as alegações de que soldados cometeram "assassinatos a sangue frio" na operação voltaram a resultar em apelos por um tribunal de crimes de guerra da ONU.
Em Israel, porém, a resposta às alegações é contida e defensiva. Embora funcionários do governo tenham prometido investigá-las, ministros insistiram em que não houve nada de errado na conduta do Exército durante a ofensiva de três semanas encerrada em janeiro.
Gabi Ashkenazi, chefe de Estado-Maior das forças de defesa de Israel, foi o primeiro a se pronunciar, alegando que o país tinha "o Exército mais humano do mundo". Para analistas, a alegação reflete o sentimento mais amplo na sociedade.
Tamir Sheafer, professor de ciências políticas na Universidade Hebraica de Jerusalém, diz que as acusações de abusos em larga escala não parecem "ter muito efeito sobre o público". "Durante a guerra já havia relatos sobre muitas vítimas entre civis palestinos. Mesmo então não houve grande resposta do público. A sensação era a de que "eles mereceram"." O entusiasmo e o apoio à guerra em Israel enfraqueceram desde então, mas isso reflete em parte o fato de que a operação não cumpriu seus objetivos. O Hamas, o grupo islâmico que governa Gaza, sobreviveu quase incólume ao conflito, e ataques com foguetes ainda atingem cidades no sul de Israel.

Exército do povo
No entanto, críticas ao Exército propriamente dito continuam raras, a despeito da série de relatórios críticos divulgados nos últimos dias. Na semana passada, jornais israelenses publicaram depoimentos de soldados sobre disparos contra civis desarmados. Anteontem, um relatório de um painel de direitos humanos da ONU trazia alegações como a de que soldados israelenses usaram civis palestinos como escudos humanos.
Alguns comentaristas de esquerda em Israel se uniram às críticas. Em artigo no "Haaretz", Gideon Levy afirmou nesta semana que "as forças de Israel há muito deixaram de ser um Exército de "valores".
Mas essa opinião continua a ser minoritária. Como explica Sheafer, o lugar único que o Exército de Israel ocupa na sociedade torna difícil aos cidadãos do país encará-lo de forma crítica. "As forças de Israel são o Exército do povo.
Todo mundo serve o Exército, todo mundo conhece alguém que está servindo o Exército. Não que os israelenses não creiam nos depoimentos dos soldados, mas acham que se trate de incidentes isolados." A crescente condenação internacional não passou despercebida. Mas a opinião que ganha terreno no país é a de que a situação se deve, sobretudo, a uma falha de relações públicas.


Tradução PAULO MIGLIACCI


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