São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Síria construiu reator nuclear, dizem EUA

Destruída em 2007 por Israel, instalação teve ajuda da Coréia do Norte e tinha objetivos militares, segundo Washington

Acusação surge quando Damasco anuncia tentativa de acordo com israelenses; conversas sobre programa coreano podem retroceder

DA REDAÇÃO

Os EUA acusaram ontem a Síria de haver iniciado a construção de um reator nuclear para propósitos militares com a ajuda tecnológica da Coréia do Norte. O reator foi o alvo, disse Washington, de ataque da Força Aérea israelense em 6 de setembro do ano passado.
"A Coréia do Norte ajudou as atividades nucleares clandestinas da Síria", afirmou em comunicado a porta-voz da Casa Branca Dana Perino, acrescentando que o reator constituía uma iniciativa "perigosa e potencialmente desestabilizadora" para o Oriente Médio.
A construção do reator, segundo disseram sob anonimato alguns membros de alto escalão do governo americano, foi iniciada em 2003 e ele estava "a semanas de ser completado".
A acusação, que vem com pedidos de que Damasco se explique, foi acompanhada da exibição, pela CIA, de imagens de vídeo e satélite a parlamentares americanos, as quais visavam provar a semelhança entre as instalações que foram destruídas e um reator norte-coreano localizado em Yongbyon.
Imad Moustapha, embaixador sírio nos EUA, disse que as acusações "são ridículas". "[No Departamento de Estado] mostraram-me fotos de satélite ridículas de uma construção no deserto sírio que garantiam ser um reator nuclear; eu lhes disse que era absurdo e estúpido".
A natureza da instalação síria destruída por Israel, às margens do Eufrates, no norte do país, sempre esteve envolta em mistério. Damasco chegou a reconhecer que o alvo era um prédio militar, mas nega que abrigasse um reator nuclear.
A demora da Casa Branca em dar detalhes sobre o ataque israelense de sete meses atrás fez surgir especulações sobre sua real intenção.
A acusação à Síria surge no momento em que o ditador do país, Bashar Assad, confirmou que a Turquia tem intermediado negociações para um acordo de paz entre Israel e a Síria. Segundo disse Assad ao jornal turco "Al Watan", essas conversas resultaram em uma oferta de Israel de devolução das colinas do Golã em troca de um tratado de paz com a Síria. Israel, que tomou as colinas na guerra de 1967, recusou-se a comentar a entrevista de Assad.
O premiê israelense, Ehud Olmert, já disse haver passado mensagens para a Síria por meio da Turquia, mas nunca revelou seu conteúdo.
O ditador sírio afirmou que as negociações em curso são iniciais. Segundo Assad, conversações diretas entre seu país e Israel só podem ser conduzidas com a participação dos EUA, mas isso não aconteceria com Bush na casa Branca.
As diferenças entre Damasco e Washington dão-se em razão do apoio sírio ao grupo radical islâmico Hizbollah, que atua no Líbano, e de suposta ajuda síria à insurgência no Iraque. "[A Síria] apóia o terrorismo, tenta desestabilizar o Líbano, permite a passagem de combatentes para o Iraque", afirmou Dana Perino em seu comunicado.

Coréia do Norte
As acusações de Washington devem repercutir também nas negociações nucleares com a Coréia do Norte. Embora Pyongyang esteja desmontando o reator de Yongbyon, uma batalha diplomática tem sido travada, com o envolvimento dos EUA, para que os norte-coreanos providenciem um relatório completo de atividades nucleares. Tal documento, que deveria ser entregue no ano passado, abriria o caminho para que os americanos levantassem sanções contra o país.
Mas os parlamentares vinham pressionando a Casa Banca para que divulgasse informações sobre o suposto perigo nuclear representado pelos norte-coreanos; tais informações subsidiariam a liberação de verba para mais uma rodada das negociações, que envolvem ainda Coréia do Sul, Rússia, China e Japão.
Embora as conversas estejam ameaçadas, um membro do governo americano disse ao "Financial Times" que os norte-coreanos sabiam que as informações viriam a público.


Com agências internacionais e o "Financial Times"


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