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PINOCHET
Processo de extradição de ex-ditador chileno nos tribunais britânicos pode levar mais de oito anos
Caso ficou enfraquecido, dizem juristas
da "Reuters"
A decisão dos lordes-juristas de
limitar as acusações contra Augusto Pinochet ao período pós-1988
enfraqueceu o caso contra o ex-ditador chileno, disseram especialistas em direito internacional.
"Haverá um longo procedimento até a extradição. Creio que o caso mais longo (na Justiça britânica) durou algo em torno de oito ou
nove anos. É o que podemos ter
agora", disse Jeremy Carver, do escritório Clifford Chance, especializado em direito internacional.
Marc Weller, vice-diretor do
centro de estudos internacionais
da Universidade de Cambridge, no
Reino Unido, disse que a decisão
reduziu bastante as chances de vitória da acusação.
"Um tribunal espanhol terá dificuldade para condenar Pinochet
por crimes cometidos depois de
88, pois eu creio que a grande
maioria dos crimes foi cometido
antes dessa data", disse Weller.
O especialista em direito internacional Monty Raphael disse que a
Justiça espanhola poderia também
rever o caso. "A iniciativa original
da extradição (do juiz espanhol
Baltasar Garzón) teve de ser referendada por um painel de juízes de
Madri. Agora as possibilidades de
acusação foram bem reduzidas. A
Justiça espanhola poderia rever o
caso", disse ele.
Garzón
Assessores de Garzón disseram
ontem que o juiz ficou "razoavelmente satisfeito" com a decisão da
Justiça britânica, apesar de reconhecer que o caso foi limitado.
Para Carver, a sentença dos lordes-juristas significa que qualquer
pessoa envolvida em tortura depois de 1998 -como nos vários
conflitos na ex-Iugoslávia e na
Guerra do Golfo (91)- poderia ser
alvo de processos em outros países. "(A decisão) não está limitada
a chefes de Estado ou ex-chefes de
Estado. Ela pode ser aplicada a
qualquer agente ou funcionário de
um governo", disse o jurista.
Repercussão no Brasil
O professor da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São
Paulo) Fábio Konder Comparato
disse que a decisão britânica se baseia estritamente nas leis do país.
"A Inglaterra simplesmente declara seu respeito às leis", disse o professor.
"Mesmo para os mais positivistas (aqueles que defendem o apego
à norma escrita), a decisão parece
inatacável", afirmou.
O advogado Walter Ceneviva
concorda com o professor Comparato. "Foi uma decisão soberana.
Técnica, não política", diz.
Para Ceneviva, a decisão é irretocável, "seja qual for a opinião que
se tenha sobre o caso".
Colaborou a Redação
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