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DECISÃO POLÊMICA
Ex-ditador chileno só será julgado por crimes ocorridos fora do território britânico após setembro de 88
Justiça limita acusações contra Pinochet
ISABEL CLEMENTE
de Londres
A comissão jurídica da Câmara
dos Lordes, o mais alto tribunal de
Justiça do Reino Unido, decidiu
ontem, por 6 a 1, que o ex-ditador
chileno Augusto Pinochet pode ser
extraditado para a Espanha.
O general, no entanto, só terá de
responder pelos crimes ocorridos
depois de setembro de 88, quando
o Reino Unido incorporou a lei
que admitiu processar pessoas
acusadas de cometer torturas fora
do território britânico.
Ou seja, se o processo de extradição receber sinal verde do ministro
Jack Straw (Interior), tanto os tribunais britânicos como os espanhóis que vão analisar o caso provavelmente só deverão levar em
conta um único crime de tortura,
que resultou na morte de um jovem de 17 anos, em 89, e algumas
acusações de conspirações comandadas por Pinochet até o fim do
seu governo, em 90.
A decisão da Justiça britânica
agradou a partidários e adversários de Pinochet
"O resultado dessa decisão é a
eliminação da maioria das acusações levantadas contra o senador
Pinochet pelo governo espanhol",
disse o lorde Browne-Wilkinson,
que presidiu o painel julgador.
Conforme resumo da sentença
lida por Browne-Wilkinson ao fim
da audiência, Straw terá de analisar se cabe permissão para a continuação dos procedimentos da extradição "com base nas acusações
dramaticamente reduzidas".
Segundo especialistas em leis internacionais, estão igualmente reduzidas as chances de a Justiça espanhola ser bem-sucedida no processo contra Pinochet.
Apesar disso, pinochetistas e exilados chilenos cantaram vitória.
Para os partidários do general, a
restrição às acusações é "o início
do fim" do processo que já dura
cinco meses, desde a detenção de
Pinochet, em outubro.
Já os grupos pró-direitos humanos e vítimas do regime militar de
Pinochet reagiram tão comovidamente quanto da primeira vez em
que os lordes haviam negado imunidade a Pinochet, em novembro
passado.
"Pinochet é um criminoso. O
processo de extradição vai continuar, e nós estamos muito felizes",
disse Ivan Parvex, do Comitê Chileno por Justiça, organização baseada em Londres.
Familiares de desaparecidos durante o regime de Pinochet (1973-90) comemoraram a decisão com
alegria moderada. Manifestantes
de esquerda foram às ruas de Santiago. A polícia deteve 20 pessoas.
Pinochet é responsabilizado pela
morte e pelo desaparecimento de
mais de 3.000 pessoas, de acordo
com levantamentos oficiais.
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